Sueco compra alimentos em mercado da Cruz Vermelha, que dá descontos nos preços dos produtos, doados por outros estabelecimentos comerciais

Sueco compra alimentos em mercado da Cruz Vermelha, que d� descontos nos pre�os dos produtos, doados por outros estabelecimentos comerciais

Jonathan NACKSTRAND / AFP
S�o apenas seis horas da manh�, mas j� � poss�vel ver dezenas de pessoas em situa��o de rua formando filas para comprar bolos de canela e uma x�cara de caf� na esta��o de Estocolmo.

Organiza��es sociais afirmam que � um fluxo sem precedentes no pa�s que, atingido por uma infla��o recorde, v� os sinais de pobreza se multiplicarem ap�s anos de crescente desigualdade.

"Nos 13 anos que estou � frente desta associa��o para pessoas sem-teto, nunca vi tanta gente, vejo cada vez mais pessoas � procura de um pouco de ajuda", contou Kawian Ferdowsi, respons�vel por esta distribui��o gratuita de alimentos.
As consequ�ncias inflacion�rias da guerra na Ucr�nia e o aumento das taxas de juros est�o afogando muitas fam�lias suecas em d�vidas e tornando a economia do pa�s em uma das mais preocupantes da Europa.

Ap�s um aumento inicial no pre�o da energia el�trica, a infla��o chegou aos alimentos, com um alta e 20%, marca sem precedentes desde os anos 1950.

O governo sueco anunciou na quarta-feira (15) que far� uma reuni�o com as tr�s maiores redes de supermercado do pa�s para refor�ar que qualquer aumento de pre�os injustificado ser� "inaceit�vel".

Ap�s chegar a 12,3% em dezembro, a infla��o foi atingida tamb�m pelo aumento brusco das taxas de juros, decidido pelo Banco Central. E apesar de ter encolhido ligeiramente em janeiro, voltou a subir em fevereiro para 12%, segundo estat�sticas divulgadas na quarta-feira.

"A primeira onda de infla��o cobriu apenas os pre�os da energia e algumas importa��es. Mas agora se espalhou para toda a economia", diz Annika Alexius, economista da Universidade de Estocolmo.

As fam�lias de baixa renda s�o as mais afetadas, mas tamb�m a classe m�dia, que est� entre as mais endividadas da Europa e enfrenta um aumento repentino nos pagamentos de hipotecas, acrescenta ela.

Mudan�a nos h�bitos alimentares

Em uma unidade da Cruz Vermelha na capital sueca, que oferece produtos a pre�os mais acess�veis, Marianne �rberg faz sua cesta de alimentos para a semana.

Apesar de garantir n�o ser uma das mais afetadas pela alta dos pre�os, a advogada aposentada de 73 anos diz que quer cuidar das finan�as.

"As pessoas mudaram seus h�bitos alimentares. Comem de forma diferente para equilibrar as contas e iniciativas como esta s�o muito, muito apreciadas", conta.

Os funcion�rios da Cruz Vermelha relatam que notaram uma mudan�a no perfil das pessoas que comparecem ao local.

"Antes v�amos essencialmente pessoas marginalizadas. Agora isso mudou. Tamb�m s�o fam�lias com crian�as, idosos ou pessoas em licen�a m�dica, todos t�m problemas para pagar as contas", disse � AFP secret�rio-geral da organiza��o na Su�cia, Martin �rnl�v.

Entre as fam�lias monoparentais de baixa renda, quase uma em cada oito afirma que enfrenta problemas para alimentar seus filhos e tem passado fome, de acordo com uma pesquisa encomendada pela organiza��o.

Recess�o

Durante muitos anos a Su�cia foi considerada um dos pa�ses mais igualit�rios do mundo, mas os �ltimos 30 anos foram marcados por um aumento da desigualdade.

Diferentes reformas para equilibrar as contas p�blicas transformaram o pa�s escandinavo em uma das melhores economias da Europa, mas � custa do enfraquecimento de parte da popula��o.

De acordo com o escrit�rio nacional de estat�stica, quase 15% dos suecos est�o em risco de pobreza. Isso implica estar abaixo de 60% da renda m�dia no pa�s, que gira em torno de US$ 3.100 (cerca de R$ 16.422) por m�s.

Somado a isto, as �ltimas previs�es da Comiss�o Europeia indicam que a Su�cia ser� o �nico pa�s da Uni�o Europeia a enfrentar uma recess�o em 2023.

Sua moeda, a coroa, tem sofrido desvaloriza��o no mercado de c�mbio, enquanto os apelos para fortalecer a assist�ncia social se multiplicam em um pa�s onde o estado de bem-estar social continua sendo um colch�o de seguran�a.

Mas para Alexius, a situa��o da Su�cia pode ser o pren�ncio de um ano dif�cil para todo o continente.

"Digamos que estamos um pouco � frente dos outros pa�ses europeus nesta recess�o", diz, concluindo que eles "tamb�m enfrentar�o um agravamento da situa��o".