
Com a camisa aberta que exp�e seu corpo magro e ossudo, Timoth�e Chalamet deixa um pr�dio abandonado numa de suas primeiras cenas de “At� os ossos”. A nudez de seu torso denuncia manchas frescas, ainda brilhosas, de sangue, compondo um visual estranhamente sexy.
A carne, afinal, est� no centro da trama – para aplacar a fome e tamb�m a libido. De novo sob a dire��o de Luca Guadagnino, o “it boy” de Hollywood protagoniza uma hist�ria sobre canibalismo, mas no centro da trama h� dois jovens perdidamente apaixonados.
� quase a mistura dos dois longas anteriores do diretor italiano, o romance “Me chame pelo seu nome” e o terror “Susp�ria: A dan�a do medo”. Em “At� os ossos”, ele repete a estrela e o flerte com o “coming of age” do primeiro e n�o poupa o espectador de sangue, como no segundo. Todos se entrela�am por um erotismo nem sempre expl�cito.
� curioso que a nova parceria de Chalamet e Guadagnino seja um filme sobre canibalismo. Outro ator de “Me chame pelo seu nome”, Armie Hammer, caiu recentemente em desgra�a ap�s uma s�rie de den�ncias de abuso que envolvem, justamente, mensagens em que ele se diz canibal.
"As pessoas est�o famintas, perd�o pelo trocadilho, por filmes que n�o digam a elas como devem se sentir ou que n�o venham com um manual de instru��es"
David Kajganich, roteirista
Dedo arrancado
Em “At� os ossos”, por�m, a sensualidade � quase pueril e se faz presente j� na sequ�ncia inaugural, antes de Chalamet chegar. � Taylor Russell, nome an�nimo para muitos, mas premiado em Veneza, quem protagoniza a hist�ria.
Descobrimos a predile��o da personagem por carne humana quando, numa festa do pijama, uma amiga mostra a ela o esmalte das unhas. Ela observa vidrada, at� que pega um indicador e o enfia na boca. Em vez de avan�ar para brincadeiras mais quentes, no entanto, arranca o dedo fora com uma mordida.
“Pode soar estranho, mas gravar em meio a todo aquele sangue n�o foi inc�modo ou nojento. Na verdade, foi divertido. Os dias em que me cobri de sangue foram os melhores, porque todos estavam de bom humor, achando engra�ado. E a mistura ainda tinha um gosto bom”, diz Taylor Russell.
De incidente em incidente, sua personagem e o pai foram obrigados, por anos, a fugir de uma cidade para outra, sem deixar rastros. At� que, certa noite, o patriarca abandona a filha com alguns poucos d�lares, uma grava��o carregada de culpa e tamb�m de al�vio e sua certid�o de nascimento, que revela as primeiras informa��es que ela tem da m�e.
Ela decide pegar a estrada em busca daquela figura at� ent�o inexistente, mas esbarra num senhor estranho, interpretado por Mark Rylance. E descobre que n�o � a �nica comedora de carne humana no mundo, mas logo rejeita a ideia de assassinar para se alimentar, como ele sugere.
"Pode soar estranho, mas gravar em meio a todo aquele sangue n�o foi inc�modo ou nojento. Na verdade, foi divertido"
Taylor Russell, atriz
Amea�a masculina
“At� os ossos” joga, a todo tempo, com a ideia de ser perigoso e estar em perigo. Maren est� nas duas posi��es, o que leva a trama a interpreta��es menos sangrentas, em especial se considerarmos que a protagonista � jovem que em seu caminho se sente constantemente amea�ada por homens mais velhos.
At� que o rostinho delicado e adorado de Chalamet entra em cena. Ele e a protagonista sentem liga��o instant�nea e embarcam juntos em road movie que, para Russell, � muito mais sobre sexualidade, solid�o, v�cio, amadurecimento e o sentimento de deslocamento do que sobre v�sceras. E, acima de tudo, amor.
Adapta��o do romance hom�nimo de Camille DeAngelis, o filme tem roteiro de David Kajganich, que por sua vez colaborou com Guadagnino em “Susp�ria”. Para ele, no cora��o da trama est� o relacionamento do casal, e quem for ao cinema deve estar ciente de que esta n�o � bem uma hist�ria de terror.
“As pessoas est�o famintas, perd�o pelo trocadilho, por filmes que n�o digam a elas como devem se sentir ou que n�o venham com um manual de instru��es”, reflete o roteirista, que tamb�m sugere os motivos para a sanguinol�ncia estar em alta em produ��es que n�o pertencem necessariamente ao horror.
“As pessoas est�o percebendo que estamos num momento da hist�ria em que n�o conversamos. N�s preferimos partir para o conflito em vez de nos comunicarmos”, afirma, ao comentar o clima de polariza��o que tomou o planeta. “Para quem tem boas inten��es, isso � aterrorizante. Filmes como 'At� os ossos' subvertem esse terror para falar sobre conex�o humana”, garante.
“AT� OS OSSOS”
• EUA, It�lia, 2022. Dire��o: Luca Guadagnino. Com Timoth�e Chalamet, Taylor Russell e Mark Rylance.
• Classifica��o: 18 anos. Em cartaz nesta quarta-feira no Cineart Ponteio (15h30, 18h20, 21h10), UNA Cine Belas Artes (16h, 20h30) e Diamond (18h50, 21h40).
• Classifica��o: 18 anos. Em cartaz nesta quarta-feira no Cineart Ponteio (15h30, 18h20, 21h10), UNA Cine Belas Artes (16h, 20h30) e Diamond (18h50, 21h40).