Carminho lan�a o disco 'Portuguesa' e faz show no dia 1� de setembro em BH
Cantora de Portugal amplia as fronteiras do fado em seu novo �lbum, que tem can��o do carioca Marcelo Camelo e de compositoras de jazz, pop e folk de seu pa�s
Carminho faz turn� solo no Brasil este ano, ap�s cancelar, a contragosto, temporada no pa�s por causa da pandemia
Fernando Tomaz/divulga��o
Tudo pode ser fado? Definitivamente, n�o. “Quase nada. S� o que � fado � fado”, resume Carminho, de 38 anos, uma das cantoras portuguesas mais conhecidas no mundo. Mas isso n�o impediu que um samba (logo quem!) se tornasse um dos fados que ela desfia em seu novo �lbum.
“Portuguesa”, seu sexto disco, � tamb�m a base da turn� que ela far� no Brasil entre o final de agosto e o in�cio de setembro. Ser�o cinco datas: em Belo Horizonte, o show ser� em 1º de setembro, no Sesc Palladium. Os ingressos j� est�o � venda.
Pode ser bairrismo, Carminho ri do coment�rio, mas ela acaba concordando. Fato � que das 14 faixas do �lbum, a que logo gruda no ouvido � a pen�ltima. “Levo o meu barco no mar” � brasileir�ssima, letra e m�sica de Marcelo Camelo. Carminho a considera um “hino transatl�ntico”.
“Parece um fado, mas � uma can��o que tem qualquer coisa de pop. Tem refr�o, cad�ncia. Veio de algu�m de fora do fado, mas que entende bem a cultura, o encontro com a l�ngua portuguesa. Marcelo me mandou a m�sica dizendo que achava que tinha a ver comigo. O mais engra�ado � que quando chegou at� mim era um samba. Tive que transformar um bocadinho, colocar a minha linguagem. Foi bom porque ela veio de um lado mas � compreendida entre os outros”, conta.
Tr�s anos de trabalho
O �lbum “Portuguesa” teve concep��o complexa, foram quase tr�s anos. Mas nasceu quase de supet�o, 10 dias intensos de est�dio com Carminho e seus m�sicos tocando juntos, sem qualquer separa��o. O per�odo seria dedicado � pr�-produ��o, ela conta, mas no meio do processo viu que o que estava sendo registrado era pra valer.
A cantora que despontou h� pouco mais de uma d�cada e que no Brasil ganhou resson�ncia gra�as a parcerias com os grandes – Chico Buarque, Caetano Veloso e Milton Nascimento, este tamb�m seu padrinho art�stico – � respons�vel pela renova��o do fado. N�o � preciso deixar as tradi��es, mas h� como trazer novos autores, sonoridades e influ�ncias.
'Marcelo (Camelo) me mandou a m�sica dizendo que achava que tinha a ver comigo. O mais engra�ado � que quando chegou at� mim era um samba. Tive que transformar um bocadinho, colocar a minha linguagem'
Carminho, cantora e compositora
O novo disco � mais uma prova dessa conflu�ncia. Para este �lbum, Carminho diz que pensou no conceito de forma “mais cerebral”. “Se a base � o fado tradicional, ent�o come�o todo disco com um fado do (Alfredo) Marceneiro (tradicional fadista, morto em 1982, dois anos antes do nascimento de Carminho). Ele fazia os pr�prios fados e se tornou um dos meus compositores originais. N�o o conheci, mas a mensagem que ele me deixou foi de que eventualmente eu deveria fazer meu repert�rio.”
Diante disso, o disco � aberto com “O quarto (fado Pagem)”, com letra dela para a m�sica de Marceneiro. “A ideia era colocar uma letra nova em um fado antigo, mostrar que isto � poss�vel, desde que se respeite as caracter�sticas. Quis fazer uma reconstru��o do repert�rio tradicional como algo contempor�neo. Era importante para mim fazer esta jun��o”, ela explica.
Sete faixas t�m a autoria de Carminho, seja na letra, na melodia e, em alguns casos, em ambas (“As flores” e “Praias desertas”). Ela tamb�m trabalhou obras de grandes autores portugueses. Musicou “� preciso saber porque se � triste” e “As fontes”, dos poetas Manuel Alegre e Sophia de Mello Breyner Andresen, respectivamente. Regravou marcha que havia sido registrada por Am�lia Rodrigues (“Marcha de Alc�ntara de 1969”, de Jos� da Silva Nunes e Jorge d’�vila).
Ela tamb�m foi ao encontro de compositores contempor�neos. Autoras, ali�s, todas da mesma gera��o de Carminho e que trafegam por outras praias: jazz, pop, folk. “Simplesmente ser” tem melodia e letra de Rita Vian, cantora que despontou recentemente na cena portuguesa e traz refer�ncias tanto do fado quanto da eletr�nica. “Sentas-te a meu lado” � de Lu�sa Sobral e “Ficar” da cantautora Joana Espadinha.
A predomin�ncia da autoria feminina n�o foi planejada, diz Carminho. “Quando pedi temas a compositores, n�o pensei se eram homens ou mulheres. Escolhi pelos temas, pela unidade da pe�a. Fui fazendo muitas escolhas. Rasurei, cortei, numa dan�a muito sentido. O que mais me deixou feliz foi a constata��o de que a maioria dos compositores eram mulheres. Essa presen�a feminina surgiu de forma intuitiva, natural. E o Marcelo est� a� para quebrar a regra.”
'Fico feliz porque acho que esse magnetismo tamb�m est� acontecendo no sentido Brasil/Portugal, n�o s� no sentido Portugal/Brasil. Acho que n�s (portugueses) conhecemos muito bem a vossa cultura, vossos artistas. Mas n�o havia esse entendimento do lado inverso da mesma forma. Sinto, com alegria e orgulho, que isto est� a inverter-se'
Carminho, cantora e compositora
Paix�o pelo Brasil
H� um ano, Carminho veio ao Brasil participar, como convidada, da estreia da turn� do cantor portugu�s Ant�nio Zambujo. Com turn� pr�pria, ela nem se lembra da �ltima vez em que esteve no pa�s.
“Dois meses antes da pandemia despontar, eu tinha turn� marcada no Brasil. Tive que cancelar. Estava gr�vida, foi um momento muito delicado. Ainda hoje me d�i n�o ter feito o show do disco 'Maria' (2018) no Brasil”, comenta ela, que nos shows deste ano, diz que poderia ficar at� “tr�s horas no palco”.
Carminho se diz “apaixonada mesmo” pelo Brasil e sua m�sica. “A princ�pio, era uma atra��o pela linguagem musical. Comecei a ouvir a m�sica atrav�s das novelas da Globo. A certa altura percebi que a m�sica era separada da personagem. Ou seja, que a Marieta Severo, ou a personagem que ela fazia, n�o tinha nada a ver com a m�sica cantada por Tom Jobim. Quando percebi que eram dois mundos, vi que um deles era porta aberta para um novo mundo.”
A cantora mergulhou na m�sica brasileira e, por meio dos j� citados parceiros ilustres e das turn�s, se tornou tamb�m querida do p�blico do Brasil. “H� muitas for�as que nos atraem (brasileiros e portugueses) e fico feliz porque acho que esse magnetismo tamb�m est� acontecendo no sentido Brasil/Portugal, n�o s� no sentido Portugal/Brasil. Acho que n�s (portugueses) conhecemos muito bem a vossa cultura, vossos artistas. Mas n�o havia esse entendimento do lado inverso da mesma forma. Sinto, com alegria e orgulho, que isto est� a inverter-se. E n�o s� a ideia da m�sica, mas as pessoas (os brasileiros) est�o conhecendo melhor o fado, sua estrutura.”
A maior prova que ela poderia dar aos brasileiros veio em seu quarto �lbum, “Carminho canta Tom Jobim” (2016). “Foi ele que tornou a m�sica brasileira mundial. N�o s� a tornou, como contaminou a m�sica do mundo.”
Caetano e a 'fuga da l�ngua'
O �lbum lhe valeu um grande debate com Caetano Veloso sobre a escolha do repert�rio. “Ele me acusou de fuga da l�ngua, pois fugi do voc�, j� que dissemos c� o tu, n�o o voc�. Houve outras quest�es, mas para mim foi uma honra que ele se debru�asse sobre o assunto. Na verdade, fui procurar a mim pr�pria no repert�rio do Tom Jobim. E, no final das contas, posso ter provocado esse sentimento em outros. Continuamos a discuss�o por alguns anos, o que resultou em um convite”, conta Carminho.
Em seu �lbum mais recente, “Meu coco” (2021), Caetano Veloso convidou Carminho para interpretar “Voc�-voc�”. Um dos trechos diz: “Tu �s voc�, sou voc�/ Eu e tu, voc� e ela/ Ary, Noel, Tom e Chico/ Am�lia, blues, tango e rumba.”
“Fiquei completamente honrada em fazer parte deste disco. De alguma forma esse fado foi inspirado na nossa discuss�o. Isto mostra a import�ncia do di�logo sobre a l�ngua que nos torna irm�os, mas que tamb�m nos torna livres”, finaliza.
Carminho de vestido preto transparente na capa do disco Portuguesa
Warner Music/reprodu��o
“PORTUGUESA”
• Disco de Carminho
• Warner Music Portugal
• 14 faixas
• Dispon�vel nas plataformas digitais
• A cantora faz show em 1º de setembro, �s 21h, no Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro). Ingressos: R$ 200 (inteira), R$ 130 (cliente Sesc) e R$ 100 (meia-entrada),� venda na bilheteria e no sympla.com.br
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