
“Fizemos um painel em quadrinhos porque a ideia � chamar aten��o. At� quando a filha ou o filho est�o passando com a m�e, eles podem perguntar o que � aquilo e chamar aten��o para ela sobre essas situa��es”, explica Pel� sobre como surgiu o interesse pelo formato com o qual trabalharam.
Segundo o artista, idealizador do projeto Favela Bela, a iniciativa de pintar o mural surgiu de uma reuni�o do Encontro Mulher Bela da Favela, no qual busca-se incentivar o empoderamento das mulheres das comunidades do Aglomerado Santa L�cia, na Regi�o Centro-sul de Belo Horizonte.
“Com o Encontro [Mulher Bela da Favela], buscamos puxar o bonde para essas discuss�es antes que aconte�a alguma coisa, porque a gente s� v� mobiliza��o depois que v�rias mulheres morrem. L�, surgiu a ideia de fazer o mural”, afirma Pel�.
O painel
A hist�ria que o painel conta � a de um relacionamento que come�ou bem e passou a desandar com algumas limita��es impostas pelo parceiro da mulher. Logo no in�cio do mural, h� um “machist�metro”, que mede os n�veis de agress�o at� chegar ao feminic�dio.
As restri��es come�am com coment�rios como “Eu te pro�bo de sair de roupa curta” e “N�o quero que voc� saia com mais ningu�m al�m de mim”, mas em pouco tempo, os abusos passam a ser f�sicos. Na hist�ria, ap�s um tapa no rosto, a personagem feminina denuncia o homem, que vai preso, mas, ap�s se desculpar e pedir uma segunda chance, � o respons�vel pela morte da parceira poucos meses depois.
Desde o come�o da HQ, o homem � retratado com tra�os grotescos, quase monstruosos e que mostram, fisicamente, a agressividade que guarda dentro de si. Conforme os quadros passam, � poss�vel ver, tamb�m, a mulher se encolhendo e ficando cada vez menor e com uma express�o de medo. Quando recebe o tiro do parceiro, ela se arrepia e, no caix�o, recebe um semblante triste.
Ao in�cio e ao fim do painel, os artistas tentam exemplificar diferentes meios pelos quais uma mulher pode sofrer abusos - sejam f�sicos ou psicol�gicos - e, quando identific�-los em seu relacionamento, pedem para que ela pe�a ajuda. Pel� ainda explica que, amanh� (29/6), complementar�o o mural com n�meros de atendimento e assist�ncia �s mulheres que se encontram nessas condi��es e que tiveram aux�lio da coordena��o do Centro de Sa�de Santa L�cia.
“� importante que elas se sintam acolhidas, e nosso trabalho pode ajudar essas mulheres. N�o fizemos isso sozinhos, tivemos ajuda da Maria Moura, uma das coordenadoras do Centro Cultural do Posto de Sa�de. Ela nos deu alguns panfletos para aprendermos mais sobre o assunto, e a partir disso, fizemos o mural”, comenta o artista.
Inspira��o
O projeto Favela Bela foi pensado pelo morador Fabiano Valentino e colocado em pr�tica com a ajuda de amigos, moradores do aglomerado e pessoas de fora da vila, como grafiteiros convidados. A ideia surgiu depois que Pel�, aos 16 anos, desenhou e pintou em becos e fez um quadro ilustrando a favela toda pintada. Segundo ele, a iniciativa tem como objetivo “levar mais cor e alegria para a vida das pessoas que moram nas favelas”.
A iniciativa � sustentada, desde o princ�pio, por pessoas da comunidade e volunt�rios. Como o Favela Bela existe h� algum tempo e j� alcan�ou certa visibilidade em Belo Horizonte, � comum que pessoas queiram ajudar com doa��es de utens�lios necess�rios para que o empreendimento n�o pare. As doa��es s�o feitas geralmente por escolas, creches, moradores da comunidade que t�m restos de tintas guardados em casa e tamb�m pessoas de fora.
Recentemente, o projeto promoveu o 1º Encontro Mulher Bela da Favela, evento que abordou temas relacionados � viol�ncia contra a mulher, sa�de e cuidados, al�m de ter realizado atividades recreativas, como aula de zumba, capoeira, dan�a afro e samba. Foi nesse encontro, tamb�m, que o mural foi idealizado, apesar de certa resist�ncia das mulheres em ter um homem no desenvolvimento da arte.
“Algumas mulheres chegaram para mim e falaram ‘Poxa, fazer um evento desse com um homem no meio? A gente n�o acha legal’, mas conversando com elas, no final do evento, o pensamento delas tinha mudado. Eu sou um homem, mas n�o sou violento, ent�o tamb�m devo ser um ponto de apoio para elas, temos que valorizar isso”, explica Pel�.
* Estagi�ria sob supervis�o do subeditor Thiago Prata