Netflix provoca turismo indesejado nos alpes su��os
F�s de s�rie sul-coreana da plataforma invadem cidadezinha de 400 habitantes onde foi filmada cena rom�ntica da produ��o apenas para fazer uma selfie
A cidade de Iseltwald passou a cobrar o correspondente a R$ 27 pelo acesso ao p�er que atrai turistas
Fabrice COFFRINI /AFP
“Finalmente realizei meu sonho”, comemora Isabel Palijon, ao observar o pequeno p�er de madeira que se eleva sobre uma �gua turquesa. Ao fundo, os Alpes su��os acrescentam ainda mais encanto � cena id�lica.
Este pequeno p�er � o principal motivo pelo qual a turista filipina de 38 anos percorreu 11 mil quil�metros at� Iseltwald, uma localidade com apenas 400 habitantes, �s margens do Lago Brienz, perto de Berna. E ela n�o est� sozinha.
A “culpa” � de “Pousando no amor”, uma s�rie sul-coreana tremendamente popular na Netflix e, em particular, de uma cena rom�ntica filmada nesse mesmo local.
A s�rie conta a improv�vel hist�ria de uma herdeira sul-coreana milion�ria que cai de parapente na zona desmilitarizada entre as duas Coreias e encontra um belo oficial cavalheiro, a servi�o do regime totalit�rio do Norte.
Numerosas cenas se passam na Su��a. Na que foi filmada em Iseltwald, o her�i da s�rie toca piano, e a melodia ressoa sobre o lago, enquanto a protagonista chega de barco, de Interlaken.
“Eu gostaria que algu�m fizesse isso por mim algum dia”, diz Jiah Hni Gwee, uma malaia de 35 anos, lan�ando um olhar um tanto invejoso para o local. “Seria incr�vel e rom�ntico”, acrescenta ela, uma das dezenas de turistas que visitaram o local em um dia ensolarado na semana passada.
A s�rie explodiu em popularidade em grande parte da �sia durante os longos per�odos de confinamento em virtude da pandemia de COVID-19. Fora de seu pa�s de origem, tornou-se a segunda produ��o coreana mais popular entre os espectadores estrangeiros em 2021, depois de “Round 6”.
Mas, para Iseltwald, isso se tornou um problema. “As cifras dispararam”, afirma Titia Weiland, respons�vel pelo escrit�rio de turismo do povoado. Embora seja dif�cil calcular o n�mero de f�s da s�rie em rela��o ao total de turistas, Weiland estima que “h� 1 mil visitantes para cada pessoa local que vive aqui”.
“Quase todo mundo em Iseltwald est� feliz em ter muitos turistas”, mas “� um pouco demais”, afirma. No ver�o passado, come�aram a chegar 20 �nibus por dia, que obstru�am o tr�fego e, �s vezes, bloqueavam o acesso � cidade.
E os moradores reclamam que os f�s da s�rie se contentam em tirar uma foto no p�er antes de irem embora, causando caos, mas deixando pouco dinheiro.
“Quando voc� tem centenas, ou milhares, de pessoas que v�m ao p�er para tirar uma foto, e menos de 10% v�m aqui para consumir algo, � um problema”, explica Sonja Hornung, gerente do hotel Strand, que fica em frente ao local.
Para lidar com a situa��o, o governo municipal anunciou restri��es de acesso no m�s passado e instalou uma catraca no p�er. Agora, para passar, � necess�rio pagar o “pre�o da selfie”, de cinco francos su��os (US$ 5,50 d�lares, ou R$ 26,8, na cota��o atual a R$ 4,88).
Para Sonja Hornung, cujo restaurante oferece uma ficha aos clientes para poderem passar pela catraca, as novas medidas fazem diferen�a. “O ano passado foi terr�vel. Mas melhorou muito”, opina.
Alguns turistas n�o escondem sua surpresa com a barreira de acesso e o pre�o. “Ah, 5 francos!”, exclama Florita Lichtensteiger, filipina de 64 anos que mora na Su��a. Embora relutante, acabou pagando para que o restante de seus familiares pudesse passar, mas n�o para ela.
“Todos os meus convidados querem ver este lugar”, conforma-se ela, que j� teve que ir l� pelo menos uma dezena de vezes. Outros turistas se contentam com uma foto da margem. “N�o vale a pena”, opina Nayeon Park, coreana de 21 anos.
Para Titia Weiland, n�o h� alternativa, ainda que seja apenas para custear a manuten��o do p�er e garantir a seguran�a daqueles que passeiam pela fr�gil passarela de madeira que, antes da s�rie, era frequentada por apenas algumas pessoas por dia.
“Muitas pessoas entendem que algo precisava ser feito”, diz Weiland. Iseltwald “� como o para�so na Terra. Queremos tentar preserv�-lo.”
*Para comentar, fa�a seu login ou assine