
O resultado dessa uni�o foi a cria��o da GWL Voices for Change and Inclusion, quatro anos atr�s. Reunindo 52 l�deres femininas de todo o mundo, a iniciativa lan�ou neste m�s seu primeiro estudo, que contabiliza a quantidade de mulheres em postos de comando de 33 entidades multilaterais desde 1945. A lista inclui n�o s� as diversas ag�ncias da ONU como tamb�m organiza��es como Banco Mundial, Fundo Monet�rio Internacional (FMI) e Organiza��o Mundial do Com�rcio (OMC).
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O relat�rio mostra que, de um total de 382 l�deres que essas entidades j� tiveram, 335 eram homens e 47 eram mulheres --ou seja, elas s� estiveram no comando em 12% das vezes. Al�m disso, mesmo que a presen�a feminina na chefia de institui��es do tipo tenha crescido a partir dos anos 1990, hoje s� um ter�o das organiza��es mapeadas s�o conduzidas por mulheres.
Os dados n�o chegam a surpreender, uma vez que refletem em certa medida propor��es registradas em outras �reas. Malcorra afirma, por�m, que a GWL optou por compil�-los justamente para deixar que o baixo n�mero de mulheres falasse por si mesmo.
"O intuito n�o � apontar culpados. Nossa proposta � analisar o panorama e mostrar que algo precisa ser feito para al�m da ret�rica", diz. Ela j� passou por diversas ag�ncias da ONU e foi ministra de Rela��es Exteriores, Com�rcio Internacional e Culto da Argentina entre 2016 e 2017, na gest�o Maur�cio Macri.
Malcorra acrescenta que o relat�rio lan�ado este m�s � o primeiro de outros dois estudos a serem publicados ainda este ano, aferindo a quantidade de mulheres em postos de chefia de segundo e terceiro escal�o e nas equipes que representam seus Estados-membros nesses mesmos organismos. Juntos, os tr�s estudos formariam uma esp�cie de "grande sistema de monitoramento", nas palavras dela.
Al�m de n�meros, a pesquisa inicial tamb�m permite entrever o perfil dos organismos que registraram mais l�deres mulheres ao longo de sua hist�ria, mais relacionados a temas feminizados, como inf�ncia, educa��o e direitos humanos.
J� as entidades que lidam com temas como finan�as e trabalho costumam ter menos mulheres no topo. Das 33 institui��es analisadas, 13 nunca tiveram lideran�a feminina, sendo quatro delas alguns dos maiores bancos de desenvolvimento do mundo -o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento, o Banco Asi�tico de Desenvolvimento, o Banco Africano de Desenvolvimento e a Organiza��o para o Desenvolvimento Industrial da ONU. Outras cinco s� foram dirigidas por mulheres uma �nica vez em sua hist�ria.
Malcorra afirma que o motivo para essa aus�ncia � simples: "preconceito". Mas a solu��o tamb�m � simples, segundo a argentina. Implementar abordagens sistem�ticas que permitam que pol�ticas de equidade de g�nero sejam duradouras e n�o pontuais, reconhecendo a necessidade de que cerca de metade da popula��o mundial seja devidamente representada nessas institui��es.
Ela d� como exemplo a Assembleia-Geral da ONU, �rg�o multilateral com a maior quantidade de membros do mundo. As elei��es para a Presid�ncia da ag�ncia j� t�m como crit�rio a rotatividade geogr�fica -no pr�ximo pleito, em setembro, a lideran�a necessariamente ser� da Am�rica Latina e Caribe, por exemplo. A GWL recomenda que a esse requisito seja acrescentado o da rotatividade de g�nero. O �rg�o s� teve presidentes mulheres quatro vezes desde a sua funda��o.
A cofundadora da GWL acrescenta que outra das bandeiras da organiza��o � o fortalecimento do pr�prio sistema multilateral, que vinha perdendo import�ncia antes da eclos�o da pandemia e da Guerra da Ucr�nia. Para ela, esse sistema � central para a manuten��o dos direitos das mulheres pelo mundo, uma vez que organismos multilaterais t�m o poder de pressionar Estados de diversas maneiras. Quando esse sistema se enfraquece, muitas na��es se sentem mais livres para avan�ar sobre esses direitos, com frequ�ncia sob o argumento de que eles v�o contra um conceito tradicional de fam�lia.
A argentina cita o caso do Afeganist�o, onde mulheres t�m perdido acesso � educa��o e ao trabalho --mas observa que a supress�o de direitos n�o � exclusiva do pa�s, e foi vista nos Estados Unidos no ano passado, quando a Suprema Corte decidiu que o aborto � inconstitucional, e no pr�prio Brasil no governo de Jair Bolsonaro. "Direitos femininos s�o direitos humanos. Esta � uma quest�o muito ampla, que requer n�o s� discuss�es, mas a��es", diz.
Quem s�o as fundadoras do GWL Voices
Helen Clark, 73
Primeira-ministra da Nova Zel�ndia de 1999 a 2008 e diretora do Programa de Desenvolvimento da ONU entre 2009 e 2017
Irina Bokova, 70
Ex-ministra das Rela��es Exteriores da Bulg�ria, comandou a Unesco entre 2009 e 2017
Susana Malcorra, 68
Ministra das Rela��es Exteriores da Argentina entre 2016 e 2017 e chefe de gabinete do secret�rio-geral da ONU entre 2012 e 2015