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Estado de Minas MERCADO CINEMATOGR�FICO

No p�s-pandemia, as salas de cinema enfrentam a tempestade perfeita

Hesita��o do p�blico, concorr�ncia dos servi�os de streaming e falta de pol�tica p�blica para o setor provocam uma crise de ponta a ponta no mercado


01/10/2022 04:00 - atualizado 01/10/2022 07:03

Homem-Aranha em seu traje típico, agachado e com os braços abertos está sobre um prédio. Ao fundo, vê-se a cidade
Quando lan�amentos como "Homem Aranha" ocupam quase todo o parque exibidor do pa�s, os outros t�tulos t�m suas chances de bilheteria esmagadas (foto: Marvel/Divulga��o)

No caminho do cinema existem v�rios obst�culos, pelo menos desde a pandemia. N�o � dif�cil enumerar. Um deles � a concorr�ncia das salas com o streaming. Outro � o abandono das salas pelo p�blico por medo de ficar em lugares fechados, mesmo ap�s o fim da pandemia. O terceiro � o fim de janelas de exibi��o, como o DVD. O quarto � o pre�o dos bilhetes de cinema. O quinto � a dificuldade de encontrar informa��o sobre os filmes em cartaz.

Essa � uma situa��o que atinge quase o mundo inteiro, cada um com suas particularidades. "Vivemos um momento de reestrutura��o completa do neg�cio", resume Pedro Butcher, cr�tico e professor de cinema na Escola Superior de Propaganda e Marketing do Rio de Janeiro.

Este � um dos raros momentos, desde o surgimento do cinema, em que todos os segmentos do audiovisual, da produ��o � exibi��o, enfrentam ao mesmo tempo uma situa��o de crise. � em fun��o disso que o CineBH, realizado em Belo Horizonte todos os anos, montou em sua 16ª edi��o, realizada entre 20 e 25 de setembro �ltimos, um painel com diversas mesas de debate em torno da quest�o.

� verdade que entre os expositores faltou algum representante das grandes empresas distribuidoras. Pois, como chamou a aten��o o cr�tico Marcelo Miranda, temos tido nos �ltimos tempos momentos em que um novo filme do Homem-Aranha � capaz de ocupar quase todo o parque exibidor brasileiro.

Mesmo esse fen�meno n�o � t�o simples. Por um lado, ele acontece em fun��o de o p�blico juvenil ser aquele que j� voltou a frequentar as salas. Ao mesmo tempo, por�m, faltam outros filmes para dividir a aten��o entre os candidatos a grande bilheteria.

Ator e atriz de Drive my car, ele de pé, ela sentada dentro de um carro vermelho. Ao fundo está o mar
O2 e Mubi firmaram um acordo que permitiu o lan�amento de filmes como Drive my car nas salas brasileiras, antes de chegar ao servi�o de streaming (foto: Mubi/divulga��o)

Reorganiza��o

Esse � um setor, ali�s, em que os brasileiros deixaram de concorrer desde, pelo menos, 2019, o que imp�e uma quest�o. O que seria necess�rio para que voltem neste momento de reorganiza��o do neg�cio do audiovisual?

Segundo Butcher, h� dois fatores essenciais. "Uma nova ordena��o do mercado associada a uma pol�tica p�blica para o setor." � tudo o que n�o temos. Por regula��o do mercado entendamos, primeiro, cota de tela para filmes brasileiros e, segundo, regula��o dos canais de streaming, criando, entre outros, uma cota de produ��o local bancada pelos canais.

Na perspectiva de Butcher, ainda n�o existe uma perfeita compreens�o do que sejam os canais de streaming, ou seja, � preciso ver essas companhias menos como empresas exibidoras (ou mesmo produtoras) de audiovisual do que grupos interessados em "orientar as tend�ncias do mercado".

Atores Carlos Francisco e Rejane Faria estão sentados à mesa e olham para o lado em cena do filme Marte Um
A escolha de 'Marte um' para representar o Brasil no Oscar fez o filme caminhar na contracorrente e expandir seu circuito ap�s a estreia, uma exce��o na carreira de longas (foto: Emba�ba Filmes/Divulga��o)

Informa��o

Trocando em mi�dos, cada vez que damos um clique, conectamos alguma s�rie ou fazemos um "like" estamos oferecendo informa��o a esses grupos. E essa informa��o � mais preciosa, acredita Butcher, do que a assinatura de um streaming.

Ele exemplifica que quando o Amazon concede aos seus assinantes o direito de encomendar produtos sem pagamento de frete, j� n�o se sabe mais o que � essencial no neg�cio – que os filmes da sua plataforma de streaming sejam vistos ou que o assinante encomende outros produtos � companhia. "A empresas como Netflix, Apple e Amazon interessa descobrir o comportamento do consumidor."

A ser verdadeiro o racioc�nio – e Butcher � um estudioso do assunto, tendo produzido uma important�ssima tese sobre a rela��o entre a ind�stria dos Estados Unidos e o cinema brasileiro no come�o do s�culo –, podemos esperar um mundo totalmente controlado por essas grandes corpora��es.

Alguns movimentos nessa dire��o j� s�o, a rigor, detect�veis – a desvaloriza��o do trabalho cr�tico (tudo o que retira o espectador da condi��o estrita de consumidor de um produto), que come�a antes dos streamings, e o apagamento da hist�ria do cinema (o audiovisual passando a ser visto como objeto de um presente perp�tuo).

Acordo

Nesse quadro, e mesmo sem a presen�a de representantes dos grandes est�dios, existem quest�es diferentes a propor. L�dia Damatto, da O2 Play, por exemplo, equacionou parte de seus problemas gra�as a um acordo com o streaming Mubi.

Isto �, o streaming consente que a O2 Play exiba os seus filmes em salas, antes mesmo do lan�amento na plataforma, o que j� aconteceu com os longas "Crimes do futuro", de David Cronenberg, que havia acabado de ser exibido no Festival de Cannes, e "Drive my car", de Ryusuke Hamaguchi, ganhador de um Oscar.

� uma maneira de manter filmes autorais no circuito de salas, num mundo que se transforma febrilmente sob o impacto das novas tecnologias, mas mant�m desde 1948, basicamente, a mesma legisla��o (1948 foi o momento em que a lei antitruste nos Estados Unidos obrigou os grandes est�dios a se desfazerem de suas salas de exibi��o).

Na mesma dire��o vai Cosimo Santoro, distribuidor internacional, apenas com uma observa��o pessimista a mais. "Nos �ltimos anos, n�o h� mais um interesse especial pelo Brasil na Europa." Nessa altura, Butcher lembrou que uma das raz�es desse fen�meno � o fato de que hoje h� "muito mais coisas feitas do que o mercado pode absorver".

Exce��o 

Problema que sente na carne Daniel Queiroz, distribuidor da Emba�ba Filmes, cujas produ��es s�o sempre autorais e quase sempre rejeitadas pelos grandes exibidores. Uma exce��o se abre para ele, agora, com "Marte um".

Lan�ado em 34 salas (no Brasil, existem cerca de 3 mil), o filme pulou para 80 telas em sua terceira semana em cartaz. O p�blico cresceu, j� mais que dobrou os n�meros do maior sucesso da distribuidora at� aqui ("Ar�bia", que ganhou o Festival de Bras�lia de 2017 e quase todos os grandes pr�mios disputados no Brasil, al�m de alguns no exterior).

No caso de "Marte um", existe o efeito da indica��o do filme como representante brasileiro ao Oscar, determinante para o aumento do n�mero de salas e mesmo de p�blico. Para os pr�ximos filmes, sem Oscar ou algo similar no caminho, Queiroz voltar� a seu alvo anterior – 10 mil espectadores em salas. E depois? Depois, talvez, os frequentadores do streaming da sua pr�pria distribuidora.

Situa��o dif�cil? Sem d�vida. Mas, como lembra Santoro, n�o mais complicada do que a dos investidores que compraram a��es da Netflix na pandemia e, agora, viram seu valor desabar 70%.

Entre imprevistos do mundo (pandemia), transforma��es tecnol�gicas cont�nuas e a completa aus�ncia de regulamenta��o das atividades do streaming no Brasil, distribuidores e produtores audiovisuais que foram ao CineBH este ano se veem diante de um futuro incerto para a atividade no Brasil. Incerto, mas n�o necessariamente sombrio.

Embora todos vejam o pa�s como dependente de tecnologias criadas no exterior, acreditam na possibilidade de uma regula��o que amenize as incertezas e permita a conviv�ncia das salas de cinema (sim, algumas empresas j� come�am a abandonar o mercado) com os servi�os de streaming e televis�o. 


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