
S�o Paulo – Fundada em 2012 pelo espanhol Sergio Furio, a Creditas est� entre as quatro startups brasileiras que apareceram recentemente no ranking Fintech 100, elaborado pela KPMG e pelo fundo de investimentos em fintechs de est�gio inicial H2 Ventures. O levantamento foi feito com base em informa��es coletadas em 29 pa�ses com o objetivo de selecionar as startups mais inovadoras do setor financeiro.
O empreendedor n�o divulga n�meros sobre a carteira de clientes ou o volume de empr�stimos concedido. Mas o desempenho tem chamado a aten��o dos investidores. At� agora, a fintech recebeu um total de R$ 1,2 bilh�o em aportes de fundos internacionais de ventura capital. A rodada mais recente aconteceu em junho. Foram US$ 231 milh�es, liderados pelo SoftBank, que avaliou a Creditas em US$ 700 milh�es. Na �poca, Akshay Naheta, s�cio-gerente da SoftBank Investment Advisers, declarou: “Embora exista uma grande demanda por empr�stimo no Brasil, o mercado � ineficiente”.
Com a demanda em alta, a proje��o de Furio � triplicar o faturamento a cada ano, de 2020 a 2022. A explica��o para uma proje��o t�o otimista est�, em parte, nas taxas cobradas pela Creditas: a partir de 0,99% para cr�dito com garantia de im�vel, a partir de 1,59% para ve�culo, e de 1,29% para consignado provado.
Outra fonte de expans�o dos neg�cios ser� o in�cio das opera��es da Creditas no M�xico, onde a fintech j� come�ou a contratar funcion�rio e deve abrir as portas ainda no primeiro trimestre do ano que vem. As aquisi��es e a entrada em novos segmentos, como aconteceu recentemente com a compra da Creditoo (especializada em cr�dito consignado) s�o outra possibilidade para continuar a acelerar a receita.
Como a Creditas tem conseguido ganhar terreno em um mercado em que h� a concorr�ncia das grandes institui��es?
O grande diferencial est� na tecnologia, na agilidade, na forma como nos conectamos com o cliente. Criamos uma experi�ncia digital para o cliente, algo com o qual ele n�o estava acostumado. At� ent�o, esse tipo de cr�dito envolvia muita papelada e o contato f�sico, mas transformamos a experi�ncia dando mais agilidade e acabando com a burocracia. Al�m disso, passamos a oferecer taxas de juros bem mais atraentes. Hoje, � poss�vel negociar um cr�dito com o im�vel como garantia a partir de 0,99% ao m�s. A ind�stria come�ou a copiar a nossa taxa de juros.
''O grande diferencial est� na tecnologia, na agilidade, na forma como nos conectamos com o cliente''
O que mais pesa na decis�o entre um banco tradicional e uma fintech?
Tamb�m faz diferen�a a experi�ncia que oferecemos para o cliente. Ele se cadastra no site e tem a resposta instantaneamente depois de preencher dados como nome, CPF e data de nascimento. Quando ele compara com a experi�ncia que tinha com os bancos, ou com os chamados pastinhas, de antigamente, quando era preciso fornecer c�pia de documento, holerite e outros pap�is, decide pela op��o mais pr�tica. Por exemplo, n�o precisamos da matr�cula do im�vel para levantar informa��es, basta o IPTU e o n�mero do contribuinte. O restante � automatizado. N�o divulgamos nossos n�meros, mas hoje lideramos no segmento de empr�stimo com garantia de ve�culo e estamos entre os tr�s primeiros no de im�vel.
Como a inadimpl�ncia tem se comportado?
Atualmente, a retomada do bem est� abaixo de 1%. Estruturamos a opera��o de forma que o pagamento possa ser feito. O cliente n�o paga se entregamos um produto ruim para ele. Para evitar esse problema, n�o s� avaliamos o perfil do potencial contratante, mas do ativo e at� da sua poss�vel liquidez. Nosso trabalho inclui ajudar a reformar a casa para a venda, por exemplo. A solu��o vai de ponta a ponta.
''O segredo � ter baixo custo e a qualidade da carteira de cr�dito. Focamos na cria��o de uma carteira de cr�dito com inadimpl�ncia baixa''
Qual � o grande desafio no segmento, torn�-lo mais conhecido do brasileiro?
O maior desafio � a educa��o financeira do brasileiro, que � relativamente baixa e o leva a tomar decis�es erradas, como usar cheque especial, o rotativo do cart�o ou fazer empr�stimo pessoal, que s�o modalidades com juros de 200% ao ano. No final, ele tem de pagar o juro mais o principal. No terceiro m�s o cliente n�o consegue pagar mais nada e entra em uma bola de neve. Por isso, acreditamos que � preciso investir em educa��o financeira. O brasileiro tem de ser realista com o que tem dispon�vel e aprender a estruturar a d�vida do jeito certo. Temos feito um esfor�o grande de levar informa��o para os clientes, por exemplo, nas redes sociais, com v�deos muito simples para ele entender o produto. A realidade � que as pessoas est�o sem tempo, n�o v�o ler uma apostila de 40 p�ginas, mas est�o com o celular o tempo todo. Al�m disso, temos assessores financeiros que d�o informa��es de gra�a para que ele entenda como matar essas dividas. Nossa f�rmula de educa��o financeira combina canal digital, v�deos e assessoria.
H� outros desafios para uma fintech com um crescimento t�o r�pido?
Sim, essa velocidade de crescimento tamb�m � desafiadora. No come�o do ano t�nhamos cerca de 500 funcion�rios, atualmente s�o mais de 1.400. Isso representa o desafio de contratar e treinar. Tamb�m � dif�cil encontrar o perfil certo, principalmente na �rea de tecnologia, analistas de cr�dito e assessores pessoas. Aqui queremos n�o s� que a equipe tenha cultura de dono, mas que goste do contato com o cliente. Para n�s, n�o basta a tecnologia, tamb�m valorizamos o contato humano, mesmo entre aqueles que n�o v�o ter essa aproxima��o. � importante que cada �rea entenda qu�o importante � conhecer e trabalhar para atender a essas demandas. Assim o cliente vai se sentir mais confort�vel. Temos de nos adequar ao cliente, n�o o contr�rio. Essa paix�o vai al�m de falar com ele, inclui sentir as dores para que no fim do dia nosso colaborador sempre pense em como entregar o melhor produto para o cliente. Por isso, todos os colaboradores quando come�am na Creditas passam uma semana escutando as conversas com os clientes para entender o que eles precisam. O trabalho dele toma sentido quando v� o que realmente � necess�rio oferecer. Isso significa mostrar qual � o prop�sito pelo qual trabalhamos, o que faz muito sentido para os millennials, principalmente.
''Hoje, � poss�vel negociar um cr�dito com o im�vel como garantia a partir de 0,99% ao m�s''
Como � poss�vel captar recursos em condi��es melhores sendo uma institui��o financeira menor?
O segredo � ter baixo custo e a qualidade da carteira de cr�dito. Focamos na cria��o de uma carteira de cr�dito com inadimpl�ncia baixa. O investidor que investe na gente gosta de ver que tem uma carteira de cr�dito muito boa, que os clientes conseguem pagar. Al�m disso, apesar de o custo de capta��o das institui��es ser mais baixo, o custo operacional � mais alto.
Por que tomou a decis�o de entrar no segmento de cr�dito consignado por meio da aquisi��o da Credito? Qutras aquisi��es podem acontecer?
Decidimos pela aquisi��o pelo conhecimento que estava sendo adquirido. � uma empresa j� com ativo, o que nos d� velocidade, d� tra��o para o negocio. Para crescer podemos fazer outros movimentos.
A decis�o do BC de iniciar as consultas sobre o open ranking pode afetar as fintechs?
Esse assunto est� na pauta do Banco Central h� pelo menos um ano. Participamos ativamente de algumas conversas e fizemos um piloto de open banking para mostrar ao BC. Na ocasi�o, alguns bancos defenderam que os custos com o open banking seriam altos. Mas � o contr�rio, porque haver� mais efici�ncia a um custo mais baixo. N�o deve haver remunera��o para open banking. O cliente � o dono da informa��o. O que precisamos � garantir um servi�o bom e simples, o que certamente vai fomentar a concorr�ncia. Como resultado dessa transpar�ncia, ser� poss�vel reduzir os custos com uma taxa de juros menor. A experi�ncia tamb�m ser� melhor para o cliente. Alguns bancos defendem que haja cobran�a de tarifa sobre consultas, mas as experi�ncias internacionais mostram o contr�rio. O que os bancos querem � repassar o custo de investimento em tecnologia.
A meta de crescimento anual � agressiva – triplicar o faturamento nos pr�ximos tr�s anos. Essa proje��o leva em considera��o o movimento que os concorrentes podem fazer?
Isso ser� poss�vel porque investimentos bastante na nossa plataforma nos �ltimos anos para poder crescer. Essa proje��o leva em considera��o a concorr�ncia.