Gota e Fa�sca s�o �gua e fogo: teoricamente antag�nicos, mas mesmo assim apaixonados
Boas alegorias s�o inesperadas e surpreendem o p�blico. A Pixar mant�m um bom hist�rico nesse departamento, mas ganhou fama pelas morais mais pr�ximas das premissas. Casos como as emo��es de “Divertida Mente”, de 2015, e as almas de “Soul”, de 2020, mostram que isso n�o � ruim.
O filme n�o esconde que � uma alegoria sobre imigra��o. Come�a com um casal de personagens feitos de fogo em um barco, que navega entre as brumas para chegar ao cais do que logo se revela uma metr�pole.
A cena encanta pelos seres criados de outros elementos e o universo onde coexistem, mas a recep��o aos rec�m-chegados, em si, � cruel. Todos ao redor ignoram o casal, e o simples ato de encontrar um lar vira um desafio. Ningu�m quer um inquilino que pode provocar um inc�ndio, quanto mais tr�s, j� que a mulher est� gr�vida.
Os dois, ent�o, se estabelecem em um pr�dio abandonado, localizado em uma regi�o menos nobre. O marido reforma o lugar, a filha nasce, a fam�lia abre uma loja. O tempo passa e vemos uma comunidade nascer.
A trama d� protagonismo a esses herdeiros. A filha, agora adulta e chamada Fa�sca, ajuda o pai a tocar a loja, mas as coisas n�o correm bem. O patriarca tosse muito e n�o tem o mesmo fogo (literal, no caso) para tocar o neg�cio. Ele sofre at� para fazer os pequenos doces de carv�o que vende.
Garota incendi�ria
A promessa � que a filha assuma o seu lugar. O problema � que a mo�a, por ansiedade ou nervosismo, tem um temperamento curto para os neg�cios, e sua f�ria com frequ�ncia acaba provocando inc�ndios.
A ira de Fa�sca um dia cria um rombo no encanamento e, al�m do vazamento, ele traz um inspetor chamado Gota, feito de �gua – ra�a odiada pela fam�lia. Uma s�rie de multas depois, a lojinha corre o risco de fechar.
A disposi��o dos elementos narrativos indica que o filme vai se guiar pela busca emocional, na luta da protagonista para controlar as emo��es. Mas “Elementos” segue um caminho mais interessante, dentro do assunto menos instigante: a burocracia.
Na busca de Fa�sca para salvar o neg�cio da fam�lia, ela descobre que o seu problema � generalizado na regi�o, que corre risco de enchente. Ela se associa a Gota para resolver a situa��o e eliminar as multas, e assim a hist�ria se reorganiza em torno dos dois.
� uma rela��o de extremos. Ela � fogo e ele � �gua, ela estoura f�cil e ele chora em toda oportunidade. Mas o amor encontra um jeito de desabrochar, da mesma forma que Fa�sca descobre o mundo e a si pr�pria.
A garota encontra seu equil�brio enquanto percebe sua individualidade, que inclui um talento para moldar o vidro. O que � um problema, pois nada disso envolve seu futuro na lojinha.
O dilema final de “Elementos”, ent�o, � da ordem cl�ssica, do duelo entre honrar os pais ou seguir com os pr�prios sonhos.
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Paix�o (quase) imposs�vel
O novo longa-metragem se destaca pela sutileza. Segue a l�gica da f�bula, tradicional e mais acess�vel, construindo alegorias simples de maneira elaborada, que contemplam o percurso da hist�ria. A bela trilha sonora de Thomas Newman refor�a isso nos sons minimalistas e inusitados.
J� a premissa faz tudo funcionar. “Elementos” evita a correla��o direta entre o equil�brio de Fa�sca e o dos elementos naturais. O pano de fundo da hist�ria alimenta a oposi��o dela com Gota, que recusam a admitir sua paix�o porque o fogo e a �gua n�o podem se tocar.
O contato dos dois leva a uma cena bonita, mas tamb�m a um cl�max � altura da hist�ria do est�dio. Um pequeno spoiler: no momento de maior apuro do filme, Fa�sca se v� presa, obrigada a decidir entre os valores de sua fam�lia e o amor, apenas porque se fechou demais para ambos.
“ELEMENTOS”
EUA, 2023. Dire��o de Peter Sohn. Estreia nesta quinta-feira (22/6) nas salas de cinema das redes Cinemark, Cineart, Cinesercla e Cin�polis.
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