
Apesar da indica��o de Brendan Fraser ao Oscar de melhor ator, o filme “A Baleia” vem dividindo opini�es dos espectadores. Enquanto muitos veem o filme como um drama tocante, a parte do p�blico composta por pessoas gordas e obesas se sentiu violentada e desrespeitada com a representa��o do personagem principal, Charlie.
As cr�ticas v�o desde o t�tulo do filme, que � apontado como uma forma de animaliza��o dos corpos gordos, passando pela escala��o de um ator que est� longe de ser obeso e o uso de “fatsuit” ao inv�s da escala��o de um ator gordo, at� o pr�prio roteiro, que refro�a estere�tipos negativos.

Um dos cartazes de divulga��o do filme j� gerou pol�micas. A pe�a mostra o corpo de Charlie de lado, na �gua, cortando quase toda sua cabe�a. Essa pr�tica, de n�o mostrar o rosto da pessoa gorda, � chamada de “headless fatty” e promove a desumaniza��o dessa parcela da popula��o.
Obesidade na tela
No filme, o espectador acompanha Charlie, um professor de 270kg que vive recluso em seu apartamento e, ao receber a not�cia de que ir� morrer em breve, tenta se reconectar com a filha que abandonou ao assumir um relacionamento com outro homem. O filme intencionalmente passa a sensa��o de claustrofobia e mostra dificuldades que Charlie enfrenta no dia-a-dia.Entretanto, � frisado ao longo do filme a negativa do personagem em buscar ajuda, sob uma suposta justificativa de que n�o teria dinheiro para o tratamento, uma vez que n�o existe um sistema p�blico de sa�de nos Estados Unidos. Diversos personagens insistem para que Charlie busque ajuda, mas ele sempre recusa.
“Eu acho que foi um filme que usou da tristeza para falar que n�s pessoas gordas temos condi��es de nos tratarmos, mas n�s n�o queremos”, diz Erick.
Al�m disso, o filme refor�a o estere�tipo de que pessoas gordas s�o gordas por op��o, sendo um reflexo de falta de autocuidado, por serem relaxadas e por isso tamb�m seriam nojentas. “A Baleia” aponta que Charlie tamb�m sofre com depress�o, mas n�o � mostrado uma preocupa��o com a sa�de mental, como a procura por um psic�logo ou terapeuta.
Erick explica que um dos principais eixos da gordofobia � acreditar que a pessoa engorda por vontade pr�pria. Uma vez que a obesidade foi classificada como uma doen�a, ainda h� uma falta de preparo do sistema de sa�de de se entender causas e tratamentos al�m de um atendimento respeitoso. “As pessoas olham para a obesidade como uma falta de car�ter, e n�o como uma quest�o fisiol�gica que precisa ser auxiliada, analisada e controlada”, afirma Erick.
Rea��es e percep��es
Pessoas gordas, em especial influencers e ativistas pelos direitos e pelo respeito aos corpos gordos, usaram as redes sociais para denunciar a gordofobia presente na obra. Rayane Souza, criadora de conte�do digital e fundadora do Gorda na Lei, projeto de ativismo jur�dico de combate � gordofobia, usou o instagram para postar um v�deo sobre “A Baleia”.
Na postagem, Rayane afirma que a forma o corpo do personagem principal se movimenta na tela e a forma que a c�mera passa ao espectador a sensa��o de desconforto, refor�a que aquele corpo precisa ser visto como um grande fracasso. Ela declara ainda que a obra n�o gera empatia alguma, e refor�a o estere�tipo de que pessoas gordas s�o pessoas tristes, mal resolvidas e indignas de afeto.
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“Infelizmente a gente pode estar diante de uma das produ��es mais cru�is da hist�ria do cinema em rela��o �s pessoas gordas e isso est� a beira de receber uma estatueta de melhor filme do ano. � isso que a gordofobia faz e � assim que o mundo olha pra gente”, disse a influencer no v�deo.
A influencer e ativista corporal mexicana Priscila Arias tamb�m criticou a produ��o em suas redes sociais. “Certamente para os amantes do cinema � um bom drama, mas da minha perspectiva como ativista do corpo, como uma pessoa gorda, que teve dist�rbios alimentares, que experimentou gordofobia internalizada durante a maior parte de sua vida, posso dizer que h� muito mais do que � distorcido dentro da mensagem do filme”.
*Estagi�ria sob supervis�o de Vera Schmitz
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Al�m disso, muitos dos coment�rios mostram o receio de algumas pessoas ao assistirem “A Baleia” devido aos gatilhos que podem surgir da tela. A psic�loga e ativista Gabriele Menezes n�o sente vontade de assistir o filme por identificar gordofobia e estere�tipos j� no material de divulga��o.
“Eu penso no privil�gio das pessoas magras, que elas n�o precisam pensar nessas quest�es que a gente tem levantado, que inclusive chama de mimimi, porque as pessoas n�o t�m empatia pelas pessoas gordas quando elas reclamam ou apontam uma coisa que n�o � legal para elas”
Confira mais rea��es:
Ainda bem que li isso aqui antes de ver o filme. H� meses n�o saio na rua por desconforto em existir. Ler j� foi bem violento, aguentaria assistir n�o.
%u2014 TenebraDark (@tenebradarkness) February 25, 2023
O filme chama A BALEIA! A BALEIA e tem gente querendo dizer que n�o � gordofobia. Se fosse sobre um negro e chamasse O MACACO, sobre um gay e chamasse O VIADO, talvez elas entendessem. A naturaliza��o da gordofobia � isso ai.
%u2014 Adriana (@DriRValle) February 26, 2023
estou vendo a baleia pelo tv box logo venho dizer quanto gatilho de gordofobia me deu
%u2014 duards %u2728 (@duardsjo) February 26, 2023
Mano so eu que acho que o filme "A baleia" tem um puta nome ruim, � literalmente gordofobia e ningu�m fala direito sobre
%u2014 Niv�cius (@littletouro) February 24, 2023
Poucos filmes me desafiaram tanto este ano quanto %u201CA Baleia%u201D. Boa den�ncia contra gordofobia e homofobia que vez ou outra soa gordof�bico e homof�bico em si.
%u2014 T. Nira (@taruimvaipiorar) February 26, 2023
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