Conceição Evaristo, uma mulher preta de cabelos grisalhos presos no topo da cabeça, e o jornalista José Eduardo Gonçalves, um homem branco de cabelos grisalhos, estão iluminados no palco do Teatro. Na frente deles, uma grande plateia.

Concei��o Evaristo palestrou em mais uma edi��o do projeto 'Letra em Cena'

Marcos Vieira/EM/D.A. Press
Concei��o Evaristo encheu o Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas na noite desta ter�a-feira (1/8). Com ingressos esgotados no mesmo dia em que foram disponibilizados ao p�blico, a linguista e escritora mineira conversou com o jornalista e curador do projeto “Letra em Cena”, Jos� Eduardo Gon�alves, e escutou a leitura de um trecho de seu livro “Ponci� Vic�ncio” (2003) pela atriz e doutora em Literaturas de L�ngua Portuguesa Soraya Martins.

Em tom bem-humorado, Concei��o contou hist�rias de sua vida e falou sobre sua escreviv�ncia – termo cunhado pela escritora a partir das palavras “escrever” e “viv�ncia”. “Usem e apliquem o termo em v�rias �reas do conhecimento. Nossa escrita, nossa escreviv�ncia, � pot�ncia”, pediu.

“� dif�cil termos refer�ncias de escritoras negras, e � dif�cil conseguir rever pessoas da nossa cidade que tiveram uma ascens�o fora daqui, ainda mais t�o pr�xima e num evento gratuito que d� acesso a v�rias classes sociais. Foi t�o gostoso poder estar presente, porque al�m da Concei��o, o evento teve muita representatividade: fui recebida por uma mulher preta; a leitura do livro foi feita por uma mulher preta. Estar ali, num espa�o branco que n�o nos representa, quebrando padr�es e trazendo essas culturas para c�… foi �timo”, afirmou a pedagoga Marcela Cristina Alexandre.

Ela garantiu, ainda, que o modelo da Casa Escreviv�ncia Concei��o Evaristo, inaugurada na regi�o portu�ria do Rio de Janeiro (RJ) no final de julho pode ser sonhado para a capital mineira: “Em Belo Horizonte, isso vai acontecer”, afirmou, sendo ovacionada em seguida.

“Foi um privil�gio estar l�. Ela tem as palavras muito bem colocadas, defende o protagonismo e a resist�ncia da mulher negra, se colocando da melhor maneira poss�vel. � muito importante se reconhecer na literatura e na cultura afro para poder se fortalecer”, contou Rose Felix, percussionista e capoeirista que n�o conseguiu os ingressos pela internet, mas foi pessoalmente ao teatro para tentar a sorte – bem-sucedida.

O encerramento do evento contou com a declama��o do poema “Da Calma e do Sil�ncio” (2019) e uma sess�o de aut�grafos – com fila extensa.

“Me fez sonhar, memorizar, sorrir e chorar. Que �tima oportunidade poder ver a nossa hist�ria mineira e negra sendo escrita, ou melhor, ‘escrevivenciada’ por uma mulher negra que � uma de n�s; um espelho de Oxum e Iemanj� presente. Ir ao encontro de Concei��o Evaristo sempre � �pico. Ela, que � um orix� das palavras e das mem�rias de nosso povo”, declarou Fred ‘Negro F’, designer e gestor cultural que comprou o livro “Olhos d’�gua” no evento para pegar o aut�grafo da linguista.