Júlia Tizumba, Maurício Tizumba e Sérgio Pererê se abraçam

J�lia Tizumba, Maur�cio Tizumba e S�rgio Perer� s�o os atores do espet�culo, que ter� sess�es de amanh� a domingo, no teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas T�nis Clube

Pablo Bernardo/Divulga��o
 

"Tem hora que parece que foi o PT (Partido dos Trabalhadores) que descobriu a negritude. Mas, n�o. Isso vem de muito antes. Se formos considerar s� o teatro negro, come�a com Abdias do Nascimento, em 1945. E, certamente, antes dele j� tinha algu�m fazendo isso tamb�m. � uma quest�o que j� estamos abordando h� anos no intuito de 'desapagar' nossa hist�ria, apagada pelos brancos"

Maur�cio Tizumba, m�sico e ator



No palco, Maur�cio Tizumba, S�rgio Perer� e J�lia Tizumba contam, cada um em momento diferente, lembran�as de suas vidas. Todos os casos t�m ao menos uma caracter�stica em comum: um passado ancestral �nico que tem in�cio no continente africano com povos que vieram escravizados para o Brasil.

Subitamente, Tizumba para a performance, pede licen�a aos atores, pega o celular e sai de cena. � um dos �ltimos ensaios antes da estreia de “Heran�a”, pe�a que estreia nesta sexta-feira (24/3) e segue em cartaz at� domingo (26/3), no teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas - haver� ainda apresenta��es entre os dias 28 e 30 de abril. Com a proximidade da estreia, cresce o ass�dio de jornalistas para cima de Tizumba. Por isso, as paradas abruptas nos ensaios.

“O jeito � dar uma espremida na agenda, interromper os ensaios e falar rapidinho para dar conta de atender todo mundo”, afirma.

Em dezembro do ano passado, o artista completou 65 anos de vida e 50 de carreira. Embora o fasc�nio pelo mundo art�stico tenha come�ado ainda na inf�ncia, aos 7, 8 anos, quando o pai o levava para participar de programas na extinta TV Itacolomi, foi somente com 15 anos que o garoto se emancipou e decidiu seguir carreira na m�sica, tocando em bailes da capital mineira. 

“Marasmo” 

O primeiro disco foi lan�ado em 1981. O compacto “Marasmo” trazia a faixa-t�tulo (composi��o de Cl�udio P�rsio) e a can��o autoral de Tizumba “Lembran�a do cativeiro”. Enquanto a primeira se assemelha ao bai�o, “Lembran�a do cativeiro” � uma balada rom�ntica com uma sonoridade bem pr�xima a de Raul Seixas em suas m�sicas de amor. 
As percuss�es, marca registrada de Tizumba, j� est�o ali, mas de maneira discreta, passando despercebidas aos ouvidos desatentos.  

Em 1981, lan�ou “Caras e caretas”, mas foi somente em “�frica Gerais”, de 1996, que come�ou a explorar as caracter�sticas que hoje tomam conta de suas produ��es. Est� neste �lbum, por exemplo, “S� Rainha”, uma de suas principais m�sicas.

Tizumba ainda lan�ou os �lbuns "Mozambique" (2003), "Tambor mineiro" (2006), "Ros�rio embolado" (2008), "No mercado" (2010), "Galanga Chico Rei" (2015) e “Maur�cio Tizumba Canta Vander Lee” (2016).

Paralelamente � carreira musical, estudou teatro na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Como ator, participou da cria��o da Cia. Burlantins - grupo que hoje dirige - atuou em 28 espet�culos, sendo 25 musicais; e fez trabalhos tamb�m em cinema e TV.

� ele o idealizador da Mostra Benjamin de Oliveira e do Espa�o Cultural Tambor Mineiro. Hoje, roda o pa�s com performances art�sticas que estabelecem di�logo entre as diversas manifesta��es populares tradicionais da cultura afro-brasileira e afro-mineira. Somente nas �ltimas semanas, esteve em Salvador, Tiradentes, Rio de Janeiro, S�o Paulo e Manaus.

"O nascedouro das hist�rias � a vida real deles. A partir da�, a gente foi ficcionalizando, encantando e recriando as hist�rias, dando dimens�es pol�ticas e sociais para elas"

Grace Pass�, dramaturga e diretora


Saga

“Heran�as” � uma forma de comemorar essa trajet�ria. “Foi uma saga montar este espet�culo. Era para ter sa�do antes, mas, com essa coisa da pandemia, o bicho pegou para a gente e n�o deu para concluir no tempo que pretend�amos”, comenta Tizumba. A ideia inicial era estrear o espet�culo no final do ano passado.

Com dire��o de Grace Pass�, a pe�a nasceu a partir do livro “De Camar�es: Veredas de Mauricio Tizumba”, de Pedro Kalil e Elias Gibran. “Depois que escreveu esse livro, bateu na cabe�a do Pedro a ideia de fazer algo que se chamasse ‘heran�a’ para falar justamente sobre essa heran�a que a gente recebe da �frica. (No meu caso), que eu recebo dos meus ancestrais, meus pretos velhos, tios e av�s”, ressalta.

Tizumba gostou da ideia. Reuniu a filha J�lia e o amigo Perer�, ambos da Cia. Burlantins, e chamou Grace para dirigir. A partir de mem�rias que fossem marcantes para cada um deles, Grace - com o apoio de Aline Vila Real e Tom�s Sarquis - escreveu o texto de "Heran�a".

“O nascedouro das hist�rias � a vida real deles. A partir da�, a gente foi ficcionalizando, encantando e recriando as hist�rias, dando dimens�es pol�ticas e sociais para elas”, explica Grace.

Est�o na pe�a, por exemplos, as rela��es de Tizumba, J�lia e Perer� com as religi�es de matriz africana, o reinado, o teatro negro e a m�sica. 

A quest�o da negritude - bandeira defendida por Tizumba h� pelo menos 40 anos -, no entanto, � o tema central e o elo comum dessas hist�rias.

“Tem hora que parece que foi o PT (Partido dos Trabalhadores) que descobriu a negritude. Mas, n�o. Isso vem de muito antes. Se formos considerar s� o teatro negro, come�a com Abdias do Nascimento, em 1945. E, certamente, antes dele j� tinha algu�m fazendo isso tamb�m. � uma quest�o que j� estamos abordando h� anos no intuito de ‘desapagar’ nossa hist�ria, apagada pelos brancos”, ressalta.

Esse movimento contr�rio ao apagamento que Tizumba desenvolve tem surtido efeito, e “Heran�as” � uma prova disso. “O povo negro � um povo vencedor. N�s contamos hist�rias de um povo vencedor”, afirma o artista. 

“Eu vivo em Belo Horizonte, uma cidade super racista, mas vejo que a gente continua vencendo aqui dentro. Vejo que o meu povo mais pobre, por exemplo, est� caminhando para melhorar de vida. Isso � muito gratificante”, diz.

“HERAN�A”
• Texto: Grace Pass�, Aline Vila Real e Tom�s Sarquis. Dire��o: Grace Pass�. Com: Maur�cio Tizumba, J�lia Tizumba e S�rgio Perer�.
• Nesta sexta-feira (24/3) e s�bado, �s 20h; domingo, �s 19h.
• No teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas (R. da Bahia, 2.244, Lourdes). • Ingressos � venda por R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia), na bilheteria do teatro ou pelo site Eventim