Daniel Barbosa
H� seis anos o compositor e multi-instrumentista Marcus Viana n�o se apresentava em Belo Horizonte. O retorno aos palcos que rompe esse hiato ser� em grande estilo, no Pal�cio das Artes. Acompanhado pela Orquestra Sinf�nica e pelo Coral L�rico de Minas Gerais, ele far� dois concertos, nesta ter�a (18/10) e na quarta-feira (19/10), com sele��o de trilhas que assinou para a TV e quatro pe�as in�ditas no formato orquestral – uma delas composta h� 40 anos.
H� seis anos o compositor e multi-instrumentista Marcus Viana n�o se apresentava em Belo Horizonte. O retorno aos palcos que rompe esse hiato ser� em grande estilo, no Pal�cio das Artes. Acompanhado pela Orquestra Sinf�nica e pelo Coral L�rico de Minas Gerais, ele far� dois concertos, nesta ter�a (18/10) e na quarta-feira (19/10), com sele��o de trilhas que assinou para a TV e quatro pe�as in�ditas no formato orquestral – uma delas composta h� 40 anos.
Foi com o grupo Sagrado Cora��o da Terra, surgido em 1979, que Marcus Viana comp�s “Montanhas”, em 1982. O tema chegou a ser executado, mas ficou na gaveta e nunca encontrou lugar na discografia da banda, cujo primeiro �lbum veio � luz em 1985.
“Gesta��o de drag�o � lenta, porque eles vivem muito”, brinca Viana, ao comentar o longo per�odo de matura��o da m�sica at� ela vir a p�blico agora, no que ele considera “a primeira audi��o mundial da obra”.
Partitura e grava��o perdidas
O compositor chegou a guardar as partituras e o registro, em fita de rolo, da m�sica executada pelo Sagrado Cora��o da Terra, pensando em retom�-la em algum momento. “O pessoal dizia que era um tema muito anticomercial”, revela. V�rios fatores e demandas surgiram e o material permaneceu guardado, at� que a partitura e a fita se perderam.
“Aconteceu muita coisa: o baixista da banda morreu, a pianista morreu, a forma��o original se desfez. Veio a televis�o, fui convidado pelo Jayme Monjardim para fazer trilhas, e ‘Montanhas’ meio que caiu no esquecimento”, diz. Com a chegada da pandemia, ele p�de, com o filho Jo�o Viana, rec�m-formado em composi��o pela UFMG, se ocupar de restaurar a pe�a a partir de fragmentos, por meio de softwares.
“Fui me lembrando da letra, comecei a cantar e assim fomos reconstruindo. Fizemos um trabalho de arqueologia musical. Entendi que esta m�sica � uma cantata – can��o longa com muitas partes instrumentais que se torna sinfonia cantada”, aponta.
Nos dois concertos – o de hoje, ao meio-dia, com entrada franca, e o de amanh�, �s 20h30, com ingressos
a R$ 30 (inteira) –, “Montanhas” estabelece conex�o com outro tema in�dito, “Pa�s dos sonhos verdes”. Juntas, formam o embri�o do que Viana batizou como “Cantata sinf�nica – A mem�ria do futuro”, que se completar� com novas composi��es.
“Pa�s dos sonhos verdes”, composta em 1994, chegou a ser gravada no �lbum “Grande esp�rito”, do Sagrado Cora��o da Terra, mas nunca foi apresentada ao vivo. “N�o conseguia executar esse tema com a banda. Tentei, mas saiu meia-boca, n�o ficou da forma como eu gostaria. � m�sica grandiosa, ent�o minha ideia sempre foi fazer com orquestra”, diz Marcus.
"Fui me lembrando da letra, comecei a cantar e assim fomos reconstruindo. Fizemos um trabalho de arqueologia musical. Entendi que a m�sica � uma cantata"
Marcus Viana, compositor sobre a in�dita "Montanhas"
Preserva��o da natureza
As duas cantatas acabaram orientando a montagem do repert�rio. Ambas falam sobre o passado, o presente e o futuro no contexto de preserva��o ambiental. As trilhas que Viana comp�s para a novela “Pantanal”, o programa “Terra de Minas” (tema “P�tria Minas”) e a miniss�rie “Chiquinha Gonzaga” (tema “Um novo s�culo”) foram incorporados ao concerto.
Outra que estreia com roupagem orquestral � “Divertimento para flauta e cordas”, que Viana executou v�rias vezes com o Sagrado Cora��o da Terra. Ela foi composta para o maestro, arranjador e flautista Sebasti�o Viana, pai do multi-instrumentista, que assessorou Villa-Lobos.
“Transformada em m�sica para concerto, ela abre o programa com um solo do Alef Caetano, flautista muito talentoso”, diz o autor.
Viana pretende reescrever sua obra e tamb�m criar composi��es tendo em mente o formato sinf�nico. “Agora que estou velho, estou nessa de escrever tudo para orquestra, porque assim a m�sica sobrevive � minha vida. Ela tem mais chances de ficar eternizada na categoria de m�sica cl�ssica, e todo mundo pode tocar � vontade.”
O pai coruja de Jo�o Viana
O fato de o filho dominar essa linguagem representa est�mulo a mais. A quarta pe�a in�dita, ali�s, � “Ardente cora��o da terra”, composi��o de Jo�o Viana pensada como movimento de uma sinf�nica ainda em constru��o.
“Este � um concerto de pai e filho. Jo�o virou coautor dos movimentos da cantata, fez toda a orquestra��o e o trabalho que executou � incr�vel. � um orgulho poder tocar com ele, ver o quanto ele � um compositor, orquestrador e instrumentista ex�mio”, diz o pai coruja.
Viana conta que v�rias de suas m�sicas – como “Montanhas” e “Pa�s dos sonhos verdes” – foram criadas j� com o desejo de que pudessem ser orquestradas.
“Dei muita sorte, porque meu filho se formou, virou um grande compositor erudito, seguindo a linhagem da fam�lia. E agora est� levando o legado adiante. Fez orquestra��o grandiosa e densa para os concertos”, adianta Marcus.
"Agora que estou velho, estou nessa de escrever tudo para orquestra, porque assim a m�sica sobrevive � minha vida"
Marcus Viana, compositor
A Orquestra Sinf�nica, que contar� com 75 instrumentistas, ser� acompanhada por 65 vozes do Coral L�rico de Minas Gerais. Regente assistente da orquestra e respons�vel por conduzir os dois corpos art�sticos da Funda��o Cl�vis Salgado nos concertos, o maestro Andr� Brant atesta a riqueza da “massa e densidade sonora” das cria��es de Marcus Viana.
“S�o pe�as que se caracterizam principalmente pela grandiosidade. Tanto ‘Montanhas’ quanto ‘Pa�s dos sonhos verdes’ requerem n�vel de refinamento t�cnico muito grande de cada instrumento e de cada naipe da orquestra. S�o complexas, grandiloquentes e muito cheias de detalhes. Cada cantata � uma hist�ria contada por meio da m�sica e do texto. Elas s�o de uma beleza extrema”, exalta.
Brant destaca o dom�nio que Viana tem nos campos da m�sica popular e erudita. Diz que o compositor conhece bem os instrumentos da orquestra, principalmente as cordas, da� sua escrita refinada. “Voc� v� que ‘Montanhas’ e ‘Pa�s dos sonhos verdes’ s�o realmente eruditas, diferentemente das trilhas, que t�m escrita mais popular, com melodias de aceita��o muito f�cil”, pontua.
Viana batizou as apresenta��es que far� com a Sinf�nica e o Coral L�rico de “Concerto ac�stico”. E chama a aten��o para o fato de que n�o haver� instrumentos el�tricos no palco, apenas os naipes da orquestra. A �nica exce��o � seu violino.
“N�o ser� banda com orquestra, � totalmente ac�stico. Durante os ensaios, eu e meu filho fic�vamos nos olhando, impressionados com a for�a desse conjunto, que totaliza 140 pessoas no palco. S� tem o meu violino el�trico, com o qual fa�o uns efeitos especiais. � ele em contraste com a sonoridade ac�stica da orquestra. Vai ser uma apresenta��o muito sui generis”, ressalta.
Primeiros passos na Sinf�nica
Viana se apresentou com a Sinf�nica de Minas Gerais pela �ltima vez h� uma d�cada. Tocar com essa forma��o � refazer os primeiros passos de sua trajet�ria musical. Ele integrou o primeiro elenco da orquestra, atuando como violinista de 1977 a 1984.
“Sa� porque lancei o primeiro disco do Sagrado Cora��o da Terra e o pessoal do Clube da Esquina me descobriu. Comecei a tocar com Milton Nascimento, L� Borges, Fl�vio Venturini. Todo mundo queria tocar comigo, porque n�o tinha esse neg�cio de violino el�trico na �poca, e isso chamou a aten��o. Ficou dif�cil conciliar com a orquestra, mas a tenho como minha primeira escola. O Pal�cio das Artes � o lar para onde estou voltando agora”, diz.
Marcus se considera um compositor de sorte, por ter podido acompanhar expoentes da m�sica mineira e brasileira, al�m de ter a possibilidade de criar trilhas para novelas e miniss�ries de grande alcance popular.
“� dif�cil para o mineiro quebrar barreiras, ele � acanhado e acaba ficando em Belo Horizonte, essa cidade devoradora de talentos que nascem e morrem aqui. Ter sido levado pelo Jayme Monjardim para fazer trilhas de novelas me permitiu expandir fronteiras”, afirma.
O contato com o ent�o diretor art�stico da Rede Manchete ocorreu nos anos 1980. A primeira encomenda foi uma can��o para a trilha da novela “Kananga do Jap�o”, exibida em 1989 e 1990. Ele comp�s um tango para os personagens de Daniela Perez e Raul Gazolla.
“Fiz, mandei, ele gostou e me disse que eu faria a trilha inteira da pr�xima novela. E a pr�xima novela foi ‘Pantanal’, com aquele sucesso. A� veio uma atr�s da outra: ‘Ana Raio e Z� Trov�o’, ‘A casa das sete mulheres’, ‘Chiquinha Gonzaga’, ‘Xica da Silva’, ‘O clone’. Agora passou a minha fase da televis�o, mas sou muito grato e orgulhoso dessa oportunidade”, finaliza.
• PROGRAMA
>> “Divertimento para flauta e cordas”
>> “Um novo s�culo”
Abertura de “Chiquinha Gonzaga”
>> “P�tria Minas”
Tema de “Terra de Minas”
>> “A miragem”
Tema de amor de “O clone”
>> “Su�te orquestral do filme ‘Olga’”
>> “Ardente cora��o da Terra”
Composi��o de Jo�o Viana
>> “Pa�s dos sonhos verdes”
Cantata sinf�nica
>> “Pantanal”
Tema de abertura
>> “Montanhas”
Cantata sinf�nica
“CONCERTO AC�STICO”
Marcus Viana e Jo�o Viana com Orquestra Sinf�nica e Coral L�rico de Minas Gerais. Nesta ter�a-feira (18/10), �s 12h, com entrada franca. uarta-feira (19/10), �s 20h30, com ingressos a R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia). Grande Teatro do Pal�cio das Artes, Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro. nforma��es: (31) 3236-7400