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Estado de Minas ARTES C�NICAS

Olavo Romano comanda o sarau 'Causos m�dicos' neste fim de semana em BH

Escritor Olavo recebe convidados que atuam na medicina para tratar com humor dos assuntos da �rea, neste s�bado (15/10) e no domingo (16/10), no Teatro Feluma


15/10/2022 04:00 - atualizado 14/10/2022 21:29

De camisa cinza, suspensórios e óculos de aros escuros, Olavo Romano sorri para a câmera
O escritor e membro da AML Olavo Romano espera que o projeto impulsione a publica��o de um livro de contos (foto: Jo�o Pedro Renan/Divulga��o)
Daniel Barbosa

Pesquisador da literatura oral e de casos da cultura de Minas Gerais, o escritor Olavo Romano diz gostar muito do formato sarau. Neste s�bado (15/10) e no domingo (16/10), ele prop�e mais um, criado a partir de conversas com o m�dico e teatr�logo Jair Raso, que coordena e � curador do Teatro Feluma – local que vai abrigar as apresenta��es, batizadas como “Causos m�dicos”.

O foco s�o causos que tratam da rela��o entre m�dicos e pacientes. A ideia � que profissionais da sa�de especialmente convidados revirem seus ba�s da mem�ria e fa�am uma abordagem bem-humorada de experi�ncias que vivenciaram. Romano explica que vai atuar como um mestre de cerim�nias, acompanhado da dupla Celinha e Lu Braga, que apresentar� n�meros musicais entre um e outro causo.

O sarau musical foi pensado para celebrar a Semana do M�dico, que neste ano ocorre a partir da pr�xima ter�a (18/10), com uma s�rie de atividades programadas para os profissionais da �rea. A Unimed-BH � patrocinadora do evento e vai distribuir gratuitamente 200 ingressos, em cada dia de apresenta��o, para m�dicos interessados em participar.

Animador do sarau

Romano destaca que participar, no caso, � uma palavra bem mais adequada do que simplesmente comparecer. “A fonte dos causos que ser�o contados s�o os pr�prios m�dicos que estiverem presentes. Eu vou atuar como o animador do sarau. Tenho a minha pr�pria cole��o de causos m�dicos, assim como tenho de advogados, de engenheiros e de outras profiss�es, mas n�o vamos nos ater a eles; meu papel � animar a plateia a participar”, diz.

Ele observa que o fato de Jair Raso ser da �rea m�dica vai contribuir para uma presen�a expressiva desses profissionais. “Essa ideia nasceu de uma conversa com ele, e nosso desejo � mobilizar a categoria, fazer um grande congra�amento em duas noites muito animadas. Estou ali presente, mas n�o quero ser o centro das aten��es”, diz. Ele pontua que o sarau n�o � exclusivo para m�dicos; qualquer pessoa que queira acompanhar a apresenta��o e contribuir com seu pr�prio causo � bem-vinda.

A presen�a de Lu Braga e Celinha soma no sentido de tornar o encontro mais festivo. Romano ressalta que as cantoras s�o suas amigas h� mais de 20 anos e que j� se apresentaram nesse formato em diversas outras ocasi�es. “� sempre um prazer estar com elas. Nos intervalos entre um convidado e outro, elas levam uma alegria enorme � plateia com seu canto”, comenta.
 

''Essa ideia de falar com humor da morte � antiga. Eu tinha, com o Ronaldo Sim�es Coelho e mais um grupo grande de escritores, essa pr�tica de sair por a� contando causos. Fizemos o livro 'Nas �ltimas', s� falando de morte. � um assunto que rende coisas interessantes, curiosas e at� mesmo divertidas''

Olavo Romano, escritor

 

Publica��o de livro

Ele acredita que muitas hist�rias saborosas podem vir � tona e revela que seu desejo, a partir deste sarau, � publicar em livro uma cole��o de causos m�dicos. A ideia � seguir recebendo contribui��es desses profissionais, mesmo depois de passado o evento. “Acho que os m�dicos t�m um lugar privilegiado, porque entram na casa das pessoas, t�m a confian�a delas, testemunham muitas coisas ricas”, afirma.

Sobre o formato da apresenta��o, ele brinca com a designa��o dada por Jair Raso. “Ele fala em espet�culo e eu digo que isso � muito otimismo, porque voc� s� sabe se foi um espet�culo depois de ter acontecido. Mas se eu conseguir animar as pessoas com isso que estou chamando de um sarau musical, que subentende a reuni�o de pessoas amigas, que se soltam e se divertem, vou achar que a miss�o foi muito bem cumprida. Nesses tempos sombrios que a gente vive, acho muito bonito poder ter duas noites de congra�amento”, salienta.

O humor � um elemento presente em praticamente toda a obra de Romano, que contabiliza 20 t�tulos – boa parte com foco nos costumes da mineiridade. Seu primeiro livro publicado, “Casos de Minas”, de 1982, e outros t�tulos, como “Minas e seus casos” (1984), “Dedo de prosa” (1986) e “Os mundos daquele tempo” (1988), t�m esse vi�s. Falar em causos m�dicos, no entanto, implica falar de doen�as. Como aplicar o verniz do humor ao tema, sobretudo ap�s um longo per�odo de pandemia?
 
“Essa ideia de falar com humor da morte � antiga. Eu tinha, com o Ronaldo Sim�es Coelho e mais um grupo grande de escritores, essa pr�tica de sair por a� contando causos. Fizemos o livro ‘Nas �ltimas’, s� falando de morte. � um assunto que rende coisas interessantes, curiosas e at� mesmo divertidas”, aponta.

Ele acredita que falar de morte �, tamb�m, uma forma de celebrar a vida. “Estamos saindo da pandemia, pondo a cara � luz do dia novamente, reaprendendo a conviver. At� anteontem, est�vamos saindo �s ruas sem m�scara e achando esquisito. � um privil�gio respirar o mesmo ar sem medo. A ideia desse sarau � mais falar das rela��es entre m�dicos e pacientes do que falar de doen�a”, sublinha.

O sarau musical deste fim de semana �, no entendimento de Romano, praticamente uma “a��o entre amigos”, posto que � fruto de uma rede de colabora��es. Ele conta que, a partir da proposta feita por Jair Raso, a Unimed-BH imediatamente abra�ou o projeto. A cooperativa m�dica � tamb�m apoiadora do Teatro Feluma e da Academia Mineira de Letras, da qual o escritor j� foi presidente, e que tamb�m entra como parceira na realiza��o do evento.

M�dicos escritores

“� um movimento de conclama��o, porque vale a pena. Essa distribui��o gratuita de ingressos corresponde � metade da lota��o do teatro em cada noite. Tem os meus convidados pessoais e tamb�m os do Jair, que � para garantir uma participa��o m�nima. A quantidade de m�dicos escritores � muito grande, v�rios est�o sendo chamados. Tenho amigos da �rea que t�m oito livros escritos. Queremos que esse est�mulo para buscar na mem�ria casos curiosos se espalhe pela plateia”, ressalta.

O livro resultante dessa cole��o de causos m�dicos que Romano projeta j� tem pelo menos um canal de publica��o garantido: a Caravana Grupo Editorial, na qual ele tem atuado como editor s�nior ao longo dos �ltimos anos. O escritor destaca que, apesar de n�o ter uma sede pr�pria em Belo Horizonte, a editora tem feito um intenso trabalho no sentido de trazer � luz novas obras de autores iniciantes e veteranos.

“A Caravana � um projeto que parece um pouco com ‘A casa’ do Vinicius de Moraes, n�o tem parede, n�o tem teto, n�o tem nada”, diz, explicando que cada colaborador atua do seu pr�prio local de trabalho. “Come�amos a trabalhar antes da chegada da pandemia e j� lan�amos 500 autores, entre nomes conhecidos, que j� ganharam premia��es prestigiosas, e gente que est� come�ando a escrever agora. � uma coisa bastante expressiva”, diz.

''Tenho a mem�ria de duas ditaduras, a do Estado Novo e a que se instaurou ap�s o golpe militar de 1964, durante a qual perdi muitos amigos queridos. Ando preocupado de ver o Brasil dividido desse jeito, com essa cis�o dentro das casas, das fam�lias. N�o consigo ficar em paz com essa situa��o que estamos vivendo, com essas amea�as a toda hora, com esse �dio todo. Espero muito que a gente consiga suplantar tudo isso e atravessar esse desfiladeiro de modo que as institui��es permane�am e os cora��es sosseguem''

Olavo Romano, escritor

Convite para editora

Ele conta que chegou � Caravana por meio de um convite de Leonardo Costaneto, que � professor da rede p�blica em Contagem e Betim, licenciado em letras pela Uemg e mestre em educa��o pela UFMG, membro da Academia Itaunense de Letras e editor-chefe da Caravana Grupo Editorial, al�m de s�cio da Cabur� Libros, em Buenos Aires.

“Leonardo se divide entre o Brasil e a Argentina. Ele encontrou uma prensa velha em Buenos Aires, que dava para fazer uns livros interessantes a baixo custo, come�ou a publicar pequenas tiragens e disso a� surgiu a Caravana”, conta. Romano observa que, entre outros desdobramentos, sua entrada para a editora possibilitou a republica��o de alguns de seus t�tulos, inclusive sua obra inaugural, que est� completando 40 anos. 

Ele recorda que come�ou a publicar seus textos no Estado de Minas, no final dos anos 1970 e, no in�cio da d�cada seguinte, procurou Fernando Gasparian, da Editora Paz e Terra, para mostrar sua produ��o. “Ele gostou e come�ou a me cobrar um livro que ainda n�o existia. Antes de ‘Causos de Minas’, eu nunca tinha publicado nada”, diz.

Obras dispersas

Com o lan�amento e a boa repercuss�o daquele seu primeiro trabalho, Romano seguiu publicando outras obras, por diferentes editoras. Ele sublinha que todas elas cuidaram muito bem de sua produ��o, mas, com o tempo, a dispers�o acabou se tornando um problema – que foi sanado a partir de sua chegada � Caravana.

“Meus livros foram ficando meio abandonados. Com a Caravana, resolvi traz�-los de volta � tona. Reeditei seis deles durante a pandemia e lancei um novo, o ‘Caf� com prosa’. Essa foi uma das fun��es que a Caravana cumpriu na minha vida”, aponta. Outra, conforme aponta, foi a reativa��o de uma empresa de produ��o cultural criada h� mais de 20 anos e que andava em estado de hiberna��o.

“Essa empresa cuida da distribui��o dos t�tulos da Caravana de todas as formas poss�veis. Al�m de comercializar, tamb�m contrata a edi��o, a editora��o e a produ��o. Estamos botando essas publica��es da editora no mundo, queremos circular pelas escolas trabalhando com elas. � um projeto que me deixa bem animado.”

Cen�rio pol�tico

Do alto de seus 84 anos, Romano diz que � um privil�gio estar vivo, saud�vel, ativo e animado. Focalizar no que lhe d� alegria, no conv�vio com a fam�lia, com os amigos, viajar e cuidar do seu legado liter�rio � o objetivo. Apesar de dizer que n�o pretende gastar suas energias com outros assuntos, ele n�o deixa de se preocupar com o atual cen�rio pol�tico e social do pa�s.

“Tenho a mem�ria de duas ditaduras, a do Estado Novo e a que se instaurou ap�s o golpe militar de 1964, durante a qual perdi muitos amigos queridos. Ando preocupado de ver o Brasil dividido desse jeito, com essa cis�o dentro das casas, das fam�lias. N�o consigo ficar em paz com essa situa��o que estamos vivendo, com essas amea�as a toda hora, com esse �dio todo. Espero muito que a gente consiga suplantar tudo isso e atravessar esse desfiladeiro de modo que as institui��es permane�am e os cora��es sosseguem”, afirma.

Ele tamb�m n�o poupa cr�ticas ao atual governo. “Quando ou�o o lema ‘Brasil acima de tudo’, penso que � uma tradu��o literal do d�stico de Hitler, que dizia ‘Deutschland �ber alles’. A impress�o digital est� a�. E quando se fala em armar a popula��o, isso � um modelo que segue Mussolini. H� uma tend�ncia forte para o autoritarismo nos dias de hoje”, aponta.

“CAUSOS M�DICOS”

Sarau musical com Olavo Romano e convidados. Neste s�bado (15/10), �s 20h, e no domingo (16/10), �s 19h, no Teatro Feluma (Alameda Ezequiel Dias, 275, 31.3248-7250). Ingressos a R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia), � venda pelo site Sympla


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