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Estado de Minas M�SICA

Planet Hemp lan�a 'Jardineiros' e ironiza a proibi��o das drogas no Brasil

'Cervejinha pode, bagulhinho n�o', diz a letra de 'Remedinho', faixa do primeiro �lbum de est�dio da banda carioca em 22 anos


22/10/2022 04:00 - atualizado 21/10/2022 23:33

Criolo e músicos da banda Planet Hemp usam uniformes de jardineiros e posam debaixo de porteira onde está escrita a palavra jardineiros com galhos de madeira
Planet Hemp lan�a o disco "Jardineiros", com 15 faixas, e participa��o de Criolo (� esquerda) na can��o 'Distopia' (foto: Som Livre/divulga��o )

Em “Zerovinteum”, o Planet Hemp descrevia o Rio de Janeiro como “cidade hardcore”, com “pol�cia, coca�na, Comando Vermelho”, onde “fazem sua seguran�a assassinando menor”. Desde 1997, quando lan�ou o �lbum “Os c�es ladram mas a caravana n�o para”, a banda ganhou e perdeu integrantes, se desfez e se refez, mas o cen�rio das letras n�o parece ter mudado muito.

Na verdade, para Marcelo D2, fundador do grupo, aquelas rimas fazem at� mais sentido hoje. “Bolsonaro est� a� h� 30 anos. Liberdade de express�o, mil�cia, chacina, isso era um universo que a gente enxergava no Rio em 1997. E, infelizmente, � o que o Rio exportou (para o Brasil).”

O Planet Hemp n�o sobreviveu �quele Brasil e se separou por volta de 2003, em meio a disputas criativas e desaven�as entre os integrantes, mas sua obra s� ficou mais relevante ao longo dos anos. � um processo que levou ao retorno da banda para shows, h� cerca de 10 anos, e, nesta semana, a “Jardineiros”, seu primeiro �lbum de est�dio em 22 anos.

Segundo o rapper BNeg�o, o t�tulo vem de dois temas que s�o caros ao quinteto: o autocultivo de maconha e o plantio de ideias. Isso porque aqueles assuntos introduzidos pelo grupo h� quase tr�s d�cadas, entre os quais a legaliza��o de maconha, acabaram influenciando as novas gera��es para al�m do que os pr�prios m�sicos imaginavam.

“Ao longo dos anos, encontrei muitos ativistas, alguns que s�o linha de frente no Brasil, dizendo que come�aram a se ligar nas quest�es sociais a partir das letras do Planet. Ent�o, tinha muita cobran�a, do tipo 'cad� voc�s no meio dessa loucura toda que estamos vivendo?'”, ele diz.
 
 

Maconha em pauta

A “ex-quadrilha da fuma�a”, como eles se autodenominam, retorna provocativa, atualizando os debates sobre o tr�fico no momento em que a maconha foi descriminalizada em cidades da Holanda, Uruguai e Estados Unidos, entre outros lugares.

Na in�dita “Remedinho”, ambientada no meio de uma bad trip, o Planet Hemp trata de hipocrisias, dizendo que “remedinho pode, coca�na n�o, cervejinha pode, bagulhinho n�o”.

“O tr�fico � muito mais mal�fico do que qualquer tipo de uso de droga”, diz D2. “� um absurdo a gente tratar isso como caso de pol�cia, prender o usu�rio em vez de levar ao psic�logo ou m�dico. Acho t�o absurdo que, quando isso sai da minha boca, sinto que estou falando com uma crian�a de 2 anos.”

Em “Puxa fumo”, o refr�o diz que “o presidente j� fumou, o filho dele j� fumou, ningu�m morreu, olha a viagem”. BNeg�o afirma que “o esquema � e sempre foi um olho no peixe e outro no gado”, e D2 tamb�m faz refer�ncia ao presidente Jair Bolsonaro, do Partido Liberal, citando o verso do samba-enredo da Mangueira de 2019, “n�o h� futuro sem partilha e nem messias com arma na m�o”.

“A quest�o do Planet Hemp n�o era s� dizer 'vamos fumar maconha, ficar chapad�o'”, diz D2. “Para a gente, a quest�o pol�tica, o tr�fico e a ilegalidade sempre foram muito mais importantes. A quest�o � o que leva a maioria negra para as cadeias, que faz a pol�cia entrar nas favelas e chacinar pessoas. Isso alimenta o pensamento de achar que um jovem pode morrer porque 'era traficante'.”

Para BNeg�o, a discuss�o sobre a legaliza��o no Brasil est� no caminho errado a partir do Projeto de Lei 399/15, que trata do plantio de maconha para uso cient�fico e medicinal.
 
“Est� caminhando para ser um lance comandado pelo agroneg�cio. V�o meter uma maconha transg�nica bizarra que s� eles v�o poder fazer, por causa desse PL tosco”, afirma.

Segundo o rapper, que refor�a no novo �lbum o antigo mantra da banda, “n�o compre, plante”, o projeto de lei tem potencial de limitar o cultivo de maconha a grandes agricultores.

“O �leo (de c�nabis) resolve a vida de tanta gente, � rid�culo ter que pagar caro por isso. Era para estar no SUS, � barato de fazer. E vai ficar uma coisa elitizada porque a lei � s� para os gavi�es, que sempre estiveram contra, s�o proibicionistas e agora v�o falar que est� certo porque v�o lucrar.”

Refor�o de Nave e Tropkillaz

Musicalmente, o Planet Hemp tamb�m est� renovado. Com a ajuda do produtor Nave e do duo Tropkillaz, a banda expande o rap de guitarras com batidas eletr�nicas, coros, instrumentos de sopro e uma diversidade de estilos. Est�o l� as bases de rap, as influ�ncias de dub e afrobeat e os samples –  o mais criativo � o trecho de “Bateu uma onda forte”, de MC Carol, em “Onda forte”.

E h� tamb�m, claro, o hardcore e o punk que marcaram o Planet Hemp. “Como n�o tem beatmaker, nesse setor da banda eu sou o punkmaker”, afirma Nobru, autor dos instrumentais de algumas dessas faixas mais pesadas.
 
A banda destaca o entrosamento do n�cleo roqueiro, que hoje tem Formig�o, baixista remanescente da forma��o original, Pedro Garcia, baterista do grupo desde o fim dos anos 1990, e Nobru, que substituiu Rafael Crespo na d�cada passada.

“O Planet precisa disso at� para diferenciar o que � o meu trabalho solo, ou do Bernardo (BNeg�o). Essa energia vem muito da guitarra”, diz D2.
 
Marcelo D2 e Black Alien se abraçam, no palco, durante show no festival Planeta Brasil
Marcelo D2 e Black Alien se abra�am durante show do Planet Hemp no festival Planeta Brasil, realizado em setembro,em BH (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press/25/9/22)
 

Black Alien de volta

A m�sica “O ritmo e a raiva” marca o reencontro do Planet Hemp com Black Alien, rapper que fez parte da banda e passou anos brigado com D2. “Minha rela��o com ele sempre foi de briga, de porradaria, meio de irm�o. Na nossa juventude era assim, mas agora, ficando velho, n�o tem mais isso”, ele diz. “T�-lo nesse disco era essencial.”

Na faixa, D2 rima de maneira narrativa sobre a cria��o do Planet Hemp nos anos 1990 com Skunk, rapper que morreu antes mesmo do lan�amento de “Usu�rio”, disco de estreia do grupo. A rela��o dos dois amigos � explorada no filme “Legalize j�”. Em sua estrofe, Black Alien recorda a pris�o da banda em 1997, em evento midi�tico que marcou a hist�ria dos artistas.

Sempre perseguido pelo discurso e atitude, o Planet Hemp foi, na vis�o de BNeg�o, um “acidente dentro da m�sica brasileira”. “� uma banda underground que habita o mainstream. Antes de entrar, eu j� via isso de fora. Voc� tem uma banda que faz um som pesado, cr�tico e falando sobre maconha? Isso n�o tem como dar certo – n�o nesse n�vel.”

Ele se lembra de quando “Usu�rio” foi lan�ado, e a banda tinha for�a nos shows (para 500 a mil pessoas), mas ningu�m tinha coragem de tocar as m�sicas no r�dio, e na MTV s� passava de madrugada. Foi s� depois de um ano do �lbum, e quando “um pessoal novo”, como diz o rapper, chegou na gravadora, que eles decolaram.

“Em algum momento, alguma r�dio tocou, ningu�m foi preso, todo mundo come�ou a tocar, estourou o neg�cio, e a� virou uma loucura”, diz BNeg�o.

Para D2, a pris�o em 1997, sob acusa��o de apologia da maconha, foi o �pice das persegui��es. “A gente estava aparecendo na TV, e todo mundo assim meio curvado. Minha m�e falou que a gente n�o poderia abaixar a cabe�a, que precisavam da gente. Ficamos abatidos.”

Pris�o: freada gigante

O rapper diz que a pris�o foi o primeiro baque que gerou o fim da banda. “J� est�vamos querendo fazer coisas diferentes. O BNeg�o tinha os projetos dele, eu queria fazer um �lbum solo, o Rafael (Crespo) tinha as paradas dele. Ainda fizemos turn�s, gravamos disco, fizemos um 'ao vivo', mas aquilo foi uma freada gigante.”

Do acidente � pris�o, passando pela morte de Skunk e desaven�as entre os integrantes, soa bastante improv�vel que o grupo imaginado pelos criadores estivesse em atividade quase 30 anos depois.
 
“Virou uma banda de multid�o”, diz BNeg�o. “E todas as nossas conversas eram baseadas em coisas underground. Nunca foi feito para multid�o. � uma coisa maluca, porque ningu�m nunca imaginou. Mas a gente foi indo. O Planet � isso. A gente vai fazendo.” 

Capa do disco Jardineiros, do Planet Hemp, é formada por várias fotos quadradas e coloridas
(foto: Som Livre/reprodu��o)
“JARDINEIROS”

• �lbum do Planet Hemp
• 15 faixas
• Som Livre
• Dispon�vel nas plataformas de streaming


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