
A tese de Allan recebeu o nome "Modeling, design and fault-tolerant strategies for modular multilevel cascaded converter-based statcoms" e trata de uma solu��o para alguns problemas encontrados na produ��o de energia renov�vel. Segundo o cientista, quanto mais uma usina solar ou e�lica cresce, maior � a import�ncia de um "acess�rio" que ajuda em seu funcionamento constante.
O problema � que esses "acess�rios", chamados de compensadores statcoms (sigla para static synchronous compensator), t�m um custo operacional equivalente ao valor do pr�prio dispositivo de gera��o de energia.
"A minha tese n�o lida diretamente com fonte de energia renov�vel, mas trata de uma tecnologia muito importante para o desenvolvimento desse mercado. Vamos pensar numa hidrel�trica. Temos a �gua represada e, se abrirmos mais a comporta, conseguimos gerar mais energia", explica Cupertino.
"Na energia solar e e�lica, n�o temos a comporta e n�o h� maneiras de controlar isso [a produ��o], ficamos � merc� dos fen�menos clim�ticos. Por esse motivo, quando essa fonte come�a a ter uma participa��o muito grande no sistema el�trico, como em alguns pa�ses europeus, a interrup��o come�a a gerar problemas no sistema el�trico funcionando. Para tentar resolver isso, a gente tem uns componentes no sistema que s�o os compensadores est�ticos".
"O compensador � um componente a mais que precisa ser instalado junto com a fazenda fotovoltaica ou com uma usina e�lica grande, para garantir o funcionamento correto do sistema el�trico. Um equipamento desse, vamos supor que custa 10 milh�es para ser instalado. Ele precisa estar funcionando o tempo todo, ent�o seu custo operacional � muito alto", continua.
"E durante o funcionamento desse equipamento, que j� custa 10 milh�es, pode ter um custo adicional de mais 10 milh�es. Ou seja, a despesa operacional pode comparar ao custo do pr�prio equipamento. Uma das abordagens que tentei atacar no meu doutorado foi, justamente, reduzir o custo operacional. Seja de manuten��o ou o custo fixo de opera��o", disse o cientista.
De acordo com Allan, um dos benef�cios da redu��o na despesa, � aumentar a inclus�o das fontes de energia renov�vel. "Um dos benef�cios indiretos que a gente tem dessa redu��o � que, isso contribui para aumentar a integra��o das fontes de energia renov�vel".
No Brasil, a principal fonte de energia � originada em usinas hidrel�tricas. O pesquisador acredita que a discuss�o de gastos adicionais com as usinas e�licas ou fotovoltaicas ainda n�o � forte no pa�s por algumas raz�es.
"No Brasil ainda n�o chegamos no ponto, por algumas raz�es. A primeira � que temos uma depend�ncia muito grande do d�lar. Os equipamentos chegam com um custo elevado para quem instala e tamb�m temos a depend�ncia do c�mbio. Ent�o, quando ele varia, temos um aumento absurdo do custo desses sistemas. O outro ponto se trata de incentivo, que historicamente, o consumidor n�o teve instalar a fonte de energia renov�vel".
"Se pensarmos em pa�ses que deram incentivo, eles vendiam o quilowatt-hora (kWh) para as concession�rias mais caro que o comprado assim, as pessoas queriam instalar a energia solar. No Brasil n�o come�ou dessa forma, hoje temos um modelo em que o kWh vendido e comprado tem o mesmo valor. Al�m disso tem uma quest�o das pr�prias concession�rias, que as vezes querem cobrar impostos a mais e querendo ou n�o, a energia renov�vel no Brasil come�ou em 2012, mas n�o tinha uma lei que regulamentava seu funcionamento. Acredito que todos esses fatores acabam freando um pouco o desenvolvimento da tecnologia", afirma.
Trajet�ria nos estudos

H� 13 anos se dedicando aos estudos na �rea, o cientista come�ou a faculdade aos 16 anos, na Universidade Federal de Vi�osa (UFV).
"Comecei a minha gradua��o em engenharia el�trica com 16 anos, aqui em Vi�osa. Terminei em 2013 e fui para BH, fazendo mestrado na UFMG por mais dois anos. Em 2015, quando terminei, j� era professor do Cefet-MG. A�, no final de 2016 comecei o doutorado e finalizado em 2019", disse Allan.
Finalizar a tese de doutorado foi uma grande vit�ria para Allan, que apesar de acreditar no potencial de vencer o pr�mio de melhor do mundo, se surpreendeu ao receber o resultado. Ele se inscreveu em mar�o deste ano e soube do primeiro lugar h� cerca de 10 dias.
"Eu sempre fui uma pessoa bem p� no ch�o, mas a minha tese j� tinha sido premiada no Brasil pela UFMG e pela Sociedade Brasileira de Eletr�nica de Pot�ncia. Ent�o, quando fiz a inscri��o no pr�mio, achava que poderia ganhar, mas quando recebi a not�cia mesmo, fiquei surpreso. Estava na sala de casa quando soube, dei at� um grito! Me deu uma sensa��o de dever cumprido", conta.
A premia��o geralmente acontece em setembro em uma cerim�nia nos Estados Unidos, mas devido a pandemia ainda n�o h� data para entrega.
Os estudos t�m um lugar muito importante para o cientista. "No meu caso, tudo isso tem um valor muito especial. Sempre estudei em escola p�blica, e meus pais n�o t�m o fundamental completo. Para mim � um orgulho muito grande, eles sempre me incentivaram bastante. Fico honrado em ter conseguido finalizar o doutorado e receber esse reconhecimento grande", disse.
Toda sua trajet�ria foi repleta de pessoas e institui��es que confiaram na tese e Allan acredita que esse apoio foi fundamental para chegar ao objetivo. "Agrade�o muito aos meus pais e minha noiva, por terem me incentivado neste processo. N�o � trivial conseguir finalizar um doutorado com tr�s anos, o normal � com quatro. Ent�o, foi bem estressante".
"Tamb�m sou grato � UFMG por ter fornecido meios para o desenvolvimento do estudo no Brasil. Tive oportunidade de ir para a Dinamarca e fiquei um ano l� pesquisando, gra�as � Capes, que possibilitou o financiamento. Fui bastante aben�oado, tamb�m, por ter todos colegas de laborat�rio, por isso agrade�o a todos eles. Acredito que grande parte do sucesso n�o teria sido alcan�ado se n�o fosse essa equipe trabalhando comigo", finaliza o cientista.
*Estagi�ria sob supervis�o do subeditor Jo�o Renato Faria