(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas M�SICA

S�rie de Luiz Bolognesi p�e abaixo o preconceito contra o funk

'Funk.doc: popular & proibido' investiga a m�sica mais perseguida do Brasil. Diretor fez o seriado para compreender a express�o cultural que empolga as filhas


30/08/2022 04:00 - atualizado 30/08/2022 00:58

Mr. Catra sorri, sentado numa poltrona vermelha
Mr. Catra, pioneiro do "pancad�o" brasileiro, deu entrevista para o seriado pouco antes de morrer de c�ncer, em 2018 (foto: Buriti Filmes/divulga��o)

A s�rie documental “Funk.doc: popular & proibido”, que estreia nesta ter�a-feira (30/8), �s 21h30, no canal HBO e est� dispon�vel na plataforma HBO Max, nasceu da curiosidade e tamb�m de um sentimento amb�guo de seu criador, o cineasta, jornalista e antrop�logo Luiz Bolognesi. Essa dupla motiva��o o levou a um trabalho de aproximadamente sete anos, que mudou sua vis�o sobre o g�nero musical, jogando por terra v�rios preconceitos.

O diretor conta que sempre que ouvia a batida do funk nas r�dios e nas festas o achava muito interessante e envolvente, “mais do que quaisquer outras vertentes da m�sica pop”, destaca. “Ao mesmo tempo, identificava algumas letras explicitamente mis�ginas, machistas, at� ped�filas, com essa hist�ria de ‘vem c�, novinha, senta aqui’ e por a� vai”, aponta.

''Meu m�todo de cinema � o da antropologia, quer dizer, n�o estou ali para dizer o que penso ou acho; quero entender que sentido as coisas fazem para o outro. Ent�o fui fazer perguntas para os agentes dessa express�o cultural. Eles me mostraram que estamos carregados de preconceitos"

Luiz Bolognesi, diretor


'Funkeiras' em casa

Entre o interesse pela batida e a desconfian�a com rela��o ao conte�do das letras, Bolognesi viu a tsunami que se espalhava do Rio de Janeiro para o resto do Brasil invadir sua casa.

“Possivelmente, a motiva��o mais decisiva para fazer a s�rie foi ver minhas filhas, com 12 e 14 anos, come�ando a ouvir funk em casa, no carro, nas festas. Elas, que sempre ouviram MPB e pop, de repente estavam mergulhadas naquilo. Resolvi fazer a s�rie para entender aquela express�o cultural que estava chegando com tanta for�a”, destaca.

Coprodu��o da Buriti Filmes e da Gullane, “Funk.doc: popular & proibido” lan�a, ao longo de seis epis�dios, olhar investigativo sobre o g�nero, por meio de entrevistas realizadas com cerca de 50 personagens. Entre eles h� MCs, DJs, dan�arinos, estudiosos, pesquisadores  e jornalistas.



Desfilam diante das lentes do diretor MC Rebecca, Ludmilla, DJ Renan da Penha, DJ Marlboro, Valesca, MC Carol, Lell�, MC Jo�o, Deize Tigrona, MC Guim�, Buchecha, Tony Tornado,  MC Bin Laden, Menor do Chapa e Mr. Catra, em uma de suas �ltimas entrevistas, concedida tr�s semanas antes de sua morte, em 2018.

“A gente mergulhou em uma pesquisa grande, ao longo de oito meses, e depois passamos um bom tempo filmando. O processo me permitiu entender muita coisa. Meu m�todo de cinema � o da antropologia, quer dizer, n�o estou ali para dizer o que penso ou acho; quero entender que sentido as coisas fazem para o outro. Ent�o fui fazer perguntas para os agentes dessa express�o cultural. Eles me mostraram que estamos carregados de preconceitos”, diz Bolognesi.

Deize Tigrona olha para a câmera
Deize Tigrona leva o olhar feminino sobre sexo para suas letras (foto: Buriti Filmes/divulga��o)

''As m�sicas que as mulheres do funk lan�am chegam aos homens como ve�culos de educa��o sexual, com linguagem direta, levantando demandas femininas na rela��o sexual''

Luiz Bolognesi, diretor

 

Mulheres do funk d�o aula de educa��o sexual

O diretor exemplifica o processo de desconstru��o de algumas opini�es enraizadas citando a quest�o das letras do funk. Bolognesi conta que levou para seus entrevistados – as mulheres, sobretudo – perguntas sobre o teor sexista do funk.

“O que me responderam � que o Brasil � um pa�s mis�gino e machista. � algo que est� no dia a dia das mulheres, no �nibus, nas empresas, dentro de casa, onde o ass�dio e a viol�ncia s�o recorrentes”, aponta.

“O funk faz parte do Brasil, ent�o existe machismo no funk. Isso � uma coisa. Outra coisa � voc� dizer que o funk � machista; isso � preconceito. As m�sicas que as mulheres do funk lan�am chegam aos homens como ve�culos de educa��o sexual, com linguagem direta, levantando demandas femininas na rela��o sexual”, ele ressalta.

O cineasta tamb�m destaca o preconceito que, incialmente, nutria contra o chamado “funk ostenta��o”, que emergiu em S�o Paulo na d�cada passada. MC Guim� e MC Bin Laden, cheios de correntes de ouro, figurando em clipes com carr�es e cercados de mulheres em piscinas de mans�es, lhe pareciam arautos do consumismo f�til.

“Na entrevista que fiz com MC Guim�, ele me dizia que, quando crian�a, n�o tinha dinheiro para comprar um t�nis para sair. Bin Laden falou que o sonho dele era comer sandu�che de mortadela e tomar Coca-Cola. O termo ostentar, para eles, quer dizer o seguinte: eu tenho direito”, aponta.

“Na entrevista que fiz com Kondzilla, ele observa que o funk ostenta��o surge quando o projeto do Lula come�a a dar certo, com as classes populares chegando a um lugar de poder de consumo. Revi minha opini�o. A s�rie mudou meu olhar. Fui entendendo que o funk � v�tima do mesmo preconceito que o samba sofreu entre 1910 e 1920, quando chegaram a criar a Lei da Vadiagem, que permitia prender as pessoas que andavam com um viol�o na rua”, diz.

Para ele, tal preconceito se deve ao fato de o Brasil ser um pa�s racista e classista. “O funk passa por isso porque � m�sica da periferia, mas est� a� h� quase 40 anos, sempre dando a volta por cima, se n�o pelo respeito est�tico e art�stico, pela for�a econ�mica”, diz, destacando a pesquisa realizada h� cinco anos que apontava o g�nero como o mais ouvido pela juventude nas dez maiores cidades do Brasil.

Diretor Luiz Bolognesi olha para o lado
Luiz Bolognesi dirigiu o premiado 'A �ltima floresta', longa sobre a quest�o ind�gena, e � roteirista de "Bicho de sete cabe�as' (foto: Reprodu��o)

''Kondzilla observa que o funk ostenta��o surge quando o projeto do Lula come�a a dar certo, com as classes populares chegando a um lugar de poder de consumo. Revi minha opini�o. A s�rie mudou meu olhar. Fui entendendo que o funk � v�tima do mesmo preconceito que o samba sofreu entre 1910 e 1920''

Luiz Bolognesi, diretor


Funk e resist�ncia popular

“O funk, hoje, � um som hegem�nico, que dita moda. A elite conservadora brasileira n�o aceita, porque � racista, ent�o op�e uma resist�ncia muito forte, mas com a qual o funk aprendeu a lidar, porque � a express�o que vem de um povo que est� resistindo h� mais de 500 anos”, aponta o cineasta. Ele observa que essa resist�ncia se d� mais por infiltra��o do que pelo confronto.

“O funk n�o bate de frente com o sertanejo, por exemplo. O que ele faz? Empresta sua batida para o sertanejo. Hoje voc� tem o funk na m�sica brega, no forr� e at� na m�sica evang�lica”, diz. Sobre a escolha dos entrevistados, ele diz que foi orientada pela pesquisa realizada previamente.

“Acompanhamos desde o surgimento, buscando pessoas que est�o na g�nese do funk, como DJ Marlboro, e fomos estudando quais artistas fizeram e ainda fazem sucesso. Fomos pensando  de forma a ter um panorama o mais abrangente poss�vel. E conforme a pesquisa avan�ava, surgiam novos personagens”, diz Luiz Bolognesi, diretor do premiado “A �ltima floresta” .


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)