Corpos est�veis da Funda��o Cl�vis Salgado, o Coral L�rico de Minas Gerais e a Orquestra Sinf�nica de Minas Gerais ter�o a companhia dos solistas convidados Melina Peixoto, Sylvia Klein, Lucas Damasceno e Stephen Bronk (foto: Paulo Lacerda / divulga��o)
Dois concertos programados para esta sexta-feira (18/11) v�o oferecer ao p�blico um percurso harmonioso, sem degraus, do cl�ssico ao popular. No Grande Teatro do Pal�cio das Artes, a Orquestra Sinf�nica e o Coral L�rico de Minas Gerais, com o refor�o de quatro renomados solistas, executam o “R�quiem em r� menor”, ou simplesmente “R�quiem”, de Mozart – a �ltima e mundialmente aclamada obra do compositor austr�aco.
Na Funda��o de Educa��o Art�stica (FEA), um pouco mais cedo, �s 20h, a Flutuar Orquestra de Flautas apresenta o concerto “Clube da esquina – 50 anos”, com a participa��o especial da Orquestra Flautti, celebrando a efem�ride em torno do �lbum que foi recentemente escolhido o mais importante da m�sica popular brasileira. O programa volta a ser executado no s�bado (19/11), no mesmo local e hor�rio, com ingressos a pre�os populares em ambos os dias.
O concerto no Pal�cio das Artes ter� reg�ncia do maestro convidado Hern�n S�nchez, atual diretor do Coro Est�vel do Teatro Argentino de La Plata, e participa��o dos solistas Melina Peixoto, Sylvia Klein, Lucas Damasceno e Stephen Bronk. Um dos temas mais conhecidos do repert�rio erudito, o “R�quiem” � dividido em 14 movimentos. A obra foi deixada incompleta devido � morte do compositor, em 1791, aos 35 anos.
Mist�rios da cria��o
As anota��es que Mozart registrou sobre as partes inconclusas permitiram que Franz Xaver S�ssmayr, que foi seu aluno e amigo, completasse a partitura. Acredita-se que Mozart, com a sa�de j� deteriorada, tenha composto a obra para seu pr�prio funeral, a despeito de as v�rias vers�es acerca do “R�quiem” apontarem o in�cio de sua cria��o a partir de uma encomenda.
S�nchez observa que n�o h� consenso sobre essa hist�ria, que � apresentada no filme “Amadeus” (1984), de Milos Forman – adapta��o da pe�a hom�nima escrita em 1979 pelo dramaturgo ingl�s Peter Shaffer, sucesso na Broadway em 1980, que por sua vez foi baseada na obra “Mozart e Salieri”, escrita em 1830 pelo romancista e poeta russo Alexandre Puskin (1799-1837).
"(O "R�quiem") Tem um trecho que � quase barroco, evoca Bach, e outra parte, a cargo do solista, que � quase rom�ntica, projeta Beethoven, ent�o tem ali uma mistura de coisas muito interessante. Quem escuta reconhece v�rios sentimentos, n�o � algo s� triste ou s� alegre"
Hern�n S�nchez, maestro
O maestro pondera, contudo, que ela � plaus�vel. “Se n�o falamos com Mozart, nunca vamos saber o que ele tinha em mente. Na �poca, a expectativa de vida era baix�ssima. Qualquer enfermidade no s�culo 18 era tratada com sangria ou de formas muito prec�rias. Cada vez que uma pessoa adoecia, pensava que ia morrer. Mozart come�ou a compor o ‘R�quiem’ com 33 anos, ent�o � poss�vel imaginar que ele j� estivesse com medo de morrer”, diz.
N�o � despropositado pensar, segundo o maestro, que o compositor, diante do medo da morte, tivesse dedicado a obra a si mesmo. “O fato � que se trata de um tema muito expressivo, carregado de emo��o”, destaca. Ele pontua que o termo r�quiem � usado para classificar obras lit�rgicas utilizadas em cerim�nias voltadas aos fi�is falecidos. “A composi��o desta missa � repleta de incertezas e t�o obscura quanto sua tem�tica”, observa.
H� v�rias vers�es sobre como surgiu o pedido da pe�a. Uma delas diz que a missa f�nebre foi encomendada por um homem desconhecido, que teria visitado Mozart utilizando uma m�scara e solicitado a ele que n�o tentasse descobrir sua identidade. Algumas narrativas trazem at� o m�s da encomenda: julho de 1791.
Outra vers�o, mais precisa historicamente, aponta que, no ano de sua morte, enquanto trabalhava na �pera “A flauta m�gica”, em Viena, e ao mesmo tempo terminava a encomenda de outra (“A clem�ncia de Tito”), Mozart recebeu o mesmo pedido de um visitante misterioso. Sabe-se hoje que a encomenda partiu do conde Von Walsegg, que tinha uma propriedade nos arredores de Viena.
Toda esta aura de obscuridade por tr�s da cria��o do “R�quiem de Mozart” refor�a o tema da pe�a. Sylvia Klein destaca este e outros atributos da composi��o, que a tornam t�o respeitada e reconhecida: “� uma obra f�nebre, enigm�tica por toda a hist�ria em volta dela, e esplendorosa. Tamb�m penso na situa��o de Mozart compor estando j� muito doente. Deve ter sido cat�rtico para ele, criar pensando na pr�pria morte”, diz.
S�nchez destaca que uma caracter�stica marcante do “R�quiem” � a mistura de formas, o que reflete tanto um desejo do autor quanto seu dom�nio para compor. Mozart morreu quando escrevia “Lacrimosa”, o oitavo dos 14 movimentos, mas teria deixado claro para S�ssmayr o que pretendia para o restante da obra.
“Tem um trecho que � quase barroco, evoca Bach, e outra parte, a cargo do solista, que � quase rom�ntica, projeta Beethoven, ent�o tem ali uma mistura de coisas muito interessante. Quem escuta reconhece v�rios sentimentos, n�o � algo s� triste ou s� alegre”, diz o maestro argentino, chamando a aten��o para o fato de que a escrita a quatro m�os contribuiu para essa din�mica.
Maestro convidado, o argentino Hern�n S�nchez vai reger os corpos art�sticos da Funda��o Cl�vis Salgado na apresenta��o no Pal�cio das Artes
(foto: Paulo Lacerda / divulga��o)
Desafio na execu��o
Ele ressalta que essa caracter�stica acaba por representar, tamb�m, o maior desafio na execu��o da obra. O “R�quiem” se refere ao inferno, ao c�u, � ira de Deus, � cren�a na luz eterna, e � na passagem de um “sentimento” para o outro, proposta na partitura, que reside a maior dificuldade na abordagem da composi��o, tanto para o regente quanto para a orquestra, o coral e os solistas.
“Em um dado momento, voc� tem que declamar mais, como no barroco, um canto quase falado, e em outro, h� uma fuga dupla com muitas notas. A fuga � um tema com pergunta e contesta��o. Quando um coral est� cantando junto, as notas todas ao mesmo tempo, � uma coisa, mas quando h� essa altern�ncia, numa velocidade grande, a dificuldade � efetiva”, diz.
S�nchez perdeu a conta de quantas vezes j� conduziu a execu��o do “R�quiem”, de Mozart, mas afirma que sua atemporalidade e universalidade faz com que a cada vez o sentimento que o compositor quis expressar se renove. “Penso que, se fizermos daqui a 40 anos, ela se manter� atual, como se manteve ao longo dos �ltimos dois s�culos, porque fala do que h� de mais humano, fala da vida e da morte.”
“R�QUIEM”
Orquestra Sinf�nica, Coral L�rico de Minas Gerais e solistas convidados apresentam a obra de Mozart, sob reg�ncia de Hern�n S�nchez, nesta sexta-feira (18/11), �s 20h30, no Grande Teatro do Pal�cio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro, 31.3236-7400). Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia-entrada).
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