Jair Bolsonaro coça a nuca

Jair Bolsonaro co�a a nuca

EVARISTO SA / AFP
Nos quatro anos de governo Jair Bolsonaro (PL), a Petrobras acumulou um lucro de R$ 358,3 bilh�es, em valores corrigidos pela infla��o, o que levou a empresa a distribuir um total de R$ 289 bilh�es em dividendos, quase seis vezes mais do que a m�dia dos �ltimos quatro governos.

A estrat�gia de concentrar atividades no pr�-sal e vender ativos em �reas consideradas n�o priorit�rias agradou o mercado financeiro, mas se tornou alvo de cr�ticas de sindicatos e da ent�o oposi��o, que agora no governo promete mudar o foco da companhia.

Segundo levantamento feito por Einar Rivero, da TradeMap, o lucro acumulado pela Petrobras no governo Bolsonaro � 2,6 vezes a m�dia dos �ltimos quatro governos, j� considerando a infla��o do per�odo —a conta soma os resultados do in�cio do segundo mandato de Dilma Rousseff e dos anos Michel Temer.

Com a promessa de gerar valor aos investidores, a estatal distribuiu 5,8 vezes mais dividendos e caiu nas gra�as do mercado financeiro ao se tornar uma das empresas que melhor remuneram acionistas no mundo.

O valor distribu�do representa 80% do lucro total da companhia. A maior rela��o em gest�es anteriores foi observada no primeiro governo Dilma, quando a empresa retornou aos acionistas valor equivalente a quase metade do lucro.

A rela��o entre os elevados dividendos e o baixo investimento, que equivaleu a apenas um ter�o da m�dia dos �ltimos quatro governos, � um dos principais alvos de cr�tica do governo Luiz In�cio Lula da Silva (PT) e seus aliados.

"A Petrobras, ao inv�s de investir, ela resolveu agraciar os acionistas minorit�rios com R$ 215 bilh�es, tendo um lucro de R$ 195 bilh�es. E quanto foi o investimento da Petrobras? Quase nada", criticou o presidente da Rep�blica, ap�s a estatal anunciar o maior lucro da hist�ria das companhias abertas brasileiras.

A estrat�gia de vender ativos e priorizar investimentos no pr�-sal foi iniciada ainda na gest�o Michel Temer, que substituiu Dilma Rousseff ap�s o impeachment de 2016, e refor�ada ap�s a posse de Bolsonaro.

Cr�tico do que chamava de timidez da gest�o Pedro Parente quando era conselheiro da companhia, Roberto Castello Branco, o primeiro presidente da Petrobras sob Bolsonaro, iniciou sua gest�o anunciando que aceleraria as vendas de ativos e prometendo melhor retorno aos acionistas.

Nos quatro anos de Bolsonaro, segundo o pesquisador do Dieese (Departamento Intersindical de Estat�stica e Estudos Socioecon�micos) Cloviomar Carneiro, a estatal fechou 64 opera��es de vendas de ativos, com valor total de US$ 33,9 bilh�es (R$ 177 bilh�es, pelo c�mbio atual).

Na gest�o Temer, foram 15 opera��es, somando US$ 17,6 bilh�es (R$ 92 bilh�es). Com Dilma, foram 16 opera��es, a US$ 8,3 bilh�es (R$ 43 bilh�es).

Carneiro destaca que os argumentos para as vendas tamb�m variaram: com Dilma, eram a redu��o do endividamento da companhia, que atingiu seu maior patamar hist�rico; Temer incluiu a abertura de mercado para empresas privadas; e Bolsonaro, quis, al�m dos dois, concentrar o foco no pr�-sal.

O diretor-t�cnico do Ineep (Instituto Nacional de Estudos Estrat�gicos de Petr�leo, G�s e Biocombust�veis), Mahatma dos Santos, pondera que a compara��o de dados financeiros entre os diferentes governos pode ser distorcida por quest�es conjunturais.

Mas que, do ponto de vista de gest�o, a Petrobras nos governos petistas ampliou investimentos e o endividamento ap�s a descoberta do pr�-sal, que demandou pesados aportes e plataformas e infraestrutura log�stica.

A d�vida da empresa atingiu seu maior patamar nos quatro anos divididos entre Dilma e Temer, quando bateu a m�dia de R$ 531 bilh�es segundo o levantamento da TradeMap.

Nesse per�odo, a Petrobras teve preju�zo acumulado de R$ 38,1 bilh�es, com o reconhecimento de perdas com depois investigados pela Opera��o Lava Jato que acabaram n�o saindo do papel, como o Comperj (Complexo Petroqu�mico do Rio de Janeiro), por exemplo.

Al�m dos investimentos elevados e das perdas com corrup��o, por�m, contribuiu para a deteriora��o financeira da companhia o represamento dos pre�os dos combust�veis, principalmente �s v�speras da campanha pela reelei��o de Dilma em 2014.

A ent�o presidente da Petrobras, Gra�a Foster, passou o ano tentando elevar os pre�os para manter a d�vida dentro do esperado, mas quem decidia era o ministro da Fazenda Guido Mantega, que s� autorizou aumento ap�s o segundo turno.

Com uma pol�tica de pre�os mais alinhada �s cota��es internacionais, a venda de ativos e a redu��o do investimento nos anos seguintes, a d�vida caiu a R$ 378 bilh�es, em m�dia, durante a gest�o Bolsonaro.

"A Petrobras saiu de uma empresa que tinha um projeto estrat�gico nacional, de forte incid�ncia na din�mica produtiva brasileira para uma empresa menor, com patrim�nio menor, com restri��es de investimentos e que n�o olha mais o setor energ�tico de forma integrada", diz.

O Ineep � ligado a sindicatos e defende a retomada dos investimentos pela empresa. Para Santos, o modelo da �ltima gest�o "coloca em risco a sustentabilidade operacional e financeira" da empresa, j� que investimentos no setor t�m longo prazo de matura��o e o mundo caminha para a transi��o energ�tica.

Os primeiros movimentos do governo atual no sentido de diversificar os investimentos, por�m, t�m sido recebidos com cautela pelo mercado. Nesta semana, por exemplo, a Petrobras anunciou parceria com a norueguesa Equinor para estudar a constru��o de usinas e�licas mar�timas no pa�s.

A resposta de investidores, que questionam o elevado custo desses projetos e seu impacto nos dividendos, levou o presidente da estatal, Jean Paul Prates, a gravar um v�deo afirmando que � um processo ainda embrion�rio, que requer estudos e que s� ser� levado adiante se fizer sentido econ�mico.

Em sua primeira teleconfer�ncia com analistas, Prates j� havia tentado tranquilizar analistas sobre a retomada dos investimentos, dizendo que a empresa s� aportar� recursos em projetos rent�veis e ap�s amplo debate. "Se algu�m tem d�vida disso, vamos ter que provar que � bom ser s�cio do governo."