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Estado de Minas MULHERES NA CI�NCIA

Cientista da periferia de Salvador ser� palestrante na TEDxBelo Horizonte

Gabryele Moreira � formada em F�sica M�dica, mestre em Ci�ncias pela USP, premiada e participa de programas internacionais


22/07/2022 18:18 - atualizado 22/07/2022 18:48

Gabryele é uma mulher negra e usa tranças longas no cabelo. Ela usa um jaleco e luvas brancas enquanto segura um recipiente com um líquido rosa
Gabryele Moreira ser� uma das palestrantes do TEDxBelo Horizonte (foto: Cassimano Nanau/Reprodu��o)
Gabryele Moreira � uma mulhernegra de 30 anos e ser� uma das 13 palestrantes da segunda edi��o do TEDxBelo Horizonte, cujo tema � “Ouse Saber”. Natural da periferia de Salvador (BA), � a primeira da fam�lia a ter ingressado em uma universidade p�blica e busca fazer com que as pessoas reflitam quem s�o os cientistas, sobre a import�ncia de a��es afirmativas e como incentivar as mulheres a trilharem o caminho da ci�ncia.

Filha de uma dona de casa e de um funcion�rio de coletivo urbano, ambos com forma��o at� o ensino m�dio, a cientista � bacharel pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), uma das �nicas universidades que possuem o curso de F�sica M�dica, no qual � formada, al�m de mestre em Ci�ncias no Programa de Tecnologia Nuclear da USP, bolsista do Programa de Bolsas Marie Curie da Ag�ncia Internacional de Energia At�mica (IAEA) e colaboradora na Women in Nuclear Brasil (WiN Brasil). Estudou a vida inteira em escolas p�blicas, mas s� foi entender como funcionavam as universidades durante o ensino m�dio.

“Na escola, descobri que a universidade era p�blica, gratuita, que ela tamb�m era para mim e que as cotas existiam. Entrei na universidade pelas cotas raciais e sociais, e me mantive l� atrav�s de pol�ticas p�blicas de aux�lio aos estudantes”, explica ela, que ainda fala sobre as mudan�as que isso lhe proporcionou.

“Fui a primeira a entrar em uma universidade na minha fam�lia, que vem de um ciclo de mulheres negras que s�o empregadas, diaristas, numa rela��o de subemprego mesmo. Sempre quis mudar essa hist�ria da minha fam�lia, e estou conseguindo. Sou uma mulher negra intelectual”, completa.

Trajet�ria acad�mica


Durante a gradua��o, participou de quatro inicia��es cient�ficas, sendo premiada enquanto fazia parte de uma delas em um congresso nacional. “Foi atrav�s das ICs (inicia��es cient�ficas) que eu tive um ‘despertar’, vi que queria muito trabalhar em laborat�rio e fazer ci�ncia. A partir do momento em que ganhei aquela premia��o no congresso, comecei a me projetar para al�m daquilo, porque lidei com pessoas de v�rios n�veis, muitas delas, acima de mim”, relata Gabryele.

A partir dessa premia��o, Gabryele passou a ganhar mais notoriedade e foi convidada por uma professora da Universidade de S�o Paulo (USP) para fazer um mestrado. Assim que terminou sua gradua��o, fez o processo seletivo para ajudar nas pesquisas energ�ticas e nucleares, tendo ingressado no Programa de Tecnologia Nuclear da USP, o maior da Am�rica Latina, e trabalhado no primeiro reator do Brasil, finalizando seu mestrado em maio deste ano.

Na USP, Gabryele tamb�m precisou de a��es afirmativas e lembra que, caso n�o houvesse o aux�lio necess�rio, viveria um dilema. “S�o Paulo tem um custo de vida muito alto para o valor das bolsas que a gente recebe como pesquisador. A USP � a �nica universidade do Brasil que tem um suporte para a p�s-gradua��o, ent�o, o aluno que tem uma renda baixa consegue concorrer a uma vaga na moradia, o que me garantiu a perman�ncia na universidade para concluir o mestrado”, explica.

Por muito tempo, a �nica fonte de renda de Gabryele foram as bolsas. “Sempre sobrevivi com o valor de R$ 650. Sempre falo que sobrevivi porque era muito pouco, mas eu precisava passar por aquilo porque eu era a �nica na fam�lia a ter um ensino superior”, conta ela.

Foi tamb�m na mesma �poca que a cientista resolveu se inscrever para o Programa de Bolsas Marie Curie da Ag�ncia Internacional de Energia At�mica, vinculada � Organiza��o das Na��es Unidas (ONU), uma premia��o para mulheres que as avaliam pelas notas em produ��es acad�micas. Em 2021, foi uma das 110 mulheres selecionadas para receber a premia��o em dinheiro e uma bolsa de est�gio em um pa�s da Europa. “Nunca pensei que, eu, Gabi, teria condi��es de me bancar na Europa. Ent�o, aceitei e fiquei muito feliz, vibrante”, relata.

Durante a pandemia, Gabryele reuniu alguns amigos para desenvolver um cursinho on-line voltado para o vestibular cujo nome era “Maca�”, em homenagem � educadora mineira Maca� Evaristo que, hoje, � vereadora de Belo Horizonte. “Alguns dos nossos alunos passaram em primeiras coloca��es, o cursinho foi muito bom e resolvemos colocar o nome de uma educadora famosa na �poca”, disse a cientista.

TEDxBelo Horizonte


O TED � uma organiza��o sem fins lucrativos dedicada a “Ideias que merecem ser compartilhadas”, que surgiu como uma confer�ncia na Calif�rnia, nos EUA, h� cerca de 30 anos. A organiza��o criou, mais recentemente, um programa chamado TEDx, que acontece localmente e � organizado de maneira aut�noma e re�ne pessoas para compartilhar experi�ncias de maneira semelhante ao evento original.

Na edi��o de Belo Horizonte, que acontecer� em 6 de agosto, das 13h �s 20h30, no Sesc Palladium, 13 palestrantes estar�o presentes para falar ao vivo e estimular discuss�es entre grupos pequenos, al�m de v�deos de TED Talks transmitidos ao longo do dia.
 
 
Como uma das palestrantes, Gabryele Moreira falar� sobre mulheres negras na ci�ncia. “Eu sou uma mulher preta retinta, e � dif�cil encontrar, nesses lugares [acad�micos e cient�ficos] pessoas de uma pele t�o escuro e de um cabelo t�o crespo, black power. Nesses lugares, voc� encontra, geralmente, homens brancos. Comecei a perceber isso, tive uma inquietude de estar nesse espa�o e comecei a me questionar: quem est� atuando nos institutos? � uma �rea dominada por homens, uma �rea machista”, conta.

A cientista tamb�m conta que reuniu um grupo de mulheres para mapear a presen�a feminina na ci�ncia. “Foi um trabalho muito pioneiro trabalhar g�nero dentro da �rea nuclear. Separei para o TEDx uma palestra voltada para mulheres na ci�ncia e vou fazer uma reflex�o de quem s�o os cientistas. A gente precisa trazer isso e � importante porque, por mais que mulheres negras sejam maioria na sociedade, nessas �reas de ci�ncias, estamos em menor propor��o. E mesmo entre mulheres brancas, quem est� em maior quantidade ainda s�o os homens”, diz.

Gabryele tamb�m questionar� quem s�o os cientistas que produzem para as mulheres e quais as consequ�ncias disso. “Os homens desenvolvem anticoncepcionais e somos n�s que ficamos cheias de horm�nio, com v�rios efeitos colaterais que podem levar at� a morte. Os homens que desenvolveram o mam�grafo e as mulheres n�o gostam desse exame por sentirem muita dor. � importante ter mulheres atuando na ci�ncia por esses e muitos outros motivos”, explica.

Al�m da preocupa��o com a atua��o feminina,a cientista tamb�m refor�a a exist�ncia de mulheres negras na ci�ncia. “A gente acaba tendo um atraso hist�rico em rela��o �s mulheres brancas. Enquanto as mulheres negras ainda lutavam pelo movimento de sair da escravid�o, de rela��es com o subemprego e com o trabalho dom�stico, as mulheres brancas estavam conquistando outros direitos, de sair de casa para trabalhar em f�bricas, para ter direito ao voto. Vou trazer isso para a discuss�o”, conta Gabryele.
 
 
Como t�pico essencial, ela tamb�m trar� discuss�es a respeito de cotas. “Preciso falar sobre esse tema porque eu fui cotista. Eu sou a prova de que as pol�ticas p�blicas funcionam e s�o uma maneira de diminuir a desigualdade social. Entrei e permaneci na universidade por pol�ticas p�blicas e, hoje, sou uma cientista”, relata.
 

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