
N�o est� f�cil fechar a conta. At� quem continua de portas abertas, com card�pio de delivery, n�o consegue receita suficiente para pagar as despesas fixas. Nesse cen�rio, a venda de vouchers surge com uma luz no fim do t�nel para atravessar o per�odo de quarentena. Os consumidores pagam um determinado valor para ter direito a gastar depois no restaurante escolhido, enquanto os estabelecimentos, que sofrem com queda expressiva de faturamento, recebem imediatamente o dinheiro.
Criado h� 18 dias, o movimento “Apoie um restaurante” j� chegou a mais de 300 cidades brasileiras. Em Belo Horizonte, 227 restaurantes participam do programa de venda de vouchers, que entrou no ar logo na primeira semana de isolamento. “Nesse per�odo de quarentena, o h�bito de consumo mudou, principalmente quando falamos de restaurantes, e sabemos que todos os neg�cios v�o sofrer com a falta de fluxo de caixa, considerando que todos os custos fixos permanecem e eles n�o est�o faturando para isso”, aponta a diretora de marketing da Stella Artois, Bruna Bu�s.

O consumidor compra um voucher no valor de R$ 50 e ganha cr�dito de R$ 100 para gastar at� o �ltimo dia do ano. “A pessoa ganha o benef�cio e ainda ajuda o restaurante da sua prefer�ncia”, ressalta Bruna. No dia seguinte, o valor integral (sem descontar a taxa de transa��o) est� na conta do estabelecimento escolhido. A previs�o da cervejaria � injetar pelo menos R$ 6 milh�es no setor de restaurantes com os 60 mil vouchers disponibilizados.

Antes de o isolamento come�ar no Brasil, o chef Crist�v�o Laru�a (Caravela e Capit�o Leit�o) soube de uma iniciativa de venda de vouchers em Portugal e n�o teve d�vida ao aceitar o convite para participar do movimento “Apoie um restaurante”. Em 24 horas, foram vendidos todos os 100 vouchers de cada um dos seus restaurantes, o que resultou em uma receita antecipada de R$ 20 mil. “BH merece ter sido eleita cidade da gastronomia. Achei impressionante a resposta do p�blico mineiro.”
O chef tamb�m lan�ou um programa pr�prio de recompensas que v�o al�m de valores para consumo nos restaurantes. O cliente do Caravela pode escolher entre uma garrafa de vinho exclusivo (produzido por uma vin�cola do Alentejo) por R$ 200, um jantar harmonizado por R$ 450 ou um workshop de cozinha portuguesa com dura��o de quatro horas por R$ 500. Quem quiser apoiar o Capit�o Leit�o pode comprar um menu degusta��o harmonizado com drinques por R$ 170. A expectativa � arrecadar mais R$ 40 mil com a venda desses vouchers, v�lidos at� o fim do ano.

Mantendo todos os funcion�rios em casa, o chef atende sozinho o servi�o de delivery. O p�blico pode pedir qualquer prato do Caravela, entre cl�ssicos como o bacalhau com broa e novidades, entre elas o secreto de porco (corte extra�do da regi�o entre a barriga e a costela) com pur� de batata defumado e batata frita. Al�m do leit�o � Barraida, voc� pode comer em casa o torresmo de porchetta com abacaxi do Capit�o Leit�o. “Os pedidos n�o representam nem 3% do movimento, mas, enquanto tivermos estoque, �nimo e pessoas querendo, vamos continuar cozinhando”, avisa Crist�v�o.
O administrador Gabriel Gasparini uniu for�as com a Suflex (startup que oferece solu��es de gest�o em gastronomia) para colocar a plataforma “Menu do amanh�” no ar em oito dias. “A principal preocupa��o dos donos de restaurantes � manter o emprego das pessoas. Todos trabalham com uma margem muito pequena e o delivery, principalmente em lugares que n�o faziam, chegam no m�ximo a 20% do que precisariam no m�s para sustentar o neg�cio”, contabiliza.

UM ANO DE VALIDADE O “Menu do amanh�” come�ou em S�o Paulo e Rio de Janeiro e j� chegou em Belo Horizonte. Ao todo, s�o quase 200 estabelecimentos e a ideia de Gabriel � abranger o m�ximo poss�vel de cidades. Cada participante pode oferecer vouchers com dois valores dife- rentes. “Os restaurantes s�o livres para definir quais valores querem ofertar. Como s�o neg�cios muito variados, cada um sabe o que funciona melhor”, destaca. Os vouchers s�o v�lidos at� um ano depois da data da compra.
O Baixo Lourdes faz parte de tr�s plataformas de venda de vouchers. Os valores variam de R$ 50 a R$ 100, mas em todos os casos a casa oferece vantagens. Quem comprar R$ 100, por exemplo, ter� direito a consumir R$ 140 em comida e bebida quando a casa reabrir. A data de validade tamb�m varia (alguns vouchers podem ser usados at� um ano depois da compra). “At� quem n�o � cliente est� nos apoiando, e esta � uma ajuda e tanto, porque facilita o nosso fluxo de caixa”, comenta o chef Gael Paim.

A cozinha continua aberta, mas agora trabalha com um card�pio reduzido de delivery, priorizando os ingredientes que est�o no estoque e receitas des- complicadas. Entre as op��es, steak de chorizo com risoto de tomate e estrogonofe de frango. Gael comemora que saiu do zero, j� que o restaurante n�o tinha este servi�o, para mais de 100 entregas no fim de semana. “Escrevo um bilhetinho a m�o em toda entrega, desde 'Muito obrigado por nos ajudar' at� 'Escolha sua melhor lou�a e monte seu prato como um chef de cozinha'. � uma forma de criar um elo entre a casa e o cliente”, diz.
Espaguete com molho cremoso de requeij�o e camar�es
(Un'Altra Volta)
Ingredientes
120g de espaguete grano duro; 1 colher de sopa de sal grosso; 150g de camar�o; 40ml de azeite extravirgem; 80g de requeij�o cremoso; 40ml de creme de leite fresco; sal a gosto; pimenta-do-reino a gosto;
p�prica a gosto.
Modo de fazer
Em uma panela, coloque 1 litro de �gua e espere levantar fervura. Em seguida, adicione uma colher de sopa de sal grosso. Coloque a massa e deixe cozinhar por 8 minutos para ficar al dente. Caso queira a massa mais cozida, deixe mais tempo cozinhando e v� experimentando a consist�ncia. Tempere os camar�es com sal, p�prica e pimenta-do-reino. Aque�a bem uma panela. Coloque o azeite e em seguida os camar�es. � importante que seja r�pido para manter o ponto dos camar�es. Reserve a metade dos camar�es para finaliza��o. Na mesma panela, adicione o creme de leite fresco e o requeij�o. Aque�a bem at� que fique cremoso. Adicione a massa, misture bem e monte o seu prato. Coloque os camar�es que foram reservados por cima da massa e sirva imediatamente.
Lado humano
O movimento “Gentileza gera gentileza” � inspirado em uma iniciativa parecida de Montreal, no Canad�. Quando soube da ideia de l�, a jornalista brasileira Alexandra Forbes, que mora na Fran�a, percebeu que poderia ajudar chefs e donos de restaurantes, que come�avam a demonstrar desespero com a situa��o, antes mesmo de o isolamento ser de- cretado. “O lado humano me motivou acima de tudo. Quando voc� ajuda um restaurante, n�o est� ajudando s� o chef, mas o lavador de prato, o gar�om, o vigia. Essas pessoas n�o podem ficar sem sal�rio”, comenta.
Em parceria com a plataforma de pagamentos StarPay, o movimento GGG disponibiliza vouchers de R$ 150 para consumo em quase 100 estabelecimentos. Por enquanto, todos s�o de S�o Paulo. Quem compra tr�s ou mais vouchers recebe uma garrafa de u�sque em casa. “Voc� n�o pode imaginar a emo��o dos chefs que est�o participando, � algo que me aquece o cora��o, que me faz seguir com esta miss�o de fazer diferen�a na vida de pessoas”, destaca Alexandra.
O italiano Un'Altra Volta n�o deve usar de imediato o dinheiro arrecadado com os vouchers. O plano dos s�cios Pedro Guimar�es e J�lia Duarte � fazer uma reserva com esta receita antecipada para as despesas de quando o restaurante voltar a funcionar normalmente. Para isso, eles contam com a ajuda de clientes fi�is. “A maioria das pessoas que compram os vouchers s�o clientes que frequentam a casa, gostam da comida e querem nos apoiar mesmo”, observa J�lia.
Para enfrentar a quarentena, os s�cios ampliaram o servi�o de entrega, que existe desde o in�cio da casa. “O delivery representava de 10% a 15% do faturamento total e agora queremos chegar a pelo menos 30% para manter as despesas b�sicas”, calcula Pedro. Al�m do extenso card�pio de massas, risotos e carnes, com pratos para uma, duas ou cinco pessoas, o Un'Altra Volta criou kits para preparar em casa, entregues com as instru��es de preparo. No kit b�sico est�o inclu�dos fettuccine, molho funghi, lasanha � bolonhesa congelada e dois refrigerantes.
