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Estado de Minas M�SICA

Arctic Monkeys, que completa 20 anos de carreira, lan�a o disco 'The cars'

Grupo brit�nico criou o �lbum durante imers�o em casa de monast�rio ingl�s do s�culo 12. 'Foi importante ter novamente esta energia de banda', diz Alex Turner


19/10/2022 04:00 - atualizado 19/10/2022 09:08

Músicos da banda Arctic Monkeys olham para a câmera. À direita, Alex Turner aponta sua filmadora 16mm como se fosse arma
Banda Arctic Monkeys chega ao Brasil em novembro para apresentar as can��es de seu s�timo �lbum, "The car", no festival paulista Primavera Sound (foto: Arctic Monkeys/Reprodu��o)
 
Rodrigo Salem - Folhapress
Alex Turner n�o est� satisfeito com a luz do quarto escolhido para servir de base para nossa entrevista. � um pequeno e aconchegante hotel hipster no bairro de Los Feliz, em Los Angeles, daqueles que ficam acima de um caf� com mesas ocupadas por jovens no computador e sem filas nas caixas registradoras que n�o aceitam pagamento em dinheiro vivo.

O l�der do Arctic Monkeys, a maior banda de rock a sair do Reino Unido nos �ltimos 20 anos, mexe nos interruptores at� encontrar o equil�brio perfeito de luminosidade. “Est� bem para voc�?”, pergunta, mas sem parecer se importar muito com a resposta.

Turner gosta de ter controle total sobre seu ambiente. “Onde quer se sentar? Aqui ser� o melhor lugar, certo?”, pergunta ele, de caf� na m�o, j� se postando diante da pequena mesa bege abaixo da tal lumin�ria que teimava em n�o liberar a luz adequada.

T�mido ao ponto de nunca completar uma frase inteira, como se a boca n�o acompanhasse seu c�rebro veloz, Turner tem plena consci�ncia de sua obsess�o por controle e aten��o aos detalhes, algo que se tornou maior nos �ltimos anos � frente da banda. Mas o vocalista, guitarrista e compositor viveu algo diferente na cria��o de “The car”, s�timo �lbum do grupo, que ser� lan�ado em todo o mundo nesta semana.

Turner, o 'cineasta', filmou grava��es com c�mera 16mm

Depois de compor as demos no piano sozinho, durante boa parte da pandemia, ele se reuniu com o resto da banda durante o ver�o do ano passado, numa casa isolada que fazia parte de um monast�rio do s�culo 12, em Suffolk, na Inglaterra.

“N�o faz�amos isso desde o primeiro �lbum. Estava com filme sobrando e levei minha c�mera 16 mil�metros para filmar tudo e me manter ocupado durante a grava��o. No in�cio, queria s� registrar a lembran�a, mas isso pareceu ajudar no ambiente de trabalho, porque me deixou um pouco fora do processo e deu mais espa�o para todo mundo”, conta ele.

“James (Ford, produtor do disco) ficou maravilhado, porque n�o fiquei o tempo todo olhando sobre seus ombros sendo um pentelho.”

O hobby do m�sico como cineasta n�o foi a �nica novidade nas tr�s semanas de trabalho no est�dio improvisado com direito a piano emprestado de um morador dali e o arsenal tecnol�gico transferido de Londres. O per�odo foi essencial para o Arctic Monkeys lembrar que ainda � um grupo de rock formado por amigos.

“Demos muitas risadas e assistimos � Eurocopa juntos. Foi importante ter novamente essa energia de banda”, conta Turner, revelando que “Body paint”, single mais recente de “The car”, s� tomou a forma final por causa dessa integra��o. “A guitarra distorcida do fim s� veio porque deu vontade de fazer aquele solo com eles. Soa �bvio, mas estarmos juntos muda a din�mica de como toco.”

Ironicamente, o tema principal do �lbum parece circular em torno de personagens que n�o parecem se encaixar no ambiente em que est�o inseridos. Na pr�pria “Body paint”, que n�o faria feio numa das produ��es repletas de orquestra��es de George Martin para os Beatles, Turner canta que est� “mantendo a fantasia e chamando isso de instrumento de escrita”.
 
 

“Jet skis on a moat”, levada numa guitarra sensual e no ritmo quebrado que lembra “The playboy mansion”, do U2, traz um clima psicod�lico hollywoodiano – “jet skis num fosso/ filmaram tudo em CinemaScope, embora seja a �ltima vez que voc� vai andar neles”.

“Estava imaginando essa percep��o de morarmos como estrelas do rock num castelo fantasioso sobre uma montanha, andando de jet ski, desconectados de tudo”, diz Turner.

J� em “I ain't quite where I think I am”, ou n�o estou exatamente onde penso que estou, ele parece descrever estranho passeio num iate de luxo na costa da Fran�a, pa�s onde costuma ir com a namorada, a cantora francesa Louise Verneuil, desde que se mudou de Los Angeles de volta para a Inglaterra. “Passo menos tempo aqui, mas amo essa cidade. � onde tenho meus amigos”, diz ele.
 

"N�o sei se o Alex de 20 anos atr�s gostaria deste som. Secretamente, eu queria algo nesse sentido, mas n�o estava ainda ao meu alcance naquela �poca. Pensando bem, acho que ele gostaria. Mas, se n�o gostar, que se dane"

Alex Turner, compositor, sobre "The car"

 

Extremamente protetor de sua intimidade, Alex Turner n�o confirma nenhuma teoria que possa se referir � sua vida al�m da m�sica. Contudo, admite que o sentimento de se sentir peixe fora d'�gua � um dos temas do disco.
 
“Definitivamente, escrevi aqui sobre algu�m que n�o se encaixa”, diz ele ao tirar duas folhas dobradas de papel do casaco verde com suas letras e diversas anota��es.

Questiono a raz�o de manter esse material por perto e o cantor deixa a guardacair. “Penso que, assim, posso ter essas conversas mais facilmente, ficar no mesmo n�vel das outras pessoas. Voc� leu as letras, ouviu o disco e achei que deveria fazer o mesmo para o encontrar no meio do caminho”, diz, logo trazendo de volta sua defesa bem-humorada. “E isso tamb�m serve para intimidar as pessoas”, afirma.

N�o que ele pare�a querer intimidar algu�m. Turner mal consegue levantar o olhar, mais preocupado em se fixar em algum objeto e encontrar as palavras certas para suas respostas. Manter as letras no bolso serve para redescobrir os versos.

 

Quatro músicos da banda Arctic Monkeys, em 2006, diante muro de pedras amarelas
A banda em 2006: combina��o de rock e hip-hop confessional conquistou o mundo (foto: Domino Records/AFP)

Esp�rito millennial

Um dos compositores mais brilhantes do rock brit�nico moderno e algu�m que conseguiu retratar anseios e sentimentos de toda uma gera��o millennial, ele diz que suas letras saem de um espa�o entre o consciente e o inconsciente.

Em “The car”, elas parecem ainda mais abstratas. “Adoro deixar espa�o para letras n�o serem completamente compreendidas e se tornarem mais interessantes com o passar dos anos. Gosto de explorar coisas que s�o dif�ceis de falar.”

Isso significa que o Alex Turner que, h� duas d�cadas, fazia ensaios numa garagem com Jamie Cook, na guitarra e nos teclados, Andy Nicholson, no baixo, depois substitu�do por Nick O'Malley, e Matt Helders, na bateria, em Sheffield, finalmente est� percebendo o inevit�vel correr dos minutos?

“Engra�ado, � dif�cil aceitar que j� faz 20 anos”, afirma. “Mas estamos vivos e ativos. Isso acontece muito quando estou cantando as m�sicas antigas agora. Lembro algo, n�o necessariamente a letra, mas o ambiente, uma pessoa e as sensa��es do passado.”

Um passado rico, devemos acrescentar. O Arctic Monkeys passou por diversas fases nessas duas d�cadas. Come�ou com o rock enamorado do hip-hop confessional dos dois primeiros �lbuns, f�rmula que jogou o grupo para a estratosfera da fama.

Ganhou peso com o stoner rock de Josh Homme, do Queens of the Stone Age, em “Humbug”, de 2009, e o hard rock de est�dio de “AM”, de 2013. E culminou com a viagem para longe da Terra no jazz�stico “Tranquility Base Hotel & Casino”, de 2018.
 
Alex Turner canta ao microfone
Alex Turner diz que escreve letras "que saem de um espa�oentre o consciente e o inconsciente" (foto: Jos� Manuel Ribeiro/AFP)
 

“The car” continua a explora��o sonora do trabalho anterior, mas traz guitarras de volta para as m�sicas e um Turner interessado em usar sua voz como instrumento.

“N�o sei se o Alex de 20 anos atr�s gostaria deste som”, especula. “Secretamente, eu queria algo nesse sentido, mas n�o estava ainda ao meu alcance naquela �poca. Pensando bem, acho que ele gostaria. Mas, se n�o gostar, que se dane”, brinca.
Ele admite que mudou sua maneira de enxergar m�sica e at� de compor. Nos discos anteriores, o brit�nico escrevia as letras e depois pensava na melodia. A m�sica, agora, vem antes.

“Fiz o esfor�o de p�r as letras em sincronia com uma melodia que me d� permiss�o de usar certas palavras”, afirma o m�sico. “N�o enfocava isso no passado, acho que come�ou no 'AM', quando comecei a mudar as letras ao ser influenciado pelo som no est�dio.”

Pandemia e energia renovada

De volta aos palcos h� algumas semanas, Turner acredita que a pandemia mudou a rela��o entre banda e p�blico. “A primeira vez que nos apresentamos foi poderosa”, diz. “H� uma energia nova que me encoraja. Estou tentando n�o me comportar da mesma maneira no palco. Acho que parte disso vem do p�blico mais jovem.”

O Brasil vai sentir isso em alguns dias. O Arctic Monkeys fecha o primeiro dia do Primavera Sound, em S�o Paulo, em 5 de novembro, j� azeitando o espet�culo com o novo repert�rio.
 
“Quando chegarmos, quero testar duas m�sicas novas e deixar algumas antigas para tr�s”, conta o vocalista, que j� adianta que o pr�ximo �lbum pode sair mais rapidamente do que se espera depois da longa gesta��o de “The car”.

Impossibilitado de fazer shows, o grupo passou um ano lapidando o �lbum na p�s-produ��o. “Tivemos mais tempo para trabalhar no disco e gosto de pensar que isso teve influ�ncia positiva no resultado final, j� que tivemos mais espa�o para lapidar, pensar e brigar por certas ideias”, afirma Turner. “Amo a ideia de fazer algo diferente, como escrever, gravar e lan�ar em uma semana. Talvez seja uma ideia divertida para o projeto seguinte.”

Capa do disco The car, da banda Arctic Monkeys, mostra pátio vazio com apenas um carro
(foto: Reprodu��o)
“THE CAR”

S�timo �lbum da banda brit�nica Arctic Monkeys. Lan�amento na sexta-feira (21/10), em LP, CD, fita cassete e nas plataformas musicais
 

FAIXAS

• There’d better be a mirrorball
• I ain’t quite where I think Iam
• Sculptures of anything goes
• Jet skis on the moat
• Body paint
• The car
• Big ideas
• Hello you
• Mr Schwartz
• Perfect sense


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