O cen�rio atual reflete o aumento das d�vidas adquiridas na pandemia
O endividamento das fam�lias chegou a um patamar in�dito no Brasil em 2022. Segundo levantamento da CNC (Confedera��o Nacional do Com�rcio de Bens, Servi�os e Turismo) divulgado nesta quinta-feira (19), 77,9% dos consumidores fecharam o ano com alguma d�vida a vencer - o quarto recorde consecutivo.
O valor representa um aumento de sete pontos percentuais em rela��o a 2021, quando a taxa foi de 70,9%. O cen�rio atual � reflexo do aumento do endividamento das fam�lias durante a pandemia, que agora precisam carregar d�vidas caras num per�odo de infla��o alta e taxa de juros elevada.
O levantamento usa o mesmo conceito de d�vida do Banco Central, que considera todos os valores a vencer contratados com institui��es financeiras - cart�o de cr�dito, cheque especial e carn� de loja, por exemplo. Os dados, portanto, n�o necessariamente significam que as contas estejam atrasadas.
A propor��o de pessoas com contas a pagar no Brasil subiu 14,3 pontos em rela��o a 2019, antes da pandemia. A s�rie hist�rica mostra como a crise sanit�ria mudou a tend�ncia que vinha se desenhando no Brasil.
Antes, o endividamento seguia tend�ncia de queda, especialmente entre os mais pobres. Agora o cen�rio � oposto. Em rela��o a 2021, as d�vidas cresceram com mais intensidade nas faixas de renda mais baixas.
O levantamento da CNC mostra que 78,9% das pessoas que recebem menos de dez sal�rios m�nimos t�m contas a pagar. Na faixa superior, a taxa � de 74,3%.
A pesquisa tamb�m detalhou o perfil do brasileiro endividado hoje. A maioria das pessoas s�o mulheres, com at� 35 anos, ensino m�dio incompleto, renda de at� dez sal�rios m�nimos e que moram nas regi�es Sul e Sudeste do pa�s.
Endividamento freia crescimento econ�mico Outro problema revelado pela pesquisa � a quantidade de pessoas com n�vel muito elevado de contas a pagar. Nunca antes tantas pessoas (17,6%) disseram estar superendividadas, ou seja, com vencimentos que comprometem boa parte da renda.
Na m�dia, a cada R$ 1.000 recebidos, o brasileiro gastou R$ 302 com o pagamento de d�vidas. No entanto, um a cada cinco consumidores (21,5%) precisou usar mais da metade da renda para arcar com as obriga��es financeiras.
Guilherme Merc�s, diretor de economia e inova��o da CNC, lembrou que o endividamento foi assunto recorrente durante a campanha eleitoral, dado a sua import�ncia para o crescimento econ�mico.
Ele destaca que a necessidade de carregar d�vidas muito caras causa um aperto no or�amento familiar o que, por sua vez, impede o aumento do consumo, mitiga efeitos de programas de transfer�ncia de renda e prejudica a retomada do mercado de trabalho. A consequ�ncia disso � um constrangimento no crescimento econ�mico do Brasil.
O diretor lembrou que o tema est� no radar do governo do presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT). Recentemente, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que pretende lan�ar um programa para tratar do assunto.
Em coletiva para divulga��o dos dados da CNC, Merc�s destacou que o superendividamento � um problema que atinge tipicamente as fam�lias de baixa renda, e aproveitou para vincular o tema com a atual discuss�o sobre contas p�blicas.
"Se o superendividamento � um problema para as fam�lias mais pobres - e esse superendividamento diz respeito ao custo do cr�dito e � infla��o que aperta o or�amento - um dos fatores primordiais para resolver esse problema � ter uma economia brasileira com juros mais civilizados, mais saud�veis. Juro alto � sin�nimo de d�vida cara", afirmou.
A declara��o toca em uma das discuss�es que vem ganhando centralidade nos primeiros dias de governo Lula. Cobrado sobre os compromissos que ter� com a responsabilidade fiscal, o presidente vem defendendo a import�ncia da responsabilidade social. Economistas, por�m, argumentam que os assuntos n�o s�o necessariamente antag�nicos.
Para o diretor da CNC, programas de renegocia��o de d�vidas s�o fundamentais para estancar a ang�stia dos brasileiros endividados. "Mas, em termos estruturais, o que vai resolver o problema � uma taxa de juros mais baixa que permita que o custo do cr�dito fique mais barato."
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