O Largo do Ros�rio, que fica em um dos pontos mais altos da cidade, recebeu 7,5 mil pessoas entre sexta e domingo da �ltima semana (foto: Jackson Romanelli/Divulga��o)
Concei��o do Mato Dentro – Pra�a lotada, pratos esgotados e moradores mais interessados em gastronomia. Esse foi o saldo do Festival Fartura Dona Lucinha, em Concei��o do Mato Dentro, na Regi�o Central de Minas, realizado no �ltimo fim de semana. A programa��o com comida e m�sica ocupou o Largo do Ros�rio, um dos pontos mais altos da cidade, onde fica uma igreja e um coreto.
“Vemos o potencial gigantesco que o interior de Minas Gerais tem devido ao car�ter genu�no da sua gastronomia e � sua riqueza hist�rica”, comentou Rodrigo Ferraz, diretor da plataforma Fartura.
Nesta segunda edi��o como Festival Dona Lucinha (nas duas anteriores, em 2018 e 2020, eles n�o usavam esse nome), o evento ganhou mais um dia (passou a ser de sexta a domingo) e viu o movimento aumentar de 5,5 mil para 7,5 mil pessoas.
Ao carregar o nome de Dona Lucinha, o festival, que tamb�m passou pelo Serro, no fim de semana anterior, homenageia a mulher que levantou a bandeira da cozinha mineira mundo afora e reverbera o seu legado.
Rodrigo acrescenta que tamb�m � uma forma de se voltar para as nossas ra�zes, para o simples e verdadeiro, j� que ela era uma cozinheira de tradi��o.
�nico restaurante da cidade com estande na pra�a, o Precatinha estreou no festival com o seu joelho de porco ao molho sugo e polenta cremosa (foto: Mariama Lopes/Divulga��o)
Dona Lucinha � do Serro, mas sempre teve um carinho por Concei��o do Mato Dentro, a 65 quil�metros de dist�ncia, ponto de parada entre a sua cidade e a capital.
“� quase como se estivesse no Serro, me sinto em casa. O tempo todo algu�m chega na barraca falando que conheceu a minha m�e e contando um caso dela”, disse a historiadora e chef M�rcia Nunes, que comanda o restaurante Dona Lucinha em BH. Para ela, o festival � a mais importante homenagem que sua m�e j� recebeu.
O p�blico teve a oportunidade de comer pratos tradicionais do Dona Lucinha, que se conectam com a hist�ria da sua fundadora. Til�pia empanada no fub� era um deles. A fam�lia nunca teve o h�bito de usar farinha de trigo, assim como n�o trabalha com fritadeira. Preparadas em panela de ferro com �leo, as iscas de peixe ficavam sequinhas e crocantes.
Outra op��o era a lingui�a com molho de rapadura, que, M�rcia revelou, est� prestes a ser vendida em uma rede de supermercados de BH.
�nico restaurante da cidade com estande na pra�a, o Precatinha estreou no festival com o seu joelho de porco, acompanhado de polenta cremosa ao molho de tomate. De t�o conhecido, o prato se esgotou no segundo dia.
“O segredo � fazer com amor”, apontou a cozinheira Dora Rodrigues, acrescentando que, da forma como prepara a carne, ela n�o fica nada gordurosa. O caldo de mocot� com ovo de codorna tamb�m era uma �tima pedida para a noite, quando a temperatura despencava.
Madrinha desta edi��o do festival, Carolina Ferraz ensinou a fazer o bolo de milho da sua m�e, mineira de Uberl�ndia, que fica bem cremoso por dentro (foto: Jackson Romanelli/Divulga��o)
Precatinha era o apelido do marido de Dora, que, duas d�cadas atr�s, abriu um bar com tira-gostos no Bairro Brejo, regi�o central de Concei��o do Mato Dentro. Desde 2017, pouco antes de o fundador morrer, seu filho J�nior Rodrigues assumiu e deu uma repaginada no neg�cio.
“Participar do festival � uma experi�ncia muito gratificante e esperamos que mais turistas tenham interesse em vir para a cidade.”
O Espa�o Conhecimento, onde havia uma programa��o de cursos e palestras abertas ao p�blico, instalou-se no Mercado Municipal. L� dentro funciona uma feirinha com comida, incluindo o famoso pastel de angu, e artesanato.
Madrinha desta edi��o do festival, Carolina Ferraz ensinou a fazer o bolo de milho da sua m�e, mineira de Uberl�ndia, que fica bem cremoso por dentro. “Cresci comendo muita comida t�pica, ent�o tenho um afeto muito grande e lembran�as maravilhosas de Minas”, revelou a atriz, que n�o resiste a um tutu de feij�o.
Carolina � conhecida pelo trabalho na TV, mas tamb�m se formou em gastronomia. Antes da aula, ela visitou a fazenda em Concei��o onde � produzido o queijo Dona Iai�, usado na receita.
Rosquinha de rapadura
A Mercearia Fartura reuniu v�rios produtos locais, entre eles os biscoitos e as rosquinhas Sabores de C�rregos, distrito a 25km do Centro da cidade. A produ��o come�ou com Dona Perp�tua, que aprendeu as receitas com a m�e e a av� e j� passou adiante.
O saco de biscoito de polvilho com queijo chamava a aten��o pelo tamanho e conquistava pelo sabor. “A gente pega o queijo fresco e matura por uma semana e meia, ent�o voc� sente o sabor dele”, informou Sandrely Soares, nora de Perp�tua, que trabalha em fam�lia na minif�brica com forno a lenha.
Diante do p�blico, o chef Ivo Faria preparou umDiante do p�blico, preparou um tomahawk de porco com fava, quiabo e arroz com umbigo de bananeira (foto: Jackson Romanelli/Divulga��o)
Na opini�o dela, o festival leva divers�o e gera renda para a cidade. Quem provou tamb�m amou a rosquinha de rapadura, feita com polvilho e rapadura ralada.
Ivo Faria ficou feliz de ver o festival ganhar for�a. “Vi l� atr�s o festival nascendo e agora j� est� consolidado”, observou o chef, que esteve na primeira edi��o, em 2018.
Seu entusiasmo aumentou ao saber que h� pessoas interessadas em abrir neg�cios de alimenta��o. Na palestra em que falou sobre sua trajet�ria, ele percebeu que o evento acabou despertando o olhar da cidade para a gastronomia.
O chef tamb�m participou da Cozinha ao Vivo. Diante do p�blico, preparou um tomahawk de porco com fava, quiabo e arroz com umbigo de bananeira. Segundo ele, � um prato que tem tudo a ver com a cidade.
“Aqui existe a tradi��o de criar porco em casa e tem muita banana nos quintais. Muita gente conhece o umbigo de bananeira, mas nunca usou na cozinha. Quis mostrar essa possibilidade.”
Quem tamb�m cozinhou na pra�a foi L�via Siman, que cresceu em Concei��o do Mato Dentro. “Foi uma emo��o voltar � cidade como chef.” Na sua receita, destacavam-se produtos locais, como o porco da cidade, fub� de Tabuleiro e urucum de C�rregos.
Com esses produtos, ela preparou angu de milho novo (como a fam�lia chama o milho verde fresco, que chega a ter sabor de curau) e a costelinha do pai, que estava ao seu lado, com ora-pro-n�bis colhido no quintal de casa.