Patricia Ahmaral revisita a obra do compositor Torquato Neto
Nos 50 anos da morte do piauiense, cantora mineira o homenageia com �lbum duplo; nesta semana, dois singles anteciparam o lan�amento do projeto
15/10/2022 04:00
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atualizado 14/10/2022 21:35
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Lucas Lanna Resende
Patricia Ahmaral lan�ou ontem "Let's play that" e "Quero viver", gravadas com as participa��es de Jards Macal� e Chico C�sar, respectivamente (foto: Kika Antunes/Divulga��o)
O ano era 1998. Belo Horizonte vivia uma cena cultural efervescente, na qual m�sicos se juntavam a escritores e artistas dos mais variados segmentos. Nesse contexto, uma jovem cantora, ainda em in�cio de carreira e sem nenhum disco para chamar de seu, chamou a aten��o dos poetas mineiros Marcelo Dolabela (1957-2020) e Ricardo Aleixo.
Eles estavam em busca de algu�m que pudesse interpretar can��es com letras do piauiense Torquato Neto (1944-1972), na primeira edi��o da Bienal Internacional de Poesia de Belo Horizonte. A dupla viu na mo�a a pessoa certa para a fun��o. A jovem era Patr�cia Ahmaral.
Passados quase 25 anos desde seu primeiro mergulho no repert�rio de Torquato Neto, Patr�cia resolveu voltar � obra do poeta neste ano, quando se completam 50 de sua morte. Patr�cia lan�a �lbum duplo s� com can��es do compositor piauiense que influenciou o movimento tropicalista.
“Um poeta desfolha a bandeira” ter� seu primeiro volume lan�ado �s v�speras do dia da morte de Torquato (10 de novembro). J� o segundo est� marcado para sair em janeiro. Precedendo o lan�amento do disco, a cantora disponibilizou, na �ltima sexta-feira (14/10), nas plataformas digitais, as faixas “Let’s play that” e “Quero viver”, gravadas com as participa��es, respectivamente, de Jards Macal� e Chico C�sar.
“Eu pensei em chamar o Macal� pelo que ele representa, o significado que ele tem na m�sica brasileira. Al�m disso, ‘Let’s play that’ � uma can��o dele e do Torquato”, lembra Patr�cia.
Par�dia
Ela conta que a letra da m�sica foi escrita por Torquato como par�dia do “Poema das sete faces”, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987). Os versos “Quando eu nasci/ um anjo louco muito louco/ veio ler a minha m�o” e “Eis que o anjo me disse/ apertando a minha m�o/ entre um sorriso de dentes/ vai bicho desafinar/ o coro dos contentes”, de Torquato, de fato, muito remetem ao “Quando nasci/ um anjo torto/ desses que vivem na sombra/ disse: vai, Carlos, ser gauche na vida”, de Drummond.
“Torquato escreveu esse poema e entregou para o Nan� Vasconcelos gravar. A� ele mostrou o texto para o Macal�, que criou uma melodia mais ‘quebrada’ para o Nan�. Acabou que, no final, foi o pr�prio Macal� quem gravou ‘Let’s play that’”, conta Patr�cia.
Parceiro p�stumo de Torquato Neto, Chico C�sar foi o respons�vel por criar a melodia de “Quero viver”. A m�sica do paraibano de Catol� do Rocha foi lan�ada em 2015, integrando o �lbum “Estado de poesia”. Diferentemente de “Let’s play that”, que foi gravada por m�sicos dos mais diferentes estilos (de Rog�rio Skylab a Joyce Moreno e Gilson Peranzzetta), “Quero viver” ficou apenas na voz de Chico C�sar.
“Escolhi lan�ar essa m�sica junto com ‘Let’s play that’ porque uma serve de contraponto � outra na maneira como foram concebidas”, explica Patr�cia. “Enquanto ‘Let’s play that’ foi feita como que em conjunto com o Torquato, quando ele ainda estava vivo e poderia sugerir ou modificar coisas na letra, ‘Quero viver’ � um poema dele, que o Chico musicou postumamente.”
Al�m da presen�a dos coautores das can��es (Macal� e Chico), o single conta ainda com participa��es de Fernando Nunes (contrabaixo), Loco Sosa (bateria), Marion Lemonnier (teclados, loops e piano) e Rog�rio Delayon (guitarra baiana, cavaco de banjo). Todos na can��o “Quero viver”. Quem assina a dire��o art�stica do projeto, por sua vez, � Zeca Baleiro.
Arranjos
“Tenho uma rela��o profissional antiga com o Zeca. Foi ele quem produziu ‘Ah!’, meu primeiro disco, lan�ado em 1999. Depois, em 2019, fiz show no qual ele foi o meu convidado para celebrarmos os 20 anos desse disco. Assim, nada mais justo que cham�-lo para a dire��o art�stica desse projeto”, diz Patr�cia.
O maior cuidado que ela teve ao gravar as faixas foi n�o fazer com que os arranjos destoassem por completo das vers�es originais. Entretanto, ao mesmo tempo, n�o queria realizar um mero cover das can��es. As mudan�as foram sutis, mas conferiram vivacidade e uma nova instrumenta��o �s can��es.
“Acho que o nome de Torquato, com sua obra profundamente conectada a ideais libert�rios, � um contraponto poderoso ao obscurantismo que paira sobre a sociedade”, comenta a cantora. “Ele teve a coragem de se fragmentar, de correr os riscos do gesto criativo em v�rias frentes de vanguarda e, especialmente, no tropicalismo, que ele ajudou a erguer, apontando e assumindo a diversidade como nossa grande ou maior riqueza”, diz.
Pe�a-chave na Tropic�lia, Torquato escreveu as letras de “Gel�ia geral”, em parceria com Gilberto Gil; “Mam�e, coragem", com Caetano Veloso (ambas do disco“Tropic�lia ou Panis et circencis”, de 1968); “Go back”; “Todo dia � dia D”; “A rua”, “Louva��o”, entre outros sucessos do movimento.
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