BC

O aviso emerge em meio a um ambiente de juros altos, incertezas relacionadas � quest�o fiscal e ru�dos gerados por falas de Lula e do primeiro escal�o do governo

Marcello Casal/JrAg�ncia Brasil
O Copom (Comit� de Pol�tica Monet�ria) do Banco Central manteve nesta quarta-feira (1º/2) a taxa b�sica de juros (Selic) em 13,75% ao ano pela quarta reuni�o consecutiva – a primeira desde que o presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT) tomou posse.


No comunicado, o colegiado do BC subiu o tom e fez alertas sobre as incertezas fiscais e a piora nas expectativas de infla��o, que est�o se distanciando da meta em prazos mais longos. A autarquia ainda sinalizou que deve deixar os juros no patamar atual por mais tempo –hoje o mercado prev� o in�cio do afrouxamento monet�rio em setembro.


"O Comit� refor�a que ir� perseverar at� que se consolide n�o apenas o processo de desinfla��o como tamb�m a ancoragem das expectativas em torno de suas metas, que t�m mostrado deteriora��o em prazos mais longos desde a �ltima reuni�o", afirmou.


A decis�o veio em linha com a proje��o consensual do mercado financeiro. Levantamento feito pela Bloomberg mostrou que essa era a expectativa un�nime entre os analistas consultados.


Apesar da manuten��o da Selic, o an�ncio ocorre em meio a um ambiente de juros altos, incertezas relacionadas � quest�o fiscal e ru�dos gerados por falas de Lula e do primeiro escal�o do governo –incomodados com o patamar elevado da taxa e seus efeitos negativos sobre a atividade econ�mica. Juros b�sicos altos deixam o cr�dito mais caro e inibem o consumo da popula��o.

 

 


Para Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC, a autoridade monet�ria "saiu do corner batendo", em analogia a uma luta de boxe. Segundo ele, o recado do comit� para o governo � claro: "Do jeito que as coisas est�o, n�o consigo cortar juros. Pelo menos n�o neste ano".


O economista ressalta ainda um segundo ponto de alerta feito pelo BC ao associar a quest�o fiscal �s dificuldades de controlar a infla��o.

'Tom mais duro' do Copom

 


Rafaela Vit�ria, economista-chefe do banco Inter, tamb�m destaca o tom mais duro do Copom em seu comunicado e a preocupa��o do BC com a piora nas expectativas, trazendo um custo maior para o processo de desinfla��o.


Para ela, o colegiado d� um recado indireto para o governo do impacto da redu��o da credibilidade na combina��o das pol�ticas fiscal e monet�ria sobre os juros. "Ele coloca um cen�rio alternativo para mostrar esse ponto", diz.


"O estrago n�o foi feito ainda, vai ser feito se a gente seguir nesse caminho. Muita coisa pode mudar, � um recado importante para o governo de que pol�ticas [fiscal e monet�ria] andem juntas para que se possa ter uma queda de juros mais r�pida", afirma.


Luiz Felipe Bazzo, CEO do transferbank, tamb�m considera que o ciclo de corte de juros poderia ser antecipado "com a infla��o brasileira ainda em leve queda, se n�o fossem os riscos atrelados � pol�tica e � sustentabilidade fiscal".

 

As incertezas no �mbito fiscal decorrem da possibilidade de reonera��o de tributos federais sobre combust�veis a partir de mar�o e do desenho da nova regra que substituir� o teto de gastos –mecanismo que limita o crescimento das despesas p�blicas � infla��o registrada no ano anterior.

 

 


 

PEC

 


A aprova��o da PEC (proposta de emenda � Constitui��o) que autorizou a amplia��o de despesas neste ano tamb�m � apontada pelo mercado como uma sinaliza��o de que o governo pode estar predisposto a uma pol�tica fiscal mais expansionista (mais gastos p�blicos, que pressionam a infla��o e amea�am o equil�brio das contas do governo).


As cr�ticas de Lula sobre a atual meta de infla��o, mais baixa do que em suas gest�es anteriores, tamb�m entram na conta.


Diante do temor crescente, as expectativas de infla��o tanto para este ano quanto para os pr�ximos pioraram desde a reuni�o anterior, em dezembro de 2022.


No cen�rio de refer�ncia do Copom, que parte da premissa do boletim Focus de corte de juros no segundo semestre, terminando 2023 com a Selic em 12,5%, as proje��es de infla��o subiram de 5% para 5,6% para este ano. Para 2024, o colegiado elevou a previs�o de 3% para 3,4%. No horizonte m�vel, v� a proje��o de infla��o acumulada em doze meses no terceiro trimestre de 2024 em 3,6%.


O BC incluiu ainda um cen�rio alternativo, no qual a Selic � mantida constante ao longo de todo o seu per�odo de atua��o, que inclui hoje os anos de 2023 e, em grau maior, de 2024, com proje��es de infla��o de 5,5% para este ano, 3,1% para o terceiro trimestre de 2024 e 2,8% para o fim do ano que vem.


A autoridade monet�ria disse que seguir� "vigilante" e avaliar� se a estrat�gia de manuten��o da taxa b�sica de juros por per�odo "mais prolongado" do que no cen�rio de refer�ncia ser� capaz de assegurar a converg�ncia da infla��o.


"O comit� enfatiza que os passos futuros da pol�tica monet�ria poder�o ser ajustados e n�o hesitar� em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinfla��o n�o transcorra como esperado", afirmou.


Andrea Damico, s�cia e economista-chefe da Armor Capital, considera que diversos trechos do comunicado s�o mais "pesados". "Antes ele falava em per�odo suficientemente prolongado e agora fala em per�odo mais prolongado, o BC n�o ficou 'imune' � alta de expectativas, ele reagiu e colocou um tom mais duro", diz.


A infla��o projetada pelo mercado para 2023 no boletim Focus da �ltima segunda (30) � de 5,74%, quase um ponto percentual acima do teto do objetivo a ser perseguido pelo BC (4,75%). Isso representaria um estouro da meta pelo terceiro ano consecutivo.


Para 2024, per�odo de maior relev�ncia para a atua��o do BC hoje, a expectativa para o IPCA (�ndice Nacional de Pre�os ao Consumidor Amplo) subiu de 3,5% para 3,9% –j� acima do alvo central (3%).


O colegiado volta a se reunir nos dias 21 e 22 de mar�o para recalibrar o patamar da taxa b�sica.


O ciclo de alta de juros foi interrompido em setembro de 2022 pelo Copom depois do mais agressivo choque desde a ado��o do sistema de metas para infla��o, em 1999.


Foram 12 aumentos consecutivos, com eleva��o de 11,75 pontos percentuais, de mar�o de 2021, quando a taxa b�sica saiu de seu piso hist�rico (2%), a agosto do ano passado.