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Estado de Minas ENTREVISTA

'Nossa preocupa��o � com a eros�o desse patrim�nio', diz reitora da UFMG

Autoavalia��o permanente foi trampolim para o topo do ranking das federais, avalia Sanda Goulart, que fala tamb�m de vacina em teste e or�amento


27/04/2021 06:00 - atualizado 29/04/2021 10:18

'A pesquisa é o cerne de uma instituição de ensino superior' - Sandra Goulart(foto: Foca Lisboa/Divulgação)
'A pesquisa � o cerne de uma institui��o de ensino superior' - Sandra Goulart (foto: Foca Lisboa/Divulga��o)


Em meio a cortes de recursos no or�amento desde 2015, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) conquistou o topo do ranking nacional do ensino superior entre as institui��es federais, elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais An�sio Teixeira (Inep), autarquia federal vinculada ao Minist�rio da Educa��o. Consideradas todas as institui��es p�blicas, incluindo estaduais, municipais e institutos, a universidade mineira ultrapassa nomes de peso, como as federais do Rio de Janeiro (UFRJ) e de Bras�lia (UnB), tamb�m centros de excel�ncia, e fica em quarto lugar. O Instituto Militar de Engenharia (IME) aparece em primeiro lugar, seguido da Unicamp e do Instituto Tecnol�gico de Aeron�utica (ITA).

O Estado de Minas conversou com a reitora Sandra Goulart para avaliar essa conquista, que ela credita, em parte, ao investimento da institui��o em autoavalia��o. Nesta entrevista, ela tamb�m abordou o avan�o nas pesquisas para o desenvolvimento de uma vacina contra a COVID-19 com tecnologia 100% nacional. O estudo, liderado pelos pesquisadores do Centro de Tecnologia em Vacinas (CT Vacinas) para o desenvolvimento da candidata do tipo quimera proteica, est� nos pr�-testes cl�nicos. A previs�o � de que seja poss�vel iniciar os ensaios cl�nicos neste ano. Para tanto, a universidade precisa de R$ 30 milh�es. A reitora afirmou que R$ 3 milh�es j� est�o garantidos, por meio de emendas das deputadas estaduais Beatriz Cerqueira (PT) e Laura Serrano (Novo).
 
A reitora tamb�m conta com os compromissos firmados pelo prefeito Alexandre Kalil (PSD) de ajudar na obten��o da verba, e pelo presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, deputado Agostinho Patrus (PV). Em audi�ncia na Casa, o parlamentar afirmou que ser� apresentada emenda para que parte do acordo da Vale com o governo de Minas pela repara��o dos danos causados pelo rompimento da barragem da empresa em Brumadinho seja investida nessa pesquisa.

Sandra Goulart, nesta entrevista exclusiva, abordou tamb�m o retorno das aulas presenciais em uma universidade com uma comunidade maior que a popula��o da maior parte dos munic�pios mineiros, e os temores frente aos prov�veis impactos do corte or�ament�rio. “Vai impactar todos os espa�os da vida acad�mica. A situa��o � muito s�ria e grave”, avaliou.

A UFMG sempre esteve entre as cinco primeiras melhores universidades do Brasil. O que fez com que ela alcan�asse o primeiro lugar no ranking entre as federais, e a quarta considerando as estaduais, municipais e os institutos?
Ficamos muito felizes. Para n�s � uma grande satisfa��o a UFMG ser reconhecida oficialmente. V�rios rankings j� demonstravam a UFMG como uma das melhores do Brasil, mas esse � o oficial do MEC e do Inep, que de fato colocam a UFMG como a melhor federal. Isso nos deixa muito felizes.

O que possibilitou que ela alcan�asse esse primeiro lugar? A senhora destaca algum aspecto mais predominante?
Foi uma sucess�o de a��es que v�m sendo feitas na UFMG ao longo desses anos todos. Uma preocupa��o muito grande com a qualidade da institui��o, a nossa gradua��o tem melhorado muito. Somos muito s�rios na maneira de conduzir. Outra quest�o que influencia muito � que temos um processo de autoavalia��o da institui��o que � muito importante. Temos uma Diretoria de Avalia��o Institucional, com uma comiss�o que cuida desses dados com muita seriedade. A universidade est� sempre preocupada com a qualidade do ensino oferecido, tanto na gradua��o quanto na p�s-gradua��o. Foi muito importante fazer esse processo de autoavalia��o e procurar sempre melhorar cursos que j� eram muito bons. A UFMG tem melhorado em v�rias �reas do conhecimento e tamb�m nos rankings internacionais, isso � importante. A institui��o � muito s�ria, muito comprometida com a qualidade dos seus cursos e com a inclus�o.

Essa autoavalia��o � realizada desde quando, reitora?
Temos uma Diretoria de Avalia��o Institucional concretizada desde os anos 2000. � um trabalho que tem sido feito com muita seriedade, de acompanhamento dos cursos, de avalia��o da qualidade dos cursos oferecidos em termos da gradua��o. Em termos de p�s-gradua��o, a UFMG est� com um projeto de autoavalia��o muito importante tamb�m. A p�s-gradua��o j� � avaliada pela Coordena��o de Aperfei�oamento de Pessoal de N�vel Superior (Capes), mas a pr�pria institui��o est� cuidando de item, tra�ando os rumos para a p�s-gradua��o.

A UFMG tem uma posi��o destacada quando a gente fala do registro de patentes. A senhora pode dimensionar qual � a import�ncia dessa posi��o para que a universidade alcance os primeiros lugares nos rankings?
As patentes s�o uma consequ�ncia de um trabalho s�rio de pesquisa feito na UFMG. A pesquisa tem impacto direto tanto na gradua��o, quanto na p�s-gradua��o. Isso faz parte do que eu mencionei. Um todo da universidade que foi melhorando ao longo dos anos e que hoje colhe os frutos de toda essa qualidade e, entre eles, est� inclu�da tamb�m a nossa inova��o. Somos uma das institui��es com mais registros de patentes, mais transfer�ncia de tecnologia. Isso impacta, de certa forma, na universidade, que � um produto da pesquisa que � aqui realizada. Um espa�o de pesquisa bem-feito impacta a aula dada, a p�s-gradua��o e o trabalho de extens�o que fazemos junto � comunidade. A pesquisa, a busca por conhecimento, � o cerne de uma institui��o de ensino superior.

A senhora se referiu � quest�o da inova��o. A UFMG tem sete estudos em andamento para o desenvolvimento de uma vacina contra a COVID-19. A senhora acredita que uma vacina com tecnologia 100% nacional sair� de Minas?
Espero que sim. Estamos trabalhando para isso. � claro que torcemos principalmente para que saia a vacina de Minas Gerais e sabemos da import�ncia de ter um imunizante brasileiro. Vamos precisar de todas as vacinas. Isso vai ser important�ssimo.  A UFMG precisa contribuir para a soberania nacional nesse campo, trabalhando arduamente para que consigamos produzir o mais r�pido poss�vel uma vacina com 100% de tecnologia mineira. O mais importante � garantir que tenhamos um n�mero grande de vacinas produzidas no Brasil para atender toda a sua popula��o.

Na reuni�o na Assembleia Legislativa, o presidente Agostinho Patrus (PV) falou de emenda do Legislativo para o repasse de R$ 30 milh�es oriundos de parte do recurso do acordo da Vale com o governo de Minas. Est� certo, reitora? Esse dinheiro vai chegar mesmo para desenvolver o ensaio cl�nico em 2021?
Estamos trabalhando em v�rias frentes. No momento, o que temos garantidas s�o duas emendas parlamentares: uma da deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT) e a outra da Laura Serrano (Novo). As duas est�o repassando as emendas para a UFMG. Em outra frente, temos a Assembleia, que nos prometeu essa ajuda. Estamos aguardando negocia��es e encaminhamentos. Temos uma frente poss�vel por meio da bancada mineira no Congresso Nacional. A gente espera conseguir. Temos o apoio da Prefeitura de Belo Horizonte. Estamos trabalhando num acordo de coopera��o para que a PBH possa nos ajudar. O prefeito Kalil disse que n�o vai deixar a pesquisa parar. Essa � a nossa grande preocupa��o. Chegamos ao ponto de fazer os testes cl�nicos e n�o ter dinheiro para continuar. Esse � o nosso grande pavor. Vamos fazer, em 2021, os testes cl�nicos das fases 1 e 2, mas ainda tem, no in�cio de 2022, a fase 3. Todo aporte financeiro ser� essencial nesse momento.

Com que recursos a universidade j� conta neste momento?
Concretamente, temos duas emendas parlamentares. A deputada Laura Serrano designou R$ 2 milh�es para a UFMG. A deputada Beatriz Cerqueira, R$ 1 milh�o, ent�o s�o R$ 3 milh�es.

As universidades p�blicas perderam muitos recursos nos �ltimos cinco anos. Agora, com o an�ncio do or�amento de 2021, vimos uma grande redu��o. Para o CNPq, por exemplo, o or�amento se manteve na faixa de R$ 1,2 bilh�o em 2019 e 2020, mas cair� para R$ 560 milh�es em 2021. O que esse corte representa? Isso vai ter impacto na UFMG?
Tivemos uma not�cia boa e uma muito ruim na semana passada. A boa � que a UFMG � a melhor federal do pa�s, e a ruim � que n�o conseguimos recompor o or�amento previsto de corte. A Lei Or�ament�ria Anual (LOA) previa corte de 18,9% no or�amento da UFMG, que equivaleria a quase R$ 40 milh�es a menos no or�amento da UFMG. Trabalhamos muito para tentar recompor esse or�amento, mas, para nossa surpresa, ele n�o foi recomposto e fomos surpreendidos com a informa��o de que haver� mais cortes no MEC e tamb�m no Minist�rio de Ci�ncia e Tecnologia. Isso � dr�stico. A situa��o � grav�ssima. Para ter ideia, as sete vacinas em desenvolvimento na UFMG tiveram aporte financeiro do CNPq. Cortar dessa forma em ag�ncia de tanta import�ncia para a pesquisa afeta o desenvolvimento do pr�prio pa�s. Estamos vivendo um momento extremamente preocupante e dr�stico da nossa institui��o. Isso significa que teremos mais cortes em cima dos 18,9%. Ser� maior que os R$ 40 milh�es previstos. N�o h� como manter o funcionamento das universidades desta vez.

Esses cortes podem interferir nas cerca de 200 pesquisas em andamento na UFMG sobre a COVID-19?
Com certeza. Todas essas pesquisas receberam aporte financeiro do MEC e do MCTI, de v�rias outras ag�ncias da Capes, que lan�aram edital para a COVID-19. Na aus�ncia desses aportes, com certeza, haver� impacto em pesquisas em andamento. Essa � a nossa grande preocupa��o, al�m de impedir o funcionamento de nossas institui��es. Um corte dessa monta vai prejudicar o ensino de gradua��o e p�s-gradua��o, a pesquisa e a extens�o. Ou seja, todo o funcionamento da universidade, a manuten��o, essa � a verba que a gente recebe para pagar �gua, pagar luz, para limpeza, infraestrutura de laborat�rios, para obras. Isso vai impactar todos os espa�os da vida acad�mica. A situa��o � muito s�ria e grave.

A pandemia exigiu o formato remoto. De que maneira isso impactou no trip� ensino, pesquisa e extens�o, pilares para a universidade?
Esse formato remoto foi feito em contexto de excepcionalidade. � claro que precis�vamos retomar as aulas, n�o havia d�vida em rela��o a isso. Nos demandou muitos recursos para os estudantes que n�o tinham como se manter nessas aulas e tamb�m treinamento para todos os nossos professores, servidores e estudantes. Vem preencher a lacuna moment�nea das aulas presenciais, mas n�o resta d�vida de que o ensino remoto n�o atende a todas as �reas. Afeta, sem d�vida alguma, o trabalho de campo, as aulas pr�ticas exigidas por algumas �reas acad�micas. Grande desafio que vamos enfrentar de agora para frente. Algumas aulas pr�ticas puderam ser retomadas com a aprova��o da prefeitura: os est�gios na �rea da sa�de.

Quais s�o as perspectivas agora?
Vamos iniciar o primeiro semestre de 2021 em 17 de maio, ainda de forma remota. Dependemos das circunst�ncias sanit�rias. Mas a nossa expectativa � que � medida que a pandemia esteja sob controle e tamb�m que a vacina��o esteja mais ampliada, possamos retomar atividades pr�ticas, atividades de campo, para que as pessoas possam se formar. Avaliamos com todo o cuidado e aguardamos para que a situa��o pand�mica esteja mais sob controle para que possamos avan�ar um pouco mais. A UFMG tem um plano de retorno com v�rias fases, chegamos at� a fase 1, voltamos atividades pr�ticas dentro do que era poss�vel e dentro do limite de 20%, mas agora, com recrudescimento da pandemia, tivemos que voltar para a fase 0.

N�o h� nem previs�o para retomar as aulas presenciais?
Para dar uma data, a gente precisa ter as condi��es sanit�rias melhoradas. Ningu�m sabe dizer se essas condi��es sanit�rias v�o se manter, se elas v�o piorar ainda mais. Ningu�m sabe dizer qual ser� o curso da pandemia. Assim que a situa��o estiver mais sob controle vamos retornar aos poucos de forma gradual e escalonada esse retorno �s aulas presenciais. Come�ando sempre das aulas que n�o puderam ser dadas, as aulas pr�ticas e de campo para quem ainda n�o conseguiu se formar. Temos um plano todo detalhado aguardando as condi��es pand�micas para que a gente possa retomar esse modelo, primeiramente h�brido, e depois voltar � presencialidade.

Reitora, a senhora lidera uma universidade que tem uma popula��o  e or�amento maiores que muitos munic�pios de Minas. Gostaria que a senhora me falasse se o fato de ser mulher de alguma forma interfere, positiva ou negativamente no trabalho. 
Primeiro � uma honra ser reitora da universidade e poder contribuir para que a universidade se fortale�a. Vejo isso como uma miss�o, como uma honra que me foi conferida pela comunidade universit�ria. Ent�o, tenho um compromisso muito grande com nossa institui��o. A UFMG tem um hist�rico de reitores e reitoras que tiveram um compromisso muito grande com a institui��o. Eu sou a terceira mulher no cargo. As reitoras que me antecederam pavimentaram o caminho. Ent�o, isso � muito importante, o fato de j� termos tido outras mulheres. Eu digo sempre que para um homem chegar ao lugar de reitor as pessoas veem com naturalidade. Para a mulher chegar a essa posi��o como reitora, temos que trabalhar muito. A gente faz essa reflex�o. A gente trabalha muito. Para voc� conseguir n�o � uma coisa natural, o que � chamado hoje em dia de teto de cristal. Voc� olha e n�o consegue chegar porque os empecilhos s�o muito grandes do ponto de vista material, simb�lico, do ponto de vista geral da universidade. Temos que trabalhar muito e mostrar que somos capazes de levar uma institui��o do porte da UFMG. Mas o fato de a UFMG ter tido duas excelentes reitoras que me antecederam nos motiva e nos d� for�a para seguir em frente.

Para encerrar, a senhora gostaria de pontuar alguma quest�o?
Somos um patrim�nio do nosso pa�s. Patrim�nio de Minas. Muito orgulho estar nesta posi��o em momento de tanta luta, tanta dificuldade que temos vivido com esta pandemia. O que nos d� um alento � que a UFMG trabalhou muito e atendeu �s demandas da comunidade. Esse reconhecimento � muito bem-vindo. Foi muito bom. Ao mesmo tempo, � um momento de grave preocupa��o, muita preocupa��o diante desses cortes or�ament�rios, diante do futuro de nossas institui��es. Se chegamos at� aqui, muitos nos antecederam, muitos reitores e reitoras fizeram desta universidade o patrim�nio que ela �. Nossa preocupa��o � com a eros�o desse patrim�nio diante desses cortes or�ament�rios que se acumulam ao longo desses anos. N�o � de agora. Tivemos cortes em 2015 e em 2019. Tivemos corte em cima de corte. Isso preocupa muito o futuro da universidade, o futuro da ci�ncia e da tecnologia, da inova��o e o futuro do pa�s. Tudo isso existe para construir um pa�s melhor, um pa�s que d� melhores condi��es de vida � sua popula��o.


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