
� horrorizada que a popula��o argentina ouve o testemunho de uma mulher que foi torturada pela ditadura em "Argentina, 1985", durante o julgamento daqueles que implementaram o violento regime no pa�s. Hoje, quatro d�cadas mais tarde, era de se esperar que a quest�o estivesse apaziguada – mas o assunto n�o est� encerrado, ao contr�rio do que o t�tulo do filme sugere.
Na Am�rica Latina atravessada por ditaduras, a viola��o de direitos humanos virou arma pol�tica, muito mais do que o consenso de que torturar � errado. Por isso, Peter Lanzani, um dos protagonistas do longa, cr� que lev�-lo �s telas era uma quest�o urgente.
"� importante que filmes como esse sejam feitos, para legitimar o caminho que tomamos a partir da ditadura, a sociedade que constru�mos", disse ele, na semana passada, no Festival de Cinema do Rio, depois de passar tamb�m pelo Festival de Veneza, de onde saiu com o pr�mio da Federa��o Internacional de Cr�ticos de Cinema. Desde a �ltima sexta (21/10), o longa est� dispon�vel em streaming, no Prime Video.
"H� um di�logo importante entre o filme e o presente, porque voltamos a viver num mundo de extremos, coisa que n�o v�amos h� muito tempo. A hist�ria fala de um passado que n�o queremos reviver – eu, ao menos, n�o quero", complementa a atriz Alejandra Flechner. "� um filme que nos faz refletir sobre o passado para que algumas coisas n�o se repitam nunca mais."
Dirigido por Santiago Mitre e escolha do pa�s vizinho para tentar uma vaga no Oscar, "Argentina, 1985" narra o trabalho de reunir provas para condenar os membros da Junta que governou entre 1976 e 1983.
Julgamento
Centrado na figura de Julio C�sar Strassera, o longa mostra como o procurador, um funcion�rio p�blico sem brilho ou atua��o relevante nos anos de chumbo, se tornou um dos rostos da retomada democr�tica ao encampar uma guerra contra os militares, que repetiam que excessos haviam sido cometidos de forma pontual, sem que o alto escal�o do governo soubesse.
Apenas meses ap�s o fim do regime, o sistema judici�rio argentino se tornou o �nico da Am�rica Latina a julgar e condenar seus torturadores.
No papel do promotor est� ningu�m menos que Ricardo Dar�n. Em cena, ele se junta ao personagem de Lanzani para levantar provas contra a Junta Militar. Com outras autoridades temerosas – ou indispostas – em ajudar no processo, eles re�nem uma equipe de jovens que viajam pelo pa�s em busca de torturados e parentes de desaparecidos que possam testemunhar na corte.
"O filme n�o escolhe um lado pol�tico, n�o � partid�rio. Ele vai para um lado da humanidade, da emo��o", diz Lanzani, ao ser provocado sobre os la�os do roteiro com as disputas atuais entre esquerda e direita.
Ao relembrar que o presidente Jair Bolsonaro j� louvou torturadores e a ditadura militar brasileira em diversas ocasi�es, no entanto, Flechner � mais enf�tica e diz que, sim, "Argentina, 1985" � uma li��o para muita gente.
"Na Argentina, o filme foi recebido de maneira formid�vel. H� um consenso no pa�s de que a ditadura foi uma mancha. Mas isso ainda suscita debates e o mundo segue tendo que julgar genocidas", diz.
"Argentina, 1985"
(Argentina, 2022, 141min) Dire��o: Santiago Mitre.
Com Ricardo Dar�n, Peter Lanzani, Alejandra Flechner. Dispon�vel no Prime Video
*O rep�rter viajou ao Rio de Janeiro a convite do Festival do Rio