o projecionista Marcelo Amâncio dos Santos

Marcelo Am�ncio dos Santos trabalha como projecionista h� 45 anos e costuma se referir �s d�cadas passadas de acordo com os filmes que as marcaram

T�lio Santos/EM/D.A.Press

Na sess�o vespertina do document�rio “Retratos fantasmas”, no UNA Cine Belas Artes, na �ltima quarta-feira (13/9), dia seguinte ao an�ncio da escolha do filme de Kleber Mendon�a Filho para ser o representante brasileiro no Oscar 2023, aproximadamente oito pessoas estavam presentes. Como de praxe, na hora marcada para o in�cio do filme (14h), as luzes se apagaram e os trailers come�aram a ser exibidos. 

Subitamente, a tela escureceu, e a sala ficou no breu. Alguns espectadores viraram a cabe�a, olhando em dire��o � janela da cabine de proje��o, a fim de entender o que havia acontecido.

L� dentro, o projecionista Marcelo Am�ncio dos Santos, de 66 anos, mexia em uma coisa aqui e outra ali no equipamento de proje��o, dizendo: “Eu sou do tempo do projetor a carv�o, dava muito mais trabalho do que isso aqui. N�o � poss�vel que eu n�o vou consertar”.

N�o era exagero. At� meados dos anos 1980, os projetores funcionavam movidos a carv�o ativado. Eram colocados nos aparelhos dois tipos do vegetal, que, quando se friccionavam, geravam uma luminosidade que projetava o filme na tela. Hoje � a l�mpada de x�non que faz isso.

N�o levou nem dois minutos, e o problema j� estava resolvido. “Era a l�mpada, que n�o acendeu. Quando isso acontece, o filme para de ser projetado”, explicou o projecionista.

Vida dedicada ao cinema

De seus 66 anos de idade, Marcelo dedicou 45 ao cinema. Quando come�ou, trabalhando como assistente de proje��o no Cine Brasil (atual Cine Theatro Brasil Vallourec), os filmes eram rodados em pel�culas de 35mm e divididos em mais de um rolo. 

Por isso, cada cabine tinha dois projetores. Quando um rolo chegava ao fim, o segundo j� come�ava a rodar no outro projetor. Se o segundo aparelho n�o fosse ligado no tempo certo, a exibi��o parava.


N�o d� para dissociar a vida de Marcelo do cinema. Suas refer�ncias ao tempo n�o s�o por datas, e sim com base nos filmes que exibiu. Quando se refere a acontecimentos dos anos 1970, por exemplo, ele lembra de “Marcelino p�o e vinho”, de Ladislao Vajda - embora o longa seja da d�cada de 1950, ele voltou a ser exibido nos cinemas brasileiros nos anos 1970. 

J� quando vai falar sobre meados dos anos 1980, cita “As minas do Rei Salom�o” (1985), de J. Lee Thompson. E, se tem alguma hist�ria dos anos 2000, diz: “Foi na �poca que rodei ‘O senhor dos an�is’”.

Hist�ria dos cinemas de rua 

Assim como os personagens de “Retratos fantasmas”, Marcelo acompanhou parte do auge e da derrocada dos cinemas de rua da metr�pole - no caso do filme, trata-se do Recife.

O projecionista cita que, em Belo Horizonte, fecharam as portas os cines Metr�pole, Path�, Art Pal�cio, Progresso, Pax, Amazonas, Nazar�, Guarani, entre outros.

“Antigamente, as telas ficavam atr�s de uma cortina fechada. Na hora em que o filme ia come�ar, a gente abria a cortina. A�, vinham as not�cias de futebol do Canal 100 e, em seguida, os trailers”, recorda o projecionista.

“Lembro que a vinheta de uma distribuidora era uma ave voando e pousando no telhado. Sempre que ela aparecia, as pessoas tentavam toc�-la, jogando chinelos e tamancos… Era engra�ado demais”, diz, rindo.

Marcelo, no entanto, n�o � exatamente um saudosista. Conta epis�dios do passado com a satisfa��o de quem viveu os tempos �ureos do cinema na cidade, ao mesmo tempo que entende as mudan�as que vieram com a tecnologia.

Sua preocupa��o, contudo, � com os colegas de profiss�o. “Posso contar nos dedos os projecionistas que temos hoje. Esse n�mero � menor ainda, se considerarmos aqueles que sabem trabalhar com pel�cula de 35mm”, afirma. “Assim, nossa profiss�o tamb�m vai acabando.”


Filme representa o pa�s no Oscar

O document�rio “Retratos Fantasmas”, de Kleber Mendon�a Filho, foi escolhido pela Academia Brasileira de Cinema para representar o Brasil na disputa por uma vaga na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar. Um total de 28 filmes nacionais se inscreveu para a sele��o.

Com estreia mundial em Cannes e exibido pela primeira vez no Brasil na abertura do Festival de Gramado, “Retratos fantasmas” une mem�rias do cineasta e a trajet�ria das salas de cinema de rua do Centro do Recife.

O filme est� em cartaz em Belo Horizonte no UNA Cine Belas Artes (Sala 1, 14h e 18h) e no Centro Cultural Unimed-BH Minas (Sala 2, 18h10). A Academia de Artes e Ci�ncias Cinematogr�ficas de Hollywood dever� divulgar a lista de indicados ao Oscar em 23 de janeiro de 2024.