Brasil tem 1,5 mi de pessoas trabalhando por aplicativos
Pequisa do IBGE mostra que contingente representa 1,7% da popula��o empregada no setor privado e atua em ambiente precarizado, com poucas garantias.
Entregadores e motoristas t�m remunera��o m�dia maior do que a m�dia brasileira, mas t�m jornada com mais horas semanais
Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press - 1/4/22
Trabalhadores por aplicativo chegam � marca de 1,5 milh�o de pessoas no Brasil em cen�rio que revela um ambiente precarizado, mal remunerado, com poucas garantias e baixa autonomia em rela��o �s plataformas. � o que revela um levantamento in�dito da Pesquisa Nacional por Amostra de Domic�lios Cont�nua (PNAD Cont�nua) divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE).
A pesquisa reuniu dados coletados at� o �ltimo trimestre do ano passado e traz um contexto at� ent�o n�o apresentado sobre as pessoas que trabalham em aplicativos. Os 1,5 milh�o de trabalhadores equivalem a 1,7% da popula��o empregada no setor privado do pa�s. Entre os que t�m o servi�o por plataformas digitais como sua principal fonte de renda, a ampla maioria est� ocupada em transporte de passageiros, 52,2%; ou na entrega de comidas e produtos, 39,5%.
O levantamento tamb�m mostrou que a renda m�dia dos trabalhadores por aplicativos � ligeiramente maior do que a m�dia geral, uma diferen�a de R$ 2.645 para R$ 2.513 mensais. Esta vantagem, no entanto, se dissolve quando analisado que quem trabalha para plataformas digitais tem uma carga hor�ria semanal m�dia de 46 horas ante uma de 39,6 horas dos demais. Na pr�tica, simboliza um ganho pequeno para uma rotina mais desgastante e, em sua maioria, desassistida de direitos, como explica o supervisor da PNAD em Minas Gerais, Humberto Sette.
“S�o quase sete horas a mais na semana do que a popula��o em geral. No geral, eles t�m uma renda um pouco maior, por�m, a troco de um aumento das horas trabalhadas, a� entra a quest�o da precariza��o. Ele precisa trabalhar mais e de forma mais prec�ria do que o n�o plataformizado. A quest�o da previd�ncia, por exemplo, o grau de participa��o na previd�ncia por exemplo � muito menor do que o geral (35,7% contra 60,8%)”, observa Humberto Sette. O supervisor da PNAD destaca que “n�o � toa, estamos vendo um movimento no Congresso Nacional para regulamentar essas atividades. De alguma forma teria que trazer as pessoas para dentro da previd�ncia. Isso atende ao sistema previdenci�rio e tamb�m atende a eles. No caso de acidentes, por exemplo, porque estamos falando de trabalhos que envolvem muitos riscos”, observa.
Sette complementa afirmando que o estudo se aprofundou na quest�o da renda ao fazer um balan�o comparando o rendimento dos trabalhadores por aplicativo e os demais com curso superior. Este recorte mostra que, entre as pessoas com gradua��o completa, os plataformizados recebem, em m�dia, R$ 4.319 mensais, enquanto no mercado privado de forma geral os vencimentos est�o na casa dos R$ 5.348. O resultado sugere que, para quem tem uma escolaridade mais alta, a alternativa de trabalhar via aplicativos n�o � t�o vantajosa quanto atuar na �rea em que se preparou para estar.
“A pessoa que se qualificou, que se graduou e tem o superior completo tem uma expectativa de ganho em conformidade com a qualifica��o dela. Se ela n�o encontra trabalho, tem que buscar outra alternativa de renda e a� ela se submete a plataforma que vai dar uma renda menor. Tivemos um investimento muito grande na sociedade no inicio do s�culo para alavancar o grau de instru��o no pa�s, por�m o mercado de trabalho n�o acompanhou isso”, destaca Sette.
Outro ponto que mostra uma discrep�ncia dentro do mercado de trabalho por plataformas digitais diz respeito ao g�nero. Enquanto entre os empregos privados de uma forma geral h� uma ligeira maioria masculina de 59,1%, nos aplicativos, a presen�a de homens representa 81,3%. Para o supervisor da PNAD em Minas Gerais, esse cen�rio se deve ao fato de que as profiss�es de motorista e entregador, ampla maioria nos apps, serem majoritariamente masculinas. De qualquer maneira, � um contexto que aponta para mais uma dificuldade feminina do ponto de vista trabalhista, j� que a alternativa ao desemprego representada pelos aplicativos revela um cen�rio excludente para mulheres.
Problema urbano
Se no cen�rio nacional a m�o de obra em plataformas digitais representa 1,7% dos trabalhadores ocupados no mercado privado, o cen�rio � diferente em grandes centros urbanos. Na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, por exemplo, esse percentual dobra e chega a 3,4%; em S�o Paulo, o n�mero � de 3,1%; e o �ndice chega a 4% no Rio de Janeiro. “Esse percentual dobra na Grande BH. Isso leva a gente a constatar que esse tipo de atividade est� ligada ao fato de haver uma concentra��o urbana. Em locais onde n�o h� concentra��o urbana n�o h� demanda para o crescimento deste mercado. Revela tamb�m problemas como a insufici�ncia do transporte p�blico. Tem toda uma uma problem�tica que permite a ocorr�ncia desses servi�os”, avalia Humberto Sette, supervisor da PNAD Cont�nua em Minas.
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