(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas RACISMO EM PAUTA

Virg�nia Rodrigues leva pot�ncia da m�sica negra a festival em Tiradentes

Atra��o desta ter�a (22/11) do Artes Vertentes, cantora diz que "n�o houve aboli��o'' e diz que pa�s tem de acertar as contas com afro-brasileiros e ind�genas


22/11/2022 04:00 - atualizado 21/11/2022 23:22

A cantora baiana Virgínia Rodrigues
A baiana Virg�nia Rodrigues p�e sua voz a servi�o da m�sica e da defesa do negro (foto: Pico Garcez/divulga��o)

Em 1997, a baiana Virg�nia Rodrigues estreou profissionalmente como cantora em “Sol negro”, seu primeiro disco. Logo na abertura, ouvia-se o canto de Ver�nica: “O vos omnes/ Qui transitis per viam,/ Attendite et videte/ Si est dolor/ Sicut dolor meus” (� v�s todos que passais pelo caminho, vinde e vede se existe alguma dor como a minha dor). Com essa m�sica, ela havia chamado a aten��o de Caetano Veloso meses antes, na pe�a “Bye bye, Pel�”, do Bando de Teatro Olodum, em Salvador.

Naquele espet�culo, Virg�nia Rodrigues cantava os versos de Ver�nica a capela. Emocionado com a performance, Caetano decidiu apadrinh�-la e assumiu a dire��o musical e art�stica de “Sol negro”.
 
Passados 25 anos, os versos em latim encontram eco no sofrimento que os negros enfrentam neste s�culo 21, diz ela..

“Quando comecei a fazer cursos livres na Universidade Federal da Bahia, percebi que l� os negros eram tratados de maneira diferente”, afirma a cantora. “N�o tinha professores negros. Os negros ali eram alunos e, mesmo assim, em n�mero bem pequeno. Os que queriam entrar para a gradua��o eram preteridos nos testes”, lembra.

Independ�ncia, Modernismo e racismo

Virg�nia � a atra��o musical desta ter�a-feira (22/11) do Artes Vertentes – Festival Internacional de Artes de Tiradentes. O evento, que come�ou no �ltimo dia 16 e ser� realizado at� domingo (27/11) na cidade hist�rica mineira, conta com mesas-redondas, lan�amento de livros, filmes e shows.

Esta edi��o adotou o tema “(In)Depend�ncias”, destacando o bicenten�rio da Independ�ncia do Brasil e o centen�rio da Semana de Arte Moderna de 1922. O festival busca questionar como os dois eventos hist�ricos repercutem nos dias atuais, abordando, sobretudo, a quest�o racial.
 
O escritor moçambicano Mia Couto
O escritor mo�ambicano Mia Couto participa do festival mineiro na quarta-feira (foto: Joel Saget/AFP)
 

A programa��o conta com 100 convidados, entre eles o escritor mo�ambicano Mia Couto, a jornalista ga�cha Eliane Brum, a deputada eleita por Minas Gerais Duda Salabert, o diretor-geral do Centro Cultural Galp�o Cine Horto, Chico Pel�cio, o violinista Iber� Carvalho e Adriana Rouanet, diretora-executiva do Instituto Rouanet, filha do intelectual S�rgio Paulo Rouanet e da soci�loga Barbara Freitag.

Na noite desta ter�a-feira (22/11), Virg�nia subir� ao palco com a conterr�nea Aline Falc�o para interpretar obras de dois compositores negros de diferentes gera��es: Paulinho da Viola e Tigan� Santana. “� um show para voz e piano”, adianta a cantora, sem poupar elogios � colega. “Aline � excelente pianista. Cheguei a ela pelo Tigan�, os dois trabalham juntos”, conta.

Dona de voz grave e encorpada, caracter�stica de mezzo-sopranos, Virg�nia fez carreira no exterior. J� se apresentou no Hollywood Bowl, em Los Angeles, Barbican Conservatory, em Londres, e no tradicional Carnegie Hall, em Nova York.


 
A origem de Virg�nia foi humilde e bem longe dos holofotes. Nascida e criada em Sete de Abril, sub�rbio de Salvador, ganhava a vida como manicure. Sua forma��o musical se deu nas igrejas cat�licas (que costumava frequentar apenas para ouvir m�sica durante celebra��es), no coral que integrou na juventude e no r�dio.

“O r�dio era o �nico meio de comunica��o l� em casa. Eu n�o tinha dinheiro para comprar vitrola, disco, televis�o, nada disso”, lembra Virg�nia.

Ela considera um privil�gio viver na �poca em que as r�dios programavam os mais diferentes estilos musicais. “Tocava Caetano, Milton (Nascimento), Chico (Buarque), (Gilberto) Gil, Clara Nunes – sambista que morreu em 1983, mas ainda sou muito apaixonada por ela – e Bidu Say�o (1902-1999). ‘Ave Maria’, de Gounod, e ‘Bachianas’, de Villa-Lobos, conheci pela r�dio”, recorda a baiana.

Teatro e milit�ncia

Foi na �poca do Bando de Teatro Olodum, pouco antes de lan�ar seu primeiro �lbum, que Virg�nia percebeu que sua voz de mezzo-soprano poderia tamb�m ser utilizada no ativismo em benef�cio do povo negro. Ent�o com 25 anos, ela entendeu que no Brasil existe uma “falsa aboli��o”.

“N�o houve aboli��o. O povo negro, que tem consci�ncia, sabe que n�o houve aboli��o. No Brasil, infelizmente, muitas repara��es devem ser feitas ao povo negro e, principalmente, aos verdadeiros donos dessa terra, os ind�genas”, ela afirma.
 
Buscando valorizar artistas e intelectuais negros, a programa��o do dia segue com a exibi��o dos filmes “Homem-peixe” (2017), de Clarisse Alvarenga, e “Pureza” (2019), de Renato Barbieri. O primeiro, um document�rio, mostra que a rela��o entre as pessoas n�o precisa ser marcada por domina��o, controle e viol�ncia. O segundo filme, protagonizado por Dira Paes, � um drama sobre trabalhadores rurais escravizados.

Ainda nesta ter�a-feira, haver� a conta��o de hist�rias “Vozes da mata”, com o gestor cultural Fernando Chagas e os contadores Aline C�ntia e Sebasti�o Farinhada.
 
 

Vozes de Mo�ambique, Israel e da Guin�

Na quarta-feira (23/11), ser� a vez de Mia Couto participar da mesa-redonda "Independ�ncia em outras terras". Debater�o com ele a escritora israelense Tal Nitz�n e o romancista guineense Tierno Mon�nembo.

Tamb�m haver� o bate-papo "Quilombo: territ�rio e resist�ncia", com os professores Jos� Luiz de Oliveira e Manuel Jauar�, o curador do Museu dos Quilombos e Favelas Urbanos de BH, Padre Mauro, e o capit�o do Congado Nossa Senhora do Ros�rio Escrava Anast�cia, Mestre Prego.

No mesmo dia, ser� realizado concerto com pe�as de Maurice Ravel (1875-1937), Francis Poulenc (1899-1963), Nino Rota (1911-1979) e Darius Milhaud (1892-1974). Por fim, o longa “Amarcord” (1973), de Federico Fellini (1920-1993), ser� exibido.

Na quinta-feira (24/11), haver� lan�amento de livros; concerto com pe�as de George Enescu (1881-1955), Johannes Brahms (1833-1897), Robert Schumann (1810-1856) e Sergei Rachmaninoff (1873-1943); e exibi��o do document�rio "Ma�dan: Protestos na Ucr�nia" (2014), de Sergei Loznitsa.

A programa��o segue na sexta-feira (25/11), com as mesas-redondas "Autonomia por meio da arte" e "Democracia, populismos e polariza��o", esta �ltima mediada por Adriana Rouanet. Tamb�m haver� concertos de m�sica cl�ssica, exibi��o de congado e encena��o da pe�a "Luiza Mahin...eu ainda continuo aqui", dirigida por Jorge Maya, com Cyda Moreno, Marcia Santos, Tais Alves e Jonathan Fontella.

Sustentabilidade cultural

No s�bado (26/11), a agenda prev� apresenta��o do Coro VivaVoz, concerto de m�sica cl�ssica e performance de dan�a "Antes que a fanfarra tenha terminado o compasso". Foram programadas as mesas-redondas "Natureza, educa��o, ci�ncia e estado", "Meninos, eu n�o vi! O ind�gena na literatura brasileira" e "Independ�ncia e sustentabilidade das atividades culturais", esta �ltima com participa��o de Chico Pel�cio, diretor-geral do Centro Cultural Galp�o Cine Horto.

 

Encerram o festival, no domingo (27/11), as mesas-redondas “Segundo sexo, feminismos plurais: resist�ncias e lutas" e "Mesmo o sil�ncio gera mal entendidos", esta �ltima com participa��o de Duda Salabert.



Tamb�m ser�o exibidas as anima��es "Ouvindo Beethoven" (2016), de Garri Bardin, e "Os olhos de Cabul" (2019), de El�a Gobb�-M�vellec e Isabelle Breitman. Tamb�m haver� concerto de m�sica cl�ssica.

 

FESTIVAL ARTES VERTENTES

At� o pr�ximo domingo (27/11), na cidade hist�rica de Tiradentes. Programa��o completa: www.artesvertentes.com. Ingressos � venda pelo site do evento para mesas-redondas, shows, performances e sess�es de cinema, por R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia).


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)