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Estado de Minas TELEVIS�O

Isabel Teixeira diz que o Brasil apoia a vontade de mudar de Maria Bruaca

Atriz de 'Pantanal' afirma que empoderamento '� voc� escutar o seu mais secreto cora��o'. E o cora��o de Isabel est� no teatro, na TV e na for�a da palavra


18/09/2022 07:25 - atualizado 18/09/2022 07:28

Isabel Teixeira, de blazer vermelho, olha para a câmera
Isabel Teixeira diz que autores de novela merecem entrar para a Academia Brasileira de Letras (foto: Jorge Bispo/divulga��o)

Com longa e premiada carreira no teatro, a diretora, atriz e dramaturga Isabel Teixeira estreou no universo das novelas h� relativamente pouco tempo, em 2019, como a Thelma de “Amor de m�e” (Globo). Agora no papel de Maria Bruaca no remake de “Pantanal”, ela desfruta de popularidade sem precedentes, na esteira do sucesso da personagem.
 
Nesta entrevista, Isabel fala da experi�ncia na televis�o, comenta a  repercuss�o de Maria Bruaca e conta um pouco de sua trajet�ria no teatro. Filha do cantor e compositor Renato Teixeira, ela ressalta que est� apaixonada pela teledramaturgia, deseja experi�ncia mais intensa no cinema e destaca que a m�sica � algo intr�nseco a seu fazer art�stico, sublinhando que sua rela��o �, antes de mais nada, com a palavra.

O que o sucesso de Maria Bruaca no remake de “Pantanal” representa para voc�?

� complexo. Acho que sucesso � como o seu trabalho ressoa nas pessoas. Por que essa personagem mexeu tanto com tanta gente? Tem v�rias maneiras de responder, mas a que gosto mais �: porque � uma personagem que passa por uma transforma��o que � sublinhada. N�o � uma transforma��o em aquarela, aguada; � uma transforma��o em cores fortes. Acho que isso movimenta as pessoas hoje em dia, essa vontade de mudar. A hist�ria, a narra��o, � exemplar, e isso � da cultura mesmo: conto uma hist�ria para voc� na roda de conversa da nossa aldeia, e essa hist�ria te faz pensar sobre voc� mesmo, sobre como voc� est� vivendo, como funciona sua comunidade. E a� voc� constr�i, com livre arb�trio, sua ideia sobre o que foi dito. A hist�ria deixa tudo meio em aberto, n�o � um panfleto, n�o diz o que � certo e o que � errado. Exemplarmente, � a hist�ria dessa mulher que vive a rela��o abusiva sem ter refer�ncia do que seja isso. A Guta � quem vai dizer para ela que aquilo n�o est� certo, e da� alguma coisa come�a a acontecer na cabe�a da personagem. Depois, tem a falha tr�gica, descobrir que o marido tem outra fam�lia. E ela vai descobrindo a pr�pria sexualidade, que estava ali abafada. A gente estava vendo aquela situa��o e querendo que ela reagisse; come�ou a ter uma torcida para isso.

 Maria Bruaca (Isabel Teixeira) e seu amante Alcides (Juliano Cazarré)
P�blico de 'Pantanal' torceu por Maria Bruaca (Isabel Teixeira), a dona de casa que rompeu regras sociais para se ligar ao amante Alcides (Juliano Cazarr�) (foto: Paulo Belote/Globo)

Como o p�blico feminino tem recebido a sua personagem? Maria Bruaca carrega um subtexto de empoderamento?

Poder � uma palavra muito perigosa, porque isso pode virar soberba, e acho que vira mesmo num determinado momento. No come�o da novela, Maria Bruaca maltratava o Alcides. O sonho do oprimido � ser o opressor. O que acontece com ela � um restauro, � um caminho que ela encontra. A vida que voc� est� vivendo � a que voc� queria ou a que disseram que � para voc� viver? A vida � uma s�, e nunca � tarde para voc� pedir suas contas e come�ar seu pr�prio neg�cio. Isso � empoderamento: � voc� escutar o seu mais secreto cora��o, o que � silencioso e solit�rio. A Bruaca falava que o importante era estar casada. Mas quem disse que isso � importante? Se h� um subtexto de empoderamento, � nesse sentido.

O ass�dio das pessoas na rua aumentou? Como voc� lida com a popularidade?

Costumo dizer que adoro quando a pe�a acaba e vou para o hall do teatro, encontro um amigo, encontro gente que n�o conhe�o, converso com um, com outro. Agora parece que a rua virou o hall de teatro, e eu adoro. Curioso � que as pessoas n�o me reconhecem muito n�o, sabe? Ou s�o muito t�midas. Mas �s vezes reconhecem, e se me param na rua e v�m conversar comigo, dou corda, porque sou meio mineira tamb�m, adoro prosear. De repente, voc� est� andando na rua, a pessoa troca um olhar com voc� e faz uma cara de “ah, que legal”, e a� eu tamb�m fa�o a cara de “ah, que legal”, porque vejo que a comunica��o da personagem com o p�blico acontece. Mas em rela��o ao teatro, esse reconhecimento s� muda na propor��o, porque agora estou falando para muita gente.

As atrizes Georgette Fadel e Isabel Teixeira olham para a câmera
Georgette Fadel e Isabel Teixeira na pe�a 'Rainha (s)' (foto: Roberto Setton/reprodu��o)


Voc� estreou em novelas com “Amor de m�e”, em 2019. O que tem achado da experi�ncia da teledramaturgia?

Estou apaixonada, com a mesma paix�o que senti quando entrei na Escola de Arte Dram�tica, com 19 anos. Estou apaixonada pela velocidade com que as coisas acontecem, pelo fazer junto, porque � muito coletivo. O teatro tamb�m � coletivo, mas aqui � uma aventura, � um programa do MacGyver onde todo mundo � o MacGyver. Estou muito apaixonada pelo jeito como a dire��o � conduzida, pela extens�o da novela, por essa ideia de que n�o vou repetir, vou para a frente, e tamb�m pela forma como a rela��o entre os personagens vai mudando. A partir do momento em que entro pela portaria, j� estou delirando de achar bom, e isso para mim � o sucesso. Quando voc� vive o dia como um dia belo e �til, n�o importando o que voc� fa�a – voc� pode ter um dia belo e �til na sua padaria, se � p�o o que voc� ama fazer –, isso � o sucesso. Eu vivo o sucesso j� h� algum tempo na vida, e agora, de novo, estou vivendo o sucesso, apaixonada por um ve�culo e por um jeito de produzir que tem qualidade, tem excel�ncia. Estou aprendendo muito. A dramaturgia de novela exige muito f�lego. Tenho repetido isso: acho que autor de novela tinha de estar na Academia Brasileira de Letras. Estou apaixonada pela teledramaturgia, sim, e quero estudar muito isso, que vem de longe, vem do melodrama. Balzac escrevia novela no jornal, Dostoievski tamb�m, quer dizer, tem tradi��o e � popular, � para todo mundo, ent�o estou amando.

''N�o me considero atriz, porque essa denomina��o leva � ideia de um jeito de trabalhar no mercado. (...) N�o me movimento a partir do mercado, me movimento a partir de dentro, do que chamo de ateli� �ntimo''

Isabel Teixeira, atriz


Voc� come�ou a atuar no teatro ainda crian�a. J� sabia ou intu�a que seria atriz?

N�o, inclusive n�o me considero atriz, porque essa denomina��o leva � ideia de um jeito de trabalhar no mercado. Em qualquer profiss�o voc� aprende o jeito de se inserir no mundo exercendo aquele of�cio. Eu n�o me movimento a partir do mercado, me movimento a partir de dentro, do que chamo de ateli� �ntimo. Minha rela��o sempre foi com a palavra, com o que me movimenta, me deixa viva, ent�o isso n�o � s� o teatro, isso foram as artes pl�sticas, isso � a escrita. Inventei muitas vezes um mercado para habitar. Quando fiz “Rainha(s), duas atrizes em busca de um cora��o”, com dire��o de Cibele Forjaz, fui ser produtora, porque n�o ia pedir para ningu�m e nem ficar esperando para fazer a pe�a. Se o teatro acabar um dia, vou continuar trabalhando, porque ele � um ve�culo, como a TV � um ve�culo, como o livro � um ve�culo – tenho uma editora, inclusive. Tenho um monte projetos nas gavetas. Eu me pergunto o que quero fazer, n�o espero que me chamem.

Ao longo de mais de tr�s d�cadas de teatro, h� algum espet�culo ou momento particularmente marcante?

Todos. N�o estou brincando. Todos, justamente pensando na resposta anterior, porque todos os trabalhos partem de uma coer�ncia muito �ntima minha. Eu sou porosa, escuto muito o acaso. Fiz umas 30 pe�as como atriz, diretora ou dramaturga, e todas tiveram import�ncia dentro desse conjunto. Quando fiz “Rainha(s)”, tinha 34 anos, e foi muito importante para mim, em termos de descobertas, de escrita; s�o coisas que trago comigo at� hoje. Descobri muita coisa nessa pe�a, mas a� tamb�m fiz “A gaivota”, de Tchekhov, com dire��o do Enrique Diaz. Com essa pe�a, que rodou o mundo, me dei conta de que nunca tinha sa�do do Brasil como turista, sempre foi a trabalho. Conheci o mundo pela plateia que vinha ver os espet�culos, e isso � lindo, � minha vida. Sou muito orgulhosa disso. Todas as pe�as que fiz s�o muito importantes para mim, mesmo as pequenas, como “Objeto-confer�ncia para invent�rio inacabado”, tamb�m sob dire��o da Cibele Forjaz – fizemos em uma garagem, era s� eu em cena.

Atriz Isabel Teixeira consola Adriana Esteves, aos prantos, em cena da novela Amor de mãe
Em sua estreia em novelas, Isabel Teixeira contracena com Adriana Esteves em "Amor de m�e", fazendo o papel da m�dica Jane (foto: Globo/divulga��o)
 
Das fun��es que voc� exerce no teatro – dirigir, escrever, atuar –, alguma d� mais prazer?

� o texto. Fa�o a novela prestando aten��o no texto. Meu lance � a palavra. Se me perguntar o que sou, respondo que sou uma escritora de di�rios, e o di�rio pode ir para v�rias plataformas.

''Estou apaixonada pela teledramaturgia, que vem de longe, vem do melodrama. Balzac escrevia novela no jornal''l

Isabel Teixeira, atriz


Voc� vem de fam�lia de m�sicos e dirigiu alguns espet�culos musicais, com Z�lia Duncan, por exemplo. Qual � a sua rela��o com a m�sica?

Dirigir shows � uma coisa que amo fazer. E a Z�lia tamb�m � escritora, � uma poeta incr�vel, acabou de lan�ar o livro “Benditas coisas que eu n�o sei”, ent�o trabalhar com ela � trabalhar na dramaturgia do show. � a palavra que leva o show. O fato de ser filha de m�sico faz com que eu fique antenada nisso, a despeito de n�o ter convivido muito com minha fam�lia de m�sicos. Convivi mais com minha m�e, que era atriz, mas a m�sica est� na raiz. Toco viol�o, piano, flauta transversal, canto, mas n�o sou musicista, isso faz parte da minha vida. Villa-Lobos tinha a utopia de que a m�sica fizesse parte da vida de todo mundo, que fosse ensinada nas escolas. Dirigir show � uma coisa que entendi que tinha facilidade para fazer. Sei a afina��o do viol�o de ouvido, sei o som dos intervalos entre as cordas.

Voc� tem no curr�culo algumas atua��es no cinema. Entre televis�o, teatro e cinema, h� uma prefer�ncia?

Cinema, considero que n�o fiz ainda. Esse sentimento aumentou a partir do conv�vio com Dira Paes; ela viveu o cinema, a escrita dela foi pelo cinema. Quero vivenciar isso tamb�m, essa imers�o. � uma �rea que n�o explorei, mas gostaria muito.

Voc� vai interpretar Mar�lia Mendon�a no cinema?

N�o. Isso sai direto na m�dia, toda semana. Acho uma coisa t�o interessante, porque nunca fui sondada para fazer, mas tem a� uma quest�o muito louca: Mar�lia Mendon�a morreu com 26 ou 27 anos, eu tenho 48, ent�o seria o qu�? A vida que ela n�o viveu? Como contar a hist�ria de uma pessoa real bem mais nova do que eu? Amaria fazer, mas como seria isso? Eu, mais velha, fazendo ela mais jovem e tudo bem? Acho instigante, mas n�o estou sabendo que vou fazer n�o. S� vejo as not�cias por a�.


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