Escultura Touro de Ouro, instalada em novembro de 2021 na frente da bolsa de valores de São Paulo, com cartaz de protesto escrito 'Fome'

Alberto Ramos, diretor de pesquisa econ�mica para Am�rica Latina do segundo maior banco de investimentos do mundo, v� boa vontade de investidores com Lula. Mas avalia que pa�s tem pouco tempo para mudar quadro econ�mico e social, sob risco de perder governabilidade

Reprodu��o/Twitter

Se o Brasil perder mais uma d�cada em termos de crescimento econ�mico, pode acabar perdendo meio s�culo. O alerta � de Alberto Ramos, diretor de pesquisa econ�mica para Am�rica Latina do Goldman Sachs, segundo maior banco de investimentos do mundo.

"O que me preocupa � que, se a gente n�o encontrar um caminho de crescimento mais robusto e socialmente inclusivo, fique muito dif�cil de governar esse pa�s. Que a governabilidade acabe se deteriorando muito, pela desestrutura��o do sistema institucional e pela press�o social", afirma o economista, em entrevista � BBC News Brasil.

Ramos — que considera a d�cada de 2010 perdida para o pa�s, assim como a de 1980 — n�o mudou sua percep��o sobre o Brasil e o futuro do terceiro mandato de Luiz In�cio Lula da Silva (PT) com os acontecimentos de 8 de janeiro em Bras�lia, quando radicais bolsonaristas depredaram pr�dios p�blicos dos tr�s poderes da Rep�blica.

"A expectativa � de que isso tenha sido um epis�dio isolado", diz o analista. "N�o est� no meu cen�rio a possibilidade de uma ruptura institucional. Me parece que as institui��es no Brasil s�o suficientemente robustas para proteger o regime democr�tico."

Nascido em Portugal, Ramos atua no Goldman Sachs desde 2003, tendo passado pelos cargos de vice-presidente e diretor administrativo. Especializado em finan�as e com PhD em economia pela Universidade de Chicago — considerada ber�o do liberalismo econ�mico —, foi antes economista s�nior do Fundo Monet�rio Internacional (FMI), trabalhando com Argentina, Brasil e Turquia. Atualmente, ele lidera sua equipe de analistas a partir de Nova York.

O economista v� boa vontade de investidores estrangeiros com o novo governo, mas alerta que, com a reabertura da China e uma Europa que administrou bem a crise do g�s decorrente da guerra da Ucr�nia, o pa�s n�o est� sozinho na disputa pelos fluxos de capitais internacionais.

Nesse cen�rio, o governo Lula tem como principal desafio este ano equacionar a quest�o fiscal, avalia Ramos. Mas precisa evitar a tenta��o de medidas intervencionistas e populistas que n�o deram bons resultados no passado.

"N�o � uma lei da natureza que a Am�rica Latina n�o cres�a e que as condi��es de vida n�o melhorem. � um reflexo de escolhas equivocadas dos �ltimos anos", diz Ramos. "� de fato inaceit�vel o crescimento ser t�o med�ocre, � preciso mudar isso, porque as condi��es de vida t�m que melhorar. A Am�rica Latina est� perdendo o trem do desenvolvimento."

Confira abaixo os principais trechos da entrevista.


Alberto Ramos

Ramos atua no Goldman Sachs desde 2003, tendo passado pelo cargos de vice-presidente e diretor administrativo. Especializado em finan�as e com PhD em economia pela Universidade de Chicago, foi antes economista s�nior do FMI

Reprodu��o/Zoom

BBC News Brasil - Como o senhor viu o epis�dio da depreda��o dos pr�dios p�blicos em Bras�lia e como isso repercutiu entre os investidores internacionais?

Alberto Ramos - � um sinal da polariza��o profunda do ponto de vista pol�tico e social que o Brasil tem vivido nos �ltimos anos. Foi uma campanha muito dividida e parece que essa polariza��o n�o se resolveu com a elei��o. Sempre que tem esse ru�do institucional, pol�tico e social, � algo que deixa o investidor um pouco mais defensivo.

BBC News Brasil - Mas esses ataques mudaram de alguma forma o cen�rio que estava dado para o novo governo Lula? Isso pode afetar a governabilidade, na perspectiva do senhor?

Ramos - No meu cen�rio n�o mudou nada, porque a expectativa � de que isso tenha sido um epis�dio isolado. Por mais triste que tenha sido, a expectativa � de que n�o se repita, pelo menos � escala do que aconteceu.

Acredito que a polariza��o vai continuar, que o presidente Lula vai continuar a enfrentar uma oposi��o relativamente combativa e aguerrida. Estamos bem longe do consenso de um presidente que tem uma popularidade extremamente alta. Ent�o isso pode certamente limitar a governabilidade, mas isso j� estava no nosso cen�rio de base, n�o alteramos nada com os eventos de 8 de janeiro.

BBC News Brasil - A possibilidade de uma ruptura institucional est� no seu radar e no radar dos investidores, ou a resposta do governo foi suficiente para afastar esse tipo de temor?

Ramos - N�o falo por outros investidores, mas n�o est� no meu cen�rio a possibilidade de uma ruptura institucional. Me parece que as institui��es no Brasil s�o suficientemente robustas para proteger o regime democr�tico. H� uma imprensa livre e vibrante, e as institui��es t�m performado o papel constitucional que se espera delas. Ent�o n�o h� um cen�rio de ruptura institucional.


Bolsonaristas em frente ao Congresso durante invasão de Brasília em 8 de janeiro de 2023

'Acredito que a polariza��o vai continuar, que o presidente Lula vai continuar a enfrentar uma oposi��o relativamente combativa e aguerrida', diz Ramos

Reuters

BBC News Brasil - Qual � a perspectiva do senhor para o crescimento do PIB brasileiro esse ano?

Ramos - A expectativa � de um crescimento modesto, por volta de 1%, que tem a ver um pouco com a diminui��o do impulso relativo � reabertura da economia [ap�s a pandemia], que estimulou bastante a atividade em 2021 e 2022.

Tem tamb�m a ver com a pr�pria restritividade da pol�tica monet�ria [isto �, a taxa b�sica de juros elevada, com a Selic atualmente a 13,75% ao ano], as condi��es financeiras bastante restritivas, que infelizmente � o que � necess�rio para trazer a infla��o de volta para a meta e reancorar as expectativas de infla��o.

Tamb�m um mercado de trabalho que est� relativamente apertado, com uma taxa de desemprego j� pr�xima do n�vel neutro [quando o desemprego n�o � zero, mas est� no ponto considerado de equil�brio, sem acelerar a infla��o], que � o reflexo do crescimento relativamente vigoroso de 2022.

Por fim, h� tamb�m uma demanda externa mais limitada. Ent�o teremos em 2023 uma desacelera��o da atividade econ�mica que reflete o efeito combinado de todos esses fatores.

BBC News Brasil - E quais s�o os principais desafios que o senhor v� para a economia brasileira esse ano?

Ramos - Para esse ano, o primeiro desafio � equacionar a quest�o fiscal. Principalmente, qual ser� a �ncora fiscal de m�dio e longo prazo. Essa � a grande quest�o.

O teto de gastos, que teve um papel fundamental em ancorar [as expectativas dos investidores com rela��o] a parte fiscal e a din�mica da d�vida vai ser substitu�do, e n�o h� ainda indica��o do que ser� esse substituto. Ent�o esse � um ponto importante, manter as expectativas e o ancoramento do fiscal no m�dio e longo prazo.

BBC News Brasil - O senhor mencionou o crescimento vigoroso do ano passado que resultou nessa melhora do mercado de trabalho. O senhor come�ou 2022 prevendo uma alta de 0,8% para o PIB brasileiro e tinha gente prevendo at� recess�o. Mas o PIB de 2022 deve ter crescido pr�ximo de 3%, segundo as expectativas mais recentes do boletim Focus. Por que os economistas erraram tanto as previs�es no ano passado?

Ramos - Acho que todo mundo subestimou o impacto da reabertura da economia.

Depois teve o pr�prio efeito da guerra na Europa, entre R�ssia e Ucr�nia, que levou a um aumento significativo do pre�o de commodities, o que alavancou a melhora dos termos de troca do Brasil [rela��o entre os pre�os de exporta��o e os de importa��o do pa�s], alavancando tamb�m o crescimento.

O crescimento global tamb�m foi bem maior do que se esperava.

E o quarto fator foi o impulso fiscal [as medidas de est�mulo � economia feitas pelo governo Bolsonaro, como o Aux�lio Brasil de R$ 600, entre outras], que foi bem maior do que se projetava no in�cio do ano, embora parte disso tenha sido mitigada por uma pol�tica monet�ria mais restritiva e uma infla��o mais alta. Ent�o, no final, acho que essa foi a grande surpresa.


Pessoas em rua comercial movimentada usando máscaras de proteção contra a covid

'Acho que todo mundo subestimou o impacto da reabertura da economia', diz Ramos, sobre por que economistas erraram previs�es para o PIB de 2022

Tomaz Silva/Ag�ncia Brasil

BBC News Brasil - A economia pode surpreender de novo esse ano?

Ramos - Pode. Nossa vis�o em rela��o � economia americana e global � um pouco mais construtiva do que a m�dia do mercado. Achamos que n�o vai ter recess�o nos EUA e temos proje��es para crescimento da China, global e pre�os de commodities acima da m�dia.

Ent�o pode surpreender, a depender do grau de est�mulo fiscal em 2023. N�o descarto a possibilidade de ter um crescimento mais forte, como n�o descarto a possibilidade de um crescimento mais fraco. Nossa estimativa de um crescimento [do PIB brasileiro em 2023] de 1,2% tem risco para ambos os lados.

BBC News Brasil - Como o senhor viu o pacote de medidas anunciadas na semana passada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para reduzir o d�ficit p�blico, mirando um d�ficit entre 0,5% e 1% do PIB esse ano?

Ramos - Foi um passo importante. Mostra que o governo est� preocupado com a dimens�o do d�ficit como saiu com a aprova��o do Or�amento, que era um d�ficit de quase R$ 230 bilh�es ou 2,3% do PIB. E que est� comprometido em reduzir esse d�ficit.

O pacote em si n�o impressionou tanto. � um pacote com um vi�s muito grande para medidas de aumento da receita, medidas tribut�rias. E medidas que s�o transit�rias, h� poucas medidas permanentes, algumas delas de efeito duvidoso.

Gostaria de ver um pacote mais centrado na racionaliza��o e redu��o do gasto. Num pa�s que gasta mais de R$ 2 trilh�es, certamente h� gastos improdutivos, redundantes, mal alocados.

Seria importante que o pacote tivesse um vi�s mais focalizado no gasto do que na receita, porque teria uma implica��o melhor para a infla��o, com um componente permanente e acoplado � nova �ncora fiscal, que � a discuss�o que vem pela frente.


Haddad durante discussão em painel do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça

'Foi um passo importante. Mostra que o governo est� preocupado com a dimens�o do d�ficit', diz Ramos, sobre pacote do ministro da Fazenda Fernando Haddad para reduzir d�ficit fiscal em 2023

Reuters

BBC News Brasil - Haddad tem prometido apresentar ainda esse semestre o novo arcabou�o fiscal para o pa�s, que deve substituir o teto de gastos. Qual � a expectativa dos investidores internacionais com rela��o a essas novas regras?

Ramos - H� uma expectativa grande. � muito, muito importante ter uma �ncora fiscal, particularmente alguma coisa que limite uma expans�o desenfreada do gasto, dado que o n�vel de endividamento p�blico � bastante elevado, e dado o hist�rico do PT nos �ltimos anos.

Mesmo nos anos Lula, no in�cio de mandato, houve uma expans�o do gasto muito elevada, mas nessa altura o pre�o de commodities ajudou muito, a receita tamb�m aumentava. Quando a receita parou de crescer, isso levou a d�ficit crescente.

Eu pessoalmente n�o acho que a regra do teto de gasto tenha sido assim t�o ruim, acho que ela teve um papel muito importante de ancoramento de expectativa e tamb�m de limitar o gasto. E vai ter que ser por a�, pode ser uma regra com mais flexibilidade, que tenha um elemento contrac�clico, que permita que n�o tenha que reduzir muito o d�ficit quando a economia est� contraindo e a receita cai.

Infelizmente, acho que n�o h� muitas alternativas a alguma regra que limite o gasto, s� atrav�s disso � que voc� consegue ancorar as expectativas de m�dio e longo prazo. Vamos ver, � uma discuss�o que vem pela frente e o Congresso tamb�m ter� papel importante nesse debate.

BBC News Brasil - Qual � a perspectiva que o senhor v� para o avan�o das reformas estruturais nesse governo, particularmente a reforma tribut�ria?

Ramos - Acredito que n�o vai haver grandes reformas estruturais, tirando a reforma tribut�ria, que j� est� bastante avan�ada a discuss�o no Congresso.

H� uma proposta que j� amadureceu bastante na C�mara, uma proposta que tamb�m j� amadureceu bastante no Senado e o [secret�rio especial para a reforma tribut�ria do Minist�rio da Fazenda] Bernard Appy � uma autoridade do ponto de vista fiscal e tribut�rio. Ent�o acho que alguma coisa vai sair, agora depende de como for configurada essa reforma.

A ideia do governo, pelo menos durante a campanha, � que seria uma reforma neutra do ponto de vista de arrecada��o. Eu tenho minhas d�vidas.

H� dois componentes: o dos impostos indiretos e o do imposto de renda de pessoas f�sicas e jur�dicas. Talvez a� [no imposto de renda] � que vai ter um sistema mais progressivo, que aumente a arrecada��o. Vamos ver como � que fica. � um tema complexo, que claramente tem ganhadores e perdedores, que p�e em lados contr�rios ind�stria versus servi�os, Estados pobres contra Estados ricos. Sempre foi um tema muito espinhoso e dif�cil.

Mas eu acho que, dentro do tema de grandes reformas estruturais, provavelmente ficamos por a�. N�o estou muito otimista com outras reformas, como a administrativa, que possivelmente seriam necess�rias para alavancar o crescimento.

BBC News Brasil - Num relat�rio de 2019, o senhor declarou a d�cada de 2010 como "perdida" para o Brasil, assim como a de 1980. S�o duas d�cadas perdidas para a economia brasileira em 40 anos. E o senhor alertava para o risco de a gente perder tamb�m a d�cada atual. O senhor avalia que esse risco persiste ou algo mudou na sua vis�o desde ent�o?

Ramos - Olha, n�o mudou muito. Acho que esse risco segue latente. Tivemos a pandemia, que levou a uma contra��o violenta da atividade. Seguiu-se uma recupera��o em "V" bastante r�pida, mas a din�mica do crescimento, o crescimento potencial do Brasil, continua relativamente baixo. Da� a import�ncia das reformas estruturais, que tornem a economia mais competitiva, mais flex�vel. Que aumentem o investimento p�blico e privado.

H� um Estado gigante, obeso e ineficiente no Brasil, se n�o for poss�vel reduzir o tamanho do Estado, pelo menos que o Estado gaste melhor. Seria muito importante focar na qualidade do gasto, para que o efeito multiplicador do gasto que temos hoje seja maior, tenha maior impacto econ�mico e social do que tem sido o caso nos �ltimos anos.

Algumas declara��es da ministra [do Planejamento] Simone Tebet v�o um pouco nessa dire��o e seria muito importante aprofundar essa agenda.


Simone Tebet

'Seria muito importante focar na qualidade do gasto', diz Ramos. 'Algumas declara��es da ministra Simone Tebet v�o um pouco nessa dire��o'

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BBC News Brasil - O que o pa�s precisa fazer ent�o para sair desse ciclo de baixo crescimento e da fome sempre � espreita?

Ramos - O problema j� foi extensamente debatido, n�o precisa criar nenhuma comiss�o para analisar por que o Brasil cresce pouco. � um pa�s que gasta muito e investe pouco, tem uma produtividade muito baixa, o n�vel de investimento em capital f�sico e capital humano � relativamente limitado. � um pa�s pouco integrado na economia global, tem um sistema tribut�rio muito oneroso, o d�ficit de infraestrutura � significativo. Ent�o a agenda � conhecida, agora � come�ar a trabalhar nela. N�o precisa descobrir a pedra filosofal [subst�ncia lend�ria que transformaria qualquer metal em ouro].

BBC New Brasil - Durante o governo Bolsonaro, vimos os investidores muito reticentes com o pa�s, com alguns grandes fundos de investimento inclusive interrompendo aportes em t�tulos p�blicos brasileiros por conta da destrui��o da Amaz�nia. Parecia ter uma certa ansiedade pela volta � normalidade. O senhor acredita que est�o dadas as condi��es para os investidores estrangeiros voltarem?

Ramos - Acho que sim, h� uma boa vontade muito grande com rela��o ao governo Lula e acho que a� pode ser at� onde se observe a maior diferencia��o entre os governos Bolsonaro e Lula, nessa agenda ambiental, o impacto que isso tem fora do pa�s e nos investidores. Pode e vai certamente alavancar os fundos que s�o mais sens�veis a esses temas e alguns fundos espec�ficos, como o Fundo Amaz�nia e outros que foram interrompidos durante o governo Bolsonaro. Ent�o vejo isso claramente como uma via, e at� uma via mais r�pida, de atra��o de capital no curto prazo.

BBC News Brasil - E para os demais investidores, depende dessa agenda toda que o senhor falou, ou essa boa vontade � generalizada?

Ramos - N�o, acredito que n�o h� uma boa vontade generalizada. At� porque o Brasil n�o � a �nica oportunidade de investimento no mundo. H� a reabertura da economia da China, com a sa�da da [pol�tica de] "covid zero". A Europa parece que vai conseguir evitar uma recess�o, porque manejou a restri��o do g�s de maneira eficiente. Ent�o o Brasil tem competidores nesse fluxo de capital global, talvez mais do que se imaginava h� tr�s meses.

E, al�m de toda a quest�o da sustentabilidade fiscal, h� a pol�tica micro [referente ao ambiente de neg�cios]. Isso me preocupa um pouco mais nesse come�o um pouco atribulado do novo governo. O marco regulat�rio de setores importantes da economia, o manejo das empresas p�blicas e dos bancos p�blicos, a tend�ncia de interferir em certas vari�veis da economia, por exemplo, a pol�tica de pre�os da Petrobras, "campe�es nacionais", cr�dito subsidiado.

Uma agenda que tem sido caracter�stica dos governos do PT e que n�o teve resultado muito favor�vel l� atr�s, me parece estar voltando com for�a. Ent�o eu acho que n�o vai ter nenhuma explos�o fiscal, que o governo entende de alguma maneira a import�ncia de conter a parte fiscal, mas vejo com alguma preocupa��o essa agenda micro.


Traseunte passando pela fachada da Petrobras

Manejo das empresas p�blicas e bancos p�blicos e tend�ncia do PT de interferir em vari�veis da economia como o pre�o da gasolina preocupam economista do Goldman Sachs

Arquivo/Ag�ncia Brasil

BBC News Brasil - Por fim, o senhor analisa toda a Am�rica Latina. Como avalia a posi��o do Brasil hoje em rela��o aos demais pa�ses da regi�o?

Ramos - A Am�rica Latina est� com um problema de crescimento parecido com o Brasil. Crescimento baixo, fric��o pol�tica, ativismo social. Ent�o parece um fen�meno um pouco mais abrangente do que s� a realidade do Brasil.

H� problemas institucionais, pol�ticos e algum receio de investidores no Chile, na Col�mbia, na Argentina h� 30 anos, no Peru com o impeachment do presidente [Pedro Castillo, que perdeu o cargo em dezembro]. Ent�o, dentro desse contexto, � um problema mais sist�mico da Am�rica Latina, o do baixo crescimento, crises institucionais, press�o social.

E olha, h� que ter um pouco de simpatia por isso [o descontentamento popular], porque o progresso socioecon�mico da Am�rica Latina na �ltima d�cada tem sido extraordinariamente baixo. As condi��es de vida n�o melhoraram, ent�o o votante m�dio est� insatisfeito. E ele vai, grita e com raz�o. Quer dizer, n�o � uma lei da natureza que a Am�rica Latina n�o cres�a e que as condi��es de vida n�o melhorem. � um reflexo de escolhas equivocadas dos �ltimos anos, ent�o � importante que essa ansiedade, que esse sinal chegue � classe pol�tica.

O Congresso, o governo, o Judici�rio, todo mundo tem a sua cota de responsabilidade na integridade institucional e no pr�prio crescimento. � de fato inaceit�vel o crescimento ser t�o med�ocre nos �ltimos anos, � preciso mudar isso, porque as condi��es de vida t�m que melhorar. A Am�rica Latina em geral est� perdendo o trem do desenvolvimento.

O que me preocupa � que, se [o Brasil] voltar a perder mais uma d�cada, acaba perdendo meio s�culo. E que, se a gente n�o encontrar um caminho de crescimento mais robusto e socialmente inclusivo, fique muito dif�cil de governar esse pa�s. Que a governabilidade acabe se deteriorando muito, pela desestrutura��o do sistema institucional e pela pr�pria press�o social. Ent�o temos que encontrar uma resposta a esse anseio do votante m�dio, que � extremamente leg�timo. Se n�o dermos uma resposta cabal, que mude esse quadro econ�mico e social, te garanto que a coisa pode piorar, essa � a parte que me preocupa.

Agora, � sempre poss�vel tornar uma situa��o ruim pior. E me preocupa �s vezes que alguns atalhos populistas, que parecem dar uma resposta de curto prazo, mas n�o uma resposta estrutural de m�dio e longo prazo, possam potencialmente agravar um problema que � real.

Vamos ver, mas acho que o rel�gio est� contando, o tempo est� avan�ada. A gente n�o tem muitos anos para dar uma resposta um pouco mais abrangente sobre isso.

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-64312369