A pequena �guas de S�o Jacinto, no interior de Minas Gerais, virou manchete depois da invas�o de um batalh�o de jornalistas, no meio da semana passada. Todos em busca de provas para livrar Mar� da cadeia.

A mo�a, que era noiva de Gaspar (Thiago Lacerda), filho do prefeito, se apaixonou pelo jovem m�dico Orlando (Diogo Almeida). Foi acusada injustamente da morte do pai, o empres�rio Leonel Rubi�o (Paulo Gorgulho). Na cela, descobriu-se gr�vida de Orlando. Durante uma fuga frustrada, a crian�a nasceu e foi deixada na porta da Irmandade dos Cl�rigos de S�o Jacinto. O beb� ganhou o nome de Marcelino (Levi Asaf).

Muita coisa dessa hist�ria s� ser� revelada a partir de segunda-feira (20/3), com a estreia de “Amor perfeito”, novela de Duca Rachid, a substituta de “Mar do sert�o” na faixa das 18h da Globo.
Atores Glicério do Rosário, Gustavo Arthidoro, Kenia Barbara, Cyda Moreno, Paulo Gorgulho, Malu Dimas e Beto Militani (em baixo). No alto, Chico Pelúcio e Breno Del Filipo. Eles posam na cidade cenográfica montada pela Globo para a novela Amor perfeito

Elenco reunido na pracinha de �guas de S�o Jacinto: embaixo, Glic�rio do Ros�rio, Gustavo Arthidoro, Kenia Barbara, Cyda Moreno, Paulo Gorgulho, Malu Dimas e Beto Militani. No alto, Chico Pel�cio e Breno Del Filipo

Jo�o Miguel J�nior/Globo

A “invas�o” dos jornalistas � cidade cenogr�fica foi acompanhada por Duca Rachid, J�lio Fischer e El�sio Jr., que dividem a autoria da novela, e o diretor art�stico Andr� C�mara. Chamavam a aten��o detalhes da cidadezinha, como o Grande Hotel Budapeste, a reda��o do jornal e a casa do prefeito Anselmo Evaristo (Paulo Betti) e de C�ndida (Zez� Polessa).
 
Novelistas Elisio Lopes Jr., Duca Rachid e Júlio Fischer sorriem e estão lado a lado no balcão do hotel de cidade de Águas de São Jacinto, na novela Amor perfeito

Os novelistas Elisio Lopes Jr., Duca Rachid e J�lio Fischer na recep��o do hotel de �guas de S�o Jacinto

Paulo Belote/ Globo
 

Entre ruelas e casar�es, Duca Rachid n�o escondia a emo��o ao ver os cen�rios prontos.  “Est� muito mais bonito do que eu imaginava”, disse a autora, encantada com a riqueza de detalhes da loja A Brasileira Elegante, cen�rio de Wanda (Juliana Alves), mulher � frente de seu tempo, segundo El�sio Jr.

“A moda ter� influ�ncia muito grande no pensamento das mulheres. O cen�rio traz um pouco do conflito de algumas personagens com o machismo”, adianta.
 

Cidade inspirada em Caxambu 

A fonte de �guas termais e medicinais, inspirada em Caxambu, � dedicada a S�o Jacinto. Duca � devota de S�o Francisco, mas escolheu o santo de origem polonesa porque ele tem rela��o com as �guas.

O projeto da novela � antigo. A sinopse foi escrita por ela e J�lio Fischer em 2003, quando trabalhavam em “O S�tio do Picapau Amarelo”.

“Claro que atualizamos, conceituamos, aprofundamos, tratamos de quest�es atuais, como machismo, a aus�ncia do pai e a diversidade”, comenta.

A origem de “Amor perfeito” vem de “Marcelino p�o e vinho”, longa sobre o menino �rf�o que teve duas vers�es no cinema, em 1955 e 2011. “� o primeiro filme que vi na vida, com 6, 7 anos. Fui com minha 'v�', foi muito marcante para mim”, rememora a autora.

Atores Diogo Almeida e Camila Queiroz de mãos dadas sorriem para a câmera em cena da novela Amor perfeito

"Amor perfeito" conta a hist�ria de Orlando (Diogo Almeida) e Mar� (Camila Queiroz), que voltam a se encontrar ap�s separa��o traum�tica no passado

Jo�o Miguel J�nior/Globo

Apagamento da elite negra

Nas pesquisas sobre a quest�o racial, um dos temas do folhetim, Duca Rachid e equipe descobriram a elite negra com expertise e excel�ncia “que sempre existiu e ainda existe”, segundo ela,  mas foi “apagada” pela narrativa hegem�nica do Sul e do Sudeste.

“Tentamos recuperar esse Brasil, fazer uma novela brasileira. Assim como a primeira vers�o de 'Marcelino p�o e vinho' falava da revolu��o mexicana e a segunda, da Guerra Civil espanhola, tentamos trazer essa hist�ria para o Brasil”, diz Duca.

 A novelista fala da grata surpresa de trabalhar pela primeira vez com Chico Pel�cio, que j� conhecia do Grupo Galp�o, em BH. Ela tamb�m conhecia outro mineiro, o ator Glic�rio do Ros�rio.
 
Ator Chico Pelúcio caracterizado como padre Diógenes na novela Amor perfieito

O mineiro Chico Pel�cio, ator do Grupo Galp�o, deixou o bigode crescer para interpretar o padre Di�genes

Manoella Mello/Globo
 

“Gosto de trabalhar com pessoas que conhe�o, novela � estiva t�o grande... Voc� tem sempre as melhores inten��es com os atores. Mas, �s vezes, as coisas n�o d�o certo – depende muito de como o p�blico recebe –, a� voc� tem de fazer ajustes”, pondera.
 

Duca acredita no pacto entre autor e elenco. “Estamos juntos e vamos assumir o risco juntos. Isso � muito importante.”

Mas, afinal, existe amor perfeito? “Amor perfeito � aquele que acolhe todas as imperfei��es e abra�a a diversidade”, define a novelista.
 
Atores mirins Levi Asaf, Ygor Marçal, Valentina Melleu, Davi Queiroz e Vitória Pabst, do elenco de Amor perfeito, sorriem para a câmera

Levi Asaf (� esquerda), o astro mirim da novela que interpreta Marcelino, com os jovens atores Ygor Mar�al, Valentina Melleu, Davi Queiroz e Vit�ria Pabst

Paulo Belote/Globo
 

Tarimbados no palco, mineiros apostam na telinha

“Amor perfeito” � nova estreia para atores mineiros. Ser� a primeira novela de Chico Pel�cio, do Grupo Galp�o, e de Beto Militani, do Grupo Giramundo. J� Glic�rio do Ros�rio � quase veterano: este ser� seu quinto folhetim, desde “Cordel encantado” (2011).

Chico viver� o ranzinza padre Di�genes; Beto, o delegado Albuquerque; e Glic�rio, o jornalista Tur�bio Fonseca. O policial e o rep�rter s�o vil�es da trama.
 
Glic�rio Ros�rio considera seu personagem – “precursor das fake news” – um desafio, pois at� agora interpretou homens �ticos. “Tur�bio � um cr�pula. Ele � tudo o que aprendemos hoje sobre masculinidade t�xica. Ser� muito detestado”, prev�.
 
Atores Glicério do Rosário e Raquel Karro de braços dados, caracterizados como o casal Elza e Turíbio, personagens da novela Amor perfeito

Casado com Elza (Raquel Karro), Tur�bio, vivido por Glic�rio do Ros�rio, � um 'cr�pula', avisa o ator mineiro

Jo�o Miguel J�nior/Globo
 

Chico Pel�cio, que participou das s�ries “A cura” e “Sob press�o”, na Globo, n�o esconde certa inseguran�a ao construir o personagem. Mas como o n�cleo da irmandade dos padres � mais leve, ele diz que est� se divertindo.

“Trabalho com Tony Tornado, Tonico Pereira, Babu Santana, Allan Souza e Bernardo Berro”, cita, elogiando os colegas.

“� uma del�cia. Experi�ncia nova e superbacana, principalmente pela troca com esses atores. Tonico Pereira tem 60 anos de televis�o”, comenta.

“Padre Di�genes adora cinema, ouvir radionovela. Apesar da ranzinzice, vai trazer um sonho inspirado no 'Cinema Paradiso'”, antecipa Chico, referindo-se ao filme de Giuseppe Tornatore. “Ali�s este bigode aqui � homenagem ao projetista do cinema, o Alfredo”.

Os tr�s mineiros constru�ram carreiras no teatro, mas TV � diferente. S� Beto Militani n�o teve experi�ncia na televis�o, embora fa�a parte do elenco do filme “Batismo de sangue” (2007), dirigido por Helv�cio Ratton.

“N�o � nada do que imaginei. Est� sendo maravilhoso, imaginei que seria muito mais dif�cil, mais complexo. O universo � muito diferente daquele com o qual estamos acostumados no teatro”, diz.  

Chico Pel�cio pergunta a Beto se ele pensava esperar tanto tempo para gravar. A resposta � bem-humorada: “O que (Marcello) Mastroianni disse quando completou 50 anos de cinema? Quarenta e nove anos esperando, um ano gravando.”
 
Ator Beto Militani, com as mãos na cintura, olha para a câmera

Beto Militani, ator do Grupo Giramundo, � o delegado Albuquerque em 'Amor perfeito'

Paulo Belote/Globo
 

Glic�rio tranquiliza o colega do Galp�o. “O teatro oferece tudo para a gente. � uma quest�o de virar a chavinha, e o Chico j� virou essa chavinha”, diz. “Deus te ou�a”, comenta Pel�cio.

N�o foi f�cil para Glic�rio “virar a chavinha” em sua primeira novela, “Cordel encantado”. 

“Viemos com o registro do teatro, com aquela pot�ncia toda, interna e externa. Na TV, vamos aprendendo a ser mais pot�ncia interna. Os contornos s�o mais sutis”, ensina.

Para compor seu personagem conservador e retr�grado, Glic�rio buscou inspira��o em sua pr�pria experi�ncia com o machismo. “Principalmente dentro de minha casa. Meu pai batia em minha m�e”.
 
Mocinhos ou vil�es – o que os atores preferem? “Ambos s�o bons, mas neste momento prefiro um cr�pula nesse exerc�cio de atua��o e matiz que tenho feito na TV”, responde Glic�rio.

“Reza a lenda que fazer vil�o � melhor que mocinho. Uma coisa interessante: companhias de teatro de antigamente reservavam pap�is de mocinho e mocinha para filhas e filhos dos prefeitos para angariar patroc�nio. Eram pap�is mais f�ceis de fazer”, observa Chico Pel�cio.
 
“AMOR PERFEITO”
Novela estreia na segunda-feira (20/3), na faixa das 18h, na TV Globo. Cap�tulos v�o ao ar de segunda a s�bado

*O rep�rter viajou a convite da Rede Globo