A surpreendente inclus�o de Andrea Riseborough na lista de indica��es que n�o reconheceu os trabalhos de Viola Davis e Danielle Deadwyler chamou a aten��o sobre os m�todos de sua campanha
SEBASTIEN BOZON / AFP
Entre as comemora��es e surpresas do an�ncio dos indicados ao Oscar deste ano, na �ltima ter�a-feira (24), uma nomea��o em particular vem dando o que falar em Hollywood.
A presen�a de Andrea Riseborough na categoria de melhor atriz, lembrada por seu trabalho no filme "To Leslie", despertou acusa��es de viola��o das regras do pr�mio.
O caso, que ser� discutido pela Academia de Artes e Ci�ncias Cinematogr�ficas de Hollywood, respons�vel pelo pr�mio, envolve a campanha da artista.
Lan�ado no festival South by Southwest do ano passado, "To Leslie" � uma produ��o estadunidense independente de Michael Morris, diretor que trabalhou em epis�dios de s�ries conhecidas como "Better call Saul", "13 reasons why" e "House of cards".
A atriz em cena de 'To Leslie', na qual interpreta uma mulher dependente de �lcool, que tenta superar seus problemas
Momentum Pictures/Divulga��o
A produ��o acompanha Riseborough no papel de uma mulher que sofre para reorganizar a vida depois de gastar um pr�mio de loteria, lutando contra o v�cio em �lcool e numa rela��o conturbada com o filho.
Por ser um longa de or�amento pequeno e distribu�do por uma empresa menor no mercado do pa�s, a Momentum Pictures, a obra em tese n�o teria os meios financeiros para bancar uma campanha de divulga��o para alcan�ar os votantes das premia��es.
"Vivemos em um mundo e trabalhamos em ind�strias que s�o agressivamente comprometidas em defender o embranquecimento e perpetuar uma misoginia ousada e direcionada a mulheres negras"
Chinonye Chukwu, diretora de "Till"
Membro do elenco, Marc Maron chegou a reclamar da falta de empenho da produtora para promover o filme em dezembro, classificando o trabalho da Momentum como "incompet�ncia grosseira".
O que aconteceu a partir da� � que a campanha foi assumida pela atriz de origem brit�nica e a ag�ncia que a representa, a CAA, uma das principais empresas de representa��o art�stica de Hollywood. No mesmo m�s de dezembro, ancorada pela indica��o ao pr�mio de atriz no Spirit Awards, Riseborough organizou exibi��es e pagou an�ncios em ve�culos para vender seu trabalho aos votantes.
Apoio de celebridades
Mais surpreendente, por�m, � que celebridades do meio come�aram a postar elogios � sua atua��o nas redes sociais, em uma manobra que se intensificou no per�odo de vota��o do pr�mio da Academia. Artistas como Cate Blanchett, Edward Norton, Jennifer Aniston, Courteney Cox, Demi Moore, Mia Farrow e Charlize Theron publicaram mensagens de apoio � atriz, e Kate Winslet e Amy Adams mediaram debates com Riseborough durante a reta final de escolha dos indicados.
A campanha n�o passou despercebida pelas redes sociais, que transformaram em piada o volume de elogios dados � atriz e � sua atua��o. Em especial ap�s Gwyneth Paltrow publicar em seu Instagram uma foto com a atriz, Morris e Cox, destacando que Riseborough deveria "ganhar todo pr�mio que existe e todos aqueles que ainda n�o foram inventados."
A confirma��o da nomea��o de "To Leslie" dividiu a ind�stria, por�m, sobretudo a partir da evid�ncia de quem os votantes preteriram em favor do filme. At� ent�o vistas como favoritas a participar da premia��o neste ano, as veteranas Viola Davis, por "A mulher rei", e Danielle Deadwyler, por "Till - A busca por justi�a", ambas atrizes negras e ancoradas em campanhas de grandes est�dios, acabaram esnobadas na categoria, que conta ainda com Cate Blanchett (“T�r”), Ana de Armas (“Blonde”), Michelle Williams (“Os Fabelmans”) e a favorita Michelle Yeoh - primeira mulher auto-identificada como asi�tica a ser indicada no pr�mio, por “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo”.
Em sua conta no Instagram, Chinonye Chukwu, diretora de "Till", comentou o caso. "Vivemos em um mundo e trabalhamos em ind�strias que s�o agressivamente comprometidas em defender o embranquecimento e perpetuar uma misoginia ousada e direcionada a mulheres negras."
Al�m da quest�o de diversidade, a campanha ainda atraiu cr�ticas internas, que acusam os envolvidos de violarem as regras da Academia. Chama a aten��o a postura de Jason Weinberg, agente de Riseborough, que teria assediado incansavelmente indiv�duos para que demonstrassem apoio � atriz.
Ele chegou a escrever e-mails pedindo que as pessoas postassem diariamente sobre o filme nas redes, o que rompe com o regulamento da premia��o sobre lobby. A organiza��o pro�be no artigo 10 que se abordem membros diretamente para divulgar candidaturas.
Outro "ativista" do filme que despertou inc�modo na ind�stria foi a atriz Frances Fisher. Em uma publica��o de seu Instagram, agora deletada, a artista escreveu que Riseborough poderia garantir uma indica��o "se 218 (de 1.302) atores no bra�o de votantes da categoria a nomeassem em primeiro lugar", al�m de comentar que Davis, Deadwyler, Yeoh e Blanchett "estariam garantidas por seu trabalho fenomenal".
A cita��o de nomes de concorrentes � outra manobra que fere o regulamento da premia��o, agora no artigo 11.
Em nota oficial, a Academia diz que tem como meta garantir que a competi��o seja conduzida de forma justa e �tica, al�m de comprometida em viabilizar uma premia��o inclusiva.
"Estamos conduzindo uma investiga��o dos procedimentos de campanha sobre os indicados deste ano, garantindo que nenhuma diretriz tenha sido violada, e garantindo se mudan�as �s mesmas ser�o necess�rias nesta nova era de redes sociais e comunica��o digital", diz o texto.
Uma reuni�o entre os diretores de cada bra�o da organiza��o estaria marcada para a pr�xima ter�a-feira (31/1), na qual se espera que a quest�o da campanha seja debatida.
A �ltima vez que o Oscar desqualificou uma indica��o foi em 2014, quando a can��o "Alone yet not alone", de Bruce Broughton, foi descartada do pr�mio mesmo depois de figurar na categoria. Na ocasi�o, a Academia alegou contato impr�prio do compositor com votantes, um problema aprofundado pelo fato de ele ter sido anteriormente um diretor da organiza��o.
A cerim�nia de premia��o do Oscar ocorre no pr�ximo dia 12 de mar�o no Dolby Theatre, em Los Angeles.
Post no Instagram pode ser prova de quebra de regra da Academia
De acordo com a revista “Variery”, uma postagem do perfil do filme “To Leslie” no Instagram, feito duas semanas atr�s, pode ser comprova��o de que uma regra da Academia de Artes e Ci�ncias Cinematogr�ficas de Hollywood em rela��o �s campanhas de aspirantes ao Oscar foi quebrada, na promo��o da candidatura de Andrea Riseborough (“Birdman”, “Oblivion”, “Amsterdam”) a melhor atriz.
O post citou a resenha de Richard Roeper para um jornal sobre os seus 10 filmes favoritos de 2022, na qual ele listou “To Leslie” em quinto lugar. A publica��o no Instagram foi removida.
No trecho, Roeper cita atua��o de Cate Blanchett em "T�r". "Por mais que eu admire o trabalho de Blanchett em 'T�r', minha performance feminina favorita este ano foi da camale�nica Andrea Riseborough", diz o artigo. Isso pode ser visto como uma viola��o direta ao regulamento da premia��o, que n�o aceita refer�ncia a outros indicados nas campanhas dos filmes. As regras dizem que "qualquer t�tica que destaque 'a competi��o' por nome ou t�tulos � expressamente proibida".
Apesar de o texto ser de um cr�tico, a postagem ainda foi feita na conta oficial do filme, o que pode ser visto como um problema.
A atriz Frances Fisher, que foi uma das "ativistas" da campanha de Riseborough, tamb�m citou a lista de Roeper em seu perfil. Mas distorceu o que o cr�tico quis dizer. "Richard Roeper escolheu Andrea Riseborough em # 5 de 10 para Melhor Atriz", escreveu ela, quando, na verdade, ele nomeou os melhores filmes e n�o as atrizes diretamente.
Na publica��o, Fisher ainda marcou membros da Academia, como Cher, Glenn Close, Alec Baldwin e Elizabeth Banks. "Existem atrizes maravilhosas na corrida, felizmente, apoiadas por campanhas publicit�rias multimilion�rias...", ela escreveu, em seguida pedindo para que os membros assistissem a "To Leslie" para entender o motivo de Andrea Riseborough ser indicada. (Folhapress)
*Para comentar, fa�a seu login ou assine