
Mariana Peixoto
O momento � de catarse, de encontro do artista com seu p�blico. Tanto por isso, Adriana Calcanhotto est� relendo, no palco, sua trajet�ria de mais de 30 anos em disco, em seu mais recente show. � para cantar junto, “recuperar o tempo perdido”, diz a cantora e compositora ga�cha, que se apresenta nesta sexta-feira (14/10), �s 21h, no Sesc Palladium.
Sozinha com seu viol�o, Adriana desfia can��es recentes, algumas do �lbum “S�” (2020), e outras bem antigas, que voltaram com tudo durante a pandemia, como “Esquadros” (1992). “Pela janela do carro, pela tela, pela janela/quem � ela, quem � ela/eu vejo tudo enquadrado/remoto controle.”
“Tenho visto algumas can��es que o p�blico tem gostado. ‘Senhas’ (outra da safra de 1992) ficou quieta durante um tempo, e as pessoas t�m pedido muito. Parece que a letra diz coisas de novo”, afirma Adriana, que completou no in�cio deste m�s 57 anos. O formato enxuto vem sendo apresentado por ela desde as lives realizadas durante a crise sanit�ria.
“Costumo intercalar os dois formatos (solo e banda). Mas quando estou eu e meu viol�o, me apresento do jeito que componho, gosto muito. E neste momento de voltar a cantar as m�sicas conhecidas, o formato se adapta muito bem. Consigo ter mais liberdade”, comenta.
As can��es, diz ela, nascem geralmente juntas, letra e m�sica. “Cada uma pede uma coisa, mas � no viol�o onde come�o a trabalhar”, conta. N�o h� uma regularidade – neste momento, em turn�, ela n�o tem escrito m�sicas –, mas, na pandemia, Adriana buscou manter um m�todo. “Eu acordava, eu dizia: ‘Vou fazer uma can��o’”.
Resid�ncia art�stica na sala de aula
Sua produ��o po�tica virou a cadeira Como escrever can��es na Universidade de Coimbra, em Portugal, institui��o em que ela atua desde 2015. “� uma experi�ncia v�lida e rica, pois amadureceu a minha rela��o com a composi��o musical.” Como professora convidada, ela vem atuando em outros setores da universidade, como os centros de estudos sociais e de arqueologia.
“Estas temporadas s�o um tipo de resid�ncia art�stica”, diz Adriana, que voltou recentemente de uma turn� pela Europa e Estados Unidos. Nos shows, aqui e fora, n�o tem faltado um dos singles mais recentes dela, “2 de junho”, que traduziu a indigna��o do pa�s frente � morte do menino Miguel.
Em 2 de junho de 2020, o garoto pernambucano de 5 anos morreu ao cair do 9º andar do edif�cio onde sua m�e trabalhava como dom�stica. A morte foi resultado da neglig�ncia da patroa da m�e do menino.
“Eu nunca tinha feito uma can��o sobre um determinado evento, ainda que tenha algumas sobre mazelas sociais, mas com letras mais distanciadas e plurais. Como pessoa, n�o consegui assimilar esse epis�dio. Na hora em que canto, espero que o p�blico tenha a mesma sensa��o.”
Ainda que a can��o, de forte teor social, denuncie o racismo e o descaso das classes dominantes, Adriana tem se furtado a se manifestar politicamente nas apresenta��es. “Acho que o momento do show � dele. Mas sempre me posicionei na minha vida. E fico esperando, feliz, manifesta��es da plateia”, diz.
ADRIANA CALCANHOTTO
Show nesta sexta (14/10), �s 21h, no Sesc Palladium – Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro. Ingressos: Plateia 1 – R$ 150 e R$ 75 (meia); Plateia 2 – R$ 130 e R$ 65 (meia); Plateia 3 – R$ 100 e R$ 50 (meia). � venda na bilheteria e no sympla.com.br