Guilherme Arantes lamenta uso de "Amanh�" pela esquerda e pela direita
Cantor e compositor, que se apresenta neste s�bado (15/10) em BH, diz ser "cr�tico da ades�o superficial, nociva e oportunista" de artistas a cen�rios pol�ticos
15/10/2022 04:00
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atualizado 15/10/2022 01:01
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Matheus Herm�genes*
Guilherme Arantes faz show neste s�bado (15/10), no Grande Teatro do Pal�cio das Artes (foto: V�nia Toledo/Divulga��o)
Uma retrospectiva dos sucessos da carreira, como "Planeta �gua", "Cheia de charme", "Deixa chover", "Amanh�", "Meu mundo e nada mais", sem deixar de lado o seu �lbum mais recente, "A desordem dos templ�rios" (2021), � o que Guilherme Arantes prepara para o show que apresenta neste s�bado (15/10), em Belo Horizonte, no Grande Teatro do Pal�cio das Artes.
"O meu estilo permanece muito pessoal, muito preservado. N�o me deixei alterar ao longo desses per�odos em que o marketing e a m�sica mudaram tanto. Continuo muito fiel ao meu alicerce, ao meu estilo. Isso faz a minha m�sica bastante pessoal", diz o cantor e compositor, que contabiliza 46 anos de carreira.
Simultaneamente � frente do piano e dos vocais, ele diz que se dedica sozinho � constru��o de seus �lbuns, suas texturas e acompanhamentos, o que demanda mais tempo e trabalho. "� bem bacana eu ter constru�do esse universo muito particular do meu piano dialogando com a voz. Isso torna bem dif�cil a emula��o," afirma.
"Ao mesmo tempo em que eu estou cantando, estou tocando outra coisa. Essa simultaneidade da m�sica cantada por cima e o piano tocado por baixo faz toda uma melodia que dialoga com o canto. Isso � muito dif�cil emular. Quando algu�m canta 'Um dia, um adeus', as pessoas cantam muito mais lineares do que eu. Acho muito bonito e fico muito feliz que eu tenha trilhado esse caminho."
O �lbum mais recente foi produzido durante o isolamento do cantor em �vila, na Espanha, ao longo da pandemia. O retorno ao Brasil para a turn� tem sido extremamente positivo, segundo ele. Antes da capital mineira, ele se apresentou em S�o Paulo e no Rio de Janeiro.
"O p�blico est� muito a fim de ir a shows. � um per�odo de uma motiva��o muito grande. Os shows est�o indo muito bem, est�o lotando. N�o s� os nossos, mas eu falo em conjunto. O p�blico voltou a ter uma presen�a muito forte nos shows", comenta.
Ele avalia que a m�sica produzida hoje em dia no Brasil, apesar de uma vanguarda valorosa, tem sido feita, em sua maioria, para festas e experi�ncias multig�nero, como em festivais como o Rock in Rio. Ele cita como exemplo os ambientes interioranos que favorecem a produ��o de g�neros hegem�nicos, como o sertanejo, a sofr�ncia e o piseiro, mas lamenta que artistas do ramo tenham aceitado se alinhar com o governo atual.
"A gente est� em plena fase de uma decis�o importante que o pa�s est� tomando, em um momento dram�tico. O meu papel, no palco, � n�o dar bobeira e tocar as minhas m�sicas, cantar o meu universo, que durar�. Esta cena da pol�tica, eu respeito profundamente o p�blico, mas eu n�o me sirvo dessa circunst�ncia, dessa oportunidade. Eu n�o sou o tipo de artista que vai fazer, em cena, s�mbolos e puxar coro"
Guilherme Arantes, cantor e compositor
Gourmetiza��o cultural
"O ambiente est� muito pragm�tico, muito utilit�rio. A m�sica parou de existir por si s� e passou a existir dentro de ambientes que favorecem certos g�neros e certos estilos de m�sica. Voc� tem toda uma gourmetiza��o cultural de comidas e bebidas. Est� na moda o gin, a� todo mundo toma gin. Tudo isso s�o costumes de uma �poca totalmente diferente da que a gente viveu. Nos anos 1970, a gente ia no show do Milton para chorar."
Por outro lado, ele cita artistas da nova gera��o da MPB, como o duo Anavit�ria, Vitor Kley, a banda Melim e a cantora Roberta Campos, que conseguem articular o interesse do p�blico a uma m�sica bem-feita e bem-executada na busca por valores de beleza harm�nica e mel�dica.
"S�o artistas que t�m o refinamento e uma nova gera��o de p�blico tamb�m bastante numeroso. A gente n�o pode nivelar e dizer que tudo � comercial, utilit�rio e fabricado para funcionar. N�o � bem assim, tem muita gente boa na m�sica," pondera, valorizando tamb�m movimentos de inclus�o de ritmos perif�ricos, como o funk e o rap.
Ele, por sua vez, prefere falar atrav�s de sua m�sica a se manifestar no palco. Ao encaixar uma m�sica na outra, ele tem lidado de um jeito pr�prio com as manifesta��es pol�ticas por parte do p�blico.
"A cena pol�tica � muito vol�til. Ela muda como as nuvens do c�u, como dizia o Magalh�es Pinto. O que � num momento, daqui a pouco j� n�o � mais. Isso cria um ambiente muito inst�vel para que as lideran�as art�sticas fiquem aderindo. Eu sou um cr�tico dessa ades�o superficial, nociva e oportunista", afirma, citando o uso de sua m�sica "Amanh�" por correntes pol�ticas que v�o da esquerda � direita, desde Collor, em 1989, a Caetano Veloso, �s v�speras do primeiro turno deste ano.
"Quando eu levo o show, eu n�o dou muita bobeira no palco, como � o caso do show de hoje", diz Guilherme Arantes. "A gente est� em plena fase de uma decis�o importante que o pa�s est� tomando, em um momento dram�tico. O meu papel, no palco, � n�o dar bobeira e tocar as minhas m�sicas, cantar o meu universo, que durar�. Esta cena da pol�tica, eu respeito profundamente o p�blico, mas eu n�o me sirvo dessa circunst�ncia, dessa oportunidade. Eu n�o sou o tipo de artista que vai fazer, em cena, s�mbolos e puxar coro. Desde o in�cio da carreira, eu n�o sou um cara assim", avisa.
GUILHERME ARANTES E BANDA
Show neste s�bado (15/10), �s 21h, no Grande Teatro do Pal�cio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). Ingressos: Plateia I - R$ 160 e R$ 80 (meia); Plateia II - R$ 140 e R$ 70 (meia); Plateia Superior - R$ 110 e R$ 55 (meia), � venda na bilheteria e pelo site Eventim
*Estagi�rio sob supervis�o da editora Silvana Arantes