Novo disco de Djonga bomba no Twitter logo ap�s o lan�amento, nesta quinta
"O dono do lugar" fala de machismo, dilemas dos homens pretos, amor e ind�stria cultural. Rapper foi � Pra�a Sete divulgar a novidade e levou a fam�lia
14/10/2022 04:00
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atualizado 14/10/2022 21:05
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Lucas Lanna Resende e �ngela Faria
Djonga, com a filha ca�ula Iolanda, no moinho que mandou instalar na Pra�a Sete para divulgar seu novo �lbum (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
�s cinco e meia da manh� de quinta-feira (13/10), rapazes pararam a caminhonete na Avenida Afonso Pena, na altura da Pra�a Sete, Centro de BH. O trambolh�o de cerca de 4m de altura desembarcou no quarteir�o fechado da Rua Rio de Janeiro. E ficou l�. A “carga” era a r�plica de um moinho de vento, com a seguinte picha��o: “O dono do lugar!”.
No m�nimo inusual, aquele moinho atraiu a curiosidade das pessoas. Intrigadas, elas paravam, olhavam com calma, tiravam fotos. O Estado de Minas publicou em suas redes sociais: “Viu o moinho na Pra�a Sete?”. O locutor de uma r�dio anunciou: “Pra�a Sete amanhece com novo s�mbolo”.
O mist�rio acabou � tarde. Era uma a��o do rapper Djonga para divulgar o lan�amento de seu disco com 12 faixas in�ditas, cujo nome � justamente “O dono do lugar”.
Horas depois, no in�cio da noite, o �lbum do belo-horizontino chegou �s plataformas Spotify, Apple Music, Tidal e Deezer. O disco logo ficou entre os temas mais comentados do Twitter, como tem ocorrido com lan�amentos de Djonga, desde 2017.
Nesses cinco anos, v�rias de suas can��es viralizaram, entre elas "Olho de tigre" (aquela do refr�o "fogo nos racista", sic) e "Leal". Djonga comemorou a boa recep��o dos internautas e f�s no Twitter e no Spotify � sua "luta contra os moinhos de vento, inimigos maiores do que eu."
OU�A o novo �lbum de Djonga:
O rapper n�o se contentou apenas em levar a r�plica do moinho para a Pra�a Sete. Criada por Andr� Martins, do Grupo Giramundo, a instala��o remete � capa do disco. Djonga foi para l� l� com a m�e, Ros�ngela, a mulher, Malu, e os filhos Jorge e Iolanda. Tirou fotos com f�s, bateu papo e at� cortou cabelo em um sal�o nos arredores.
“A Pra�a Sete � um point de Belo Horizonte. � onde eu sempre vinha fazer rap e colar com o pessoal”, afirmou Djonga. “Teve uma �poca em que as batalhas de rimas eram aqui. Ent�o, eu sempre colava”, emendou.
Dom Quixote
O moinho � refer�ncia ao c�lebre livro de Miguel de Cervantes (1547-1616), “Dom Quixote”. Apresentada ao p�blico pela primeira vez durante o show do rapper no Planeta Brasil, no Mineir�o, a r�plica remete aos moinhos de Consuegra, na Espanha, inspira��o para o escritor.
Na capa do �lbum, Djonga est� diante dos moinhos espanh�is, prestes a lan�ar um coquetel molotov, mas � retido por duas mulheres negras. Viajou para l� recentemente, aproveitando brecha na agenda de shows em Portugal.
Capa do disco foi fotografada na Espanha, junto aos verdadeiros moinhos de Dom Quixote (foto: Conuiiin/divulga��o)
No romance sat�rico, os moinhos assumem, na cabe�a doentia de Dom Quixote, o formato de perigosos gigantes. No disco de Djonga, eles fazem analogia com a loucura que se instalou no Brasil.
Desde 2017, o m�sico lan�a discos no dia 13 de mar�o. Mudou o roteiro para a v�spera do segundo turno das elei��es para presidente. Na Pra�a Sete, Djonga evitou falar da disputa Luiz In�cio Lula da Silva versus Jair Bolsonaro. Nas redes sociais, j� manifestou voto em Lula. Recentemente, disse que o 13, antes de tudo, tamb�m � o n�mero de seu querido Galo.
O rapper espera que o novo �lbum traga reflex�es sobre “o mundo que a gente est� vivendo, os porqu�s que a gente est� vivendo este mundo, este momento pol�tico”.
O rapper Djonga com a m�e, Ros�ngela, que est� na linha de frente do selo "A Quadrilha", foram � Pra�a Sete divulgar o disco lan�ado pela empresa (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Um novo ciclo. Assim ele define a atual fase de sua vida e da carreira. Ficou para tr�s o clima “depr�” do �ltimo disco, “Nu”, lan�ado em plena pandemia. Djonga confessa que nem o ouve, por causa da tristeza daquele momento.
As novas letras falam n�o s� da masculinidade do homem preto, ensinado desde pequeno a reagir com viol�ncia ao mundo e ao racismo, mas da for�a das mulheres e da opress�o da ind�stria da cultura. O preconceito � tema da obra de Djonga desde sempre.
Esta semana, em coletiva realizada em S�o Paulo, o m�sico relacionou o machismo e a vis�o distorcida da masculinidade ao avan�o do bolsonarismo. Comentou ter f�s que apoiam o presidente, na contram�o de tudo o que dizem suas letras. Quer dialogar com eles sobre quest�es caras � sua gera��o.
Rapper fez a alegria dos f�s que passavam pela Pra�a Sete na tarde de quinta-feira (13/10) (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Som do real
“Isso aqui n�o � o som de milh�es, � o som do real”, manda Djonga j� na primeira frase de “t�bem”, can��o que abre o �lbum. “Tu nasceu na nata, quer falar de luta/ A diferen�a � que aqui em casa � minha mina que fala”, emenda.
Na faixa seguinte, “dom quixote”, Djonga emula o esp�rito “cervantesco”, deixando claro que luta contra o poderoso sistema chamado ind�stria cultural.
“Essas rimas que n�o vendem mais me deram carro/ Essas rimas que n�o vendem mais me deram roupas”, canta. “V�, nossos irm�os, o que fizeram com Nego do Borel/ De longe � bonito, maninha, igual aurora boreal/ � que insist�ncia traz consist�ncia nem exig�ncia consigo mesmo”, continua.
Recentemente, ele afirmou que cantores podem ganhar fortunas, mas n�o passam de meros empregados dos donos dos “meios de produ��o”, das empresas que comandam o mercado mundial da m�sica – sobretudo no complexo universo da internet –, que criam e derrubam �dolos com velocidade impressionante.
A meta � tamb�m ser o dono, afirma Djonga. Ele tem dito que n�o pretende ser ref�m da exig�ncia de “quebrar a internet”. Se isso acontecer, �timo. “Quero � fazer a minha m�sica”, refor�a, questionando a ditadura "dos trends".
As cr�ticas seguem nas faixas “conversa com uma menina branca”, “a cor p�rpura” e “em quase tudo”. Na primeira, ele faz paralelo entre agruras vividas por mulheres brancas e negras. “Em uma conversa com uma menina branca/ela diz que odeia as cantada no bus�o/ � nojento eles passam a m�o (...)”, diz, observando que esta garota n�o anda mais de �nibus.
“E a mo�a da �rea que foi abusada no bus�o/ Enquanto o caso ainda t� em apura��o/ ainda � cobradora no bus�o”, rima a seguir, mostrando a diferen�a que existe por causa da cor da pele.
Na faixa “em quase tudo”, ele aborda o comportamento machista dos homens. “Mais uma mulher que eu vou trair de novo/ alegando ter tido uma cria��o escrota/ Outra rela��o que estraguei tranquilo”, ironiza.
Andr� Martins, do Grupo Giramundo, criou a instala��o com o moinho (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Masculinidade
“No disco, trago muito a quest�o da constru��o dessa masculinidade, o jeito como ela � constru�da. � masculinidade que, �s vezes, eu mesmo compartilho em atos. Acho que n�o s� eu, mas todos n�s”, destaca.
Embora “O dono do lugar” seja recheado de cr�ticas sociais, faixas tratam do amor – tema forte na carreira do mineiro. Em “contatin”, Djonga conta a hist�ria de um casal.
O novo �lbum, mais mel�dico, � lan�ado pelo selo do rapper, A Quadrilha, empresa dele que funciona em BH e se prop�e a lutar por espa�o para jovens artistas.
As mulheres s�o “90% da firma”, diz. Orgulhoso, conta que � “cria” do matriarcado – mulheres comandam sua fam�lia. A come�ar da av�, dona Maria Eni, que ele costuma levar para o palco em alguns shows.
O disco traz 12 faixas in�ditas com participa��es de Oruam, Tasha e Tracie, Sarah Guedes, Vulgo FK, Doug Now, Rapaz do Dread, Filiph Neo, Dallass, Honaiser.
Com beats de Coyote Beatz, velho parceiro, o �lbum tem forte presen�a do tecladista, guitarrista e baixista Thiago Braga.
"O dono do lugar" chega depois de “Heresia” (2017), “O menino que queria ser Deus” (2018), “Ladr�o” (2019), “Hist�rias da minha �rea!” (2020) e “Nu” (2021), �lbuns que colocaram o mineiro no topo do rap nacional.
(foto: A Quadrilha/reprodu��o)
“O DONO DO LUGAR”
. �lbum de Djonga
. 12 faixas
. A Quadrilha
. Dispon�vel nas plataformas musicais.
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