
As exporta��es de u�sque escoc�s cresceram de £ 4,51 bilh�es (cerca de R$ 28 bilh�es) em 2021 para mais de £ 6 bilh�es (R$ 38 bi) em 2022, enquanto n�meros separados do governo mostraram um aumento de vendas de 25% no ano passado – a maior alta para qualquer produto fabricado no Reino Unido, exceto pe�as de aeronaves.
Esse crescimento impressionante mostra como a ind�stria cultivou sua imagem, apelo e redes de abastecimento ao longo de 200 anos, resistindo a pandemias, guerras comerciais e at� guerras mundiais no processo.
A quest�o de como o u�sque escoc�s conseguiu manter sua popularidade global por um longo per�odo de tempo � algo que venho pesquisando h� v�rios anos.
Como um bom u�sque, a resposta � complexa e requer tempo para ser compreendida.
Os produtores de u�sque escoc�s h� muito procuram o exterior para vender seu produto.
O mercado dom�stico do Reino Unido n�o � e nunca foi grande o suficiente para atender �s suas aspira��es de crescimento.
Alguns dos primeiros registros de u�sque sendo exportados datam de 1839, com an�ncios de Ardbeg Scotch de Islay e outros aparecendo em publica��es de Nova York nessa �poca.
No entanto, foi somente no final do s�culo 19 que a ind�stria do u�sque escoc�s realmente come�ou a se concentrar em se tornar global.Em meados de 1800, o governo relaxou as regulamenta��es relativas � bebida.
Anteriormente, os produtores n�o tinham permiss�o para misturar ou mesclar seus u�sques individuais, que geralmente eram crus e inconsistentes.
Depois que as regras mudaram, a ind�stria p�de produzir uma ampla e consistente variedade de sabores para atender a diferentes paladares, dando ao u�sque a oportunidade de atrair mais apreciadores.
Combinados com as rotas comerciais globais j� estabelecidas fora do Reino Unido, os produtores de u�sque escoc�s, como Dewar's, Buchanan's e Johnnie Walker, conseguiram expandir seus neg�cios no mercado interno e no exterior.
Um gosto global por u�sque

Hoje, o u�sque escoc�s do tipo blended comp�e a maioria (59%) das exporta��es da ind�stria em valor.
O blended tamb�m obteve o maior aumento nas exporta��es no ano passado. Ele cresceu 43%, alimentando o aumento geral do valor das exporta��es escocesas de 25%.
Embora a �ndia e a China tenham emergido nos �ltimos anos como destinos importantes, os primeiros mercados de exporta��o estabelecidos pelos produtores escoceses, como Estados Unidos, Fran�a, Am�rica do Sul e pa�ses asi�ticos, incluindo Cingapura e Taiwan, ainda s�o os principais destinos do u�sque escoc�s.
A ind�stria tem estado sujeita a muita aten��o do governo de Westminster na forma de regulamenta��o e tributa��o nos �ltimos 200 anos, come�ando com o Excise Act de 1823. Isso encorajou o foco da ind�stria no exterior.
Tarifas e proibi��es diretas, como a Lei Seca dos Estados Unidos de 1920 a 1933, pouco fizeram para diminuir o apetite pelo produto.
No caso da proibi��o, a ind�stria usou todos os meios para levar o u�sque escoc�s para os Estados Unidos, incluindo traficantes de rum no Caribe e la�os com mafiosos no Canad� – retratados mais recentemente no programa de TV Peaky Blinders.
E, desde o in�cio do s�culo 20, o governo do Reino Unido reconheceu e impulsionou o valor de exporta��o do u�sque escoc�s como um benef�cio para a economia.
O ent�o primeiro-ministro Winston Churchill, um conhecido bebedor escoc�s, reconheceu seu valor durante a Segunda Guerra em um memorando do governo de 1945.
"Em hip�tese alguma reduziremos a (produ��o de) cevada para u�sque. Isso leva anos para amadurecer e � uma exporta��o inestim�vel. Tendo em conta todas as nossas outras dificuldades sobre exporta��o, seria muito imprudente n�o preservar esse elemento caracter�stico de ascend�ncia brit�nica."
Mas o foco nas exporta��es prejudicou o com�rcio interno. Ap�s a proibi��o dos EUA e a Segunda Guerra, as exporta��es globais de u�sque escoc�s cresceram de 50% da produ��o total do Reino Unido em 1939 para 75% em 1954.
A ind�stria desde ent�o enfrentou v�rios desafios nos mercados internacionais, mas ainda continuou a crescer.
As exporta��es escocesas t�m sido mais lentas nos �ltimos anos devido aos efeitos combinados da livre circula��o (afetando o importante mercado duty-free) e restri��es comerciais decorrentes da pandemia, do Brexit e da introdu��o de altas tarifas em mercados-chave como os EUA e �ndia.
Mas os produtores de u�sque claramente aprenderam li��es de uma longa hist�ria de resposta aos desafios globais.
A ind�stria se adaptou rapidamente, concentrando-se na qualidade e no luxo e lan�ando novos produtos.
O surgimento de single malts nos �ltimos 30 anos como um produto distinto nos mercados de exporta��o � um bom exemplo disso.
Antes do in�cio da d�cada de 1990, o single malt era um produto relativamente de nicho, sem alcance significativo nos mercados dom�sticos ou externos.
Ent�o, um colapso global na demanda por u�sque misturado levou a um excesso de estoque de "recheios" de single malt – os ingredientes para o u�sque misturado.
A ind�stria usou estrat�gias de marketing, branding e distribui��o para transformar esse excesso de estoque em um produto de luxo, construindo a percep��o de escassez e valor em idade e proveni�ncia.
Desde ent�o, os single malts cresceram para compreender cerca de um quarto do valor das exporta��es escocesas.
Em �ltima an�lise, o sucesso recente da ind�stria do u�sque escoc�s no crescimento das exporta��es n�o aconteceu da noite para o dia.
Levou muito tempo para se desenvolver e amadurecer. Muito parecido com um bom u�sque escoc�s.
*Niall G MacKenzie � professor de Empreendedorismo e Hist�ria Empresarial, Universidade de Glasgow
**Este artigo foi publicado no The Conversation e reproduzido aqui sob a licen�a Creative Commons. Clique aqui para ler a vers�o original, em ingl�s.