Uma grade de forma��o b�sica enxuta, o poder de escolha de estudantes sobre os assuntos em que desejam se aprofundar e o aumento da carga hor�ria s�o pontos que impactar�o n�o apenas o jovem, mas todos os envolvidos na vida dele.
Para o doutor em ci�ncias da educa��o pela Universidade de Havana J�lio Furtado, pais e respons�veis devem compreender que o ensino m�dio oferecido at� ent�o j� n�o era suficiente para garantir uma boa educa��o ao jovem, seja para aqueles que querem ingressar no ensino superior, seja para quem quer ir para o mercado de trabalho.
“� uma reforma necess�ria. O ensino m�dio vinha, h� um tempo, sendo o redentor da educa��o b�sica, ou seja, o aluno tinha, ali, tr�s anos apenas para tentar resgatar e aprender o que n�o conseguiu at� ent�o”, lembra.
“Percebemos, depois de mais de 20 anos, que isso n�o funcionava, n�o havia reden��o alguma. Pelo contr�rio, era muito mais segregador para quem n�o aprendeu antes.”
Eny Muniz, diretora acad�mica do grupo educacional Santillana, concorda com J�lio e lembra que a mudan�a foi fruto de anos de discuss�o e permitiu uma moderniza��o no curr�culo escolar. “Essa � uma excelente oportunidade de trazer o que h� de novo na educa��o para o Brasil, olhando muito para o que d� certo no mundo”, pontua. “Os pais podem ficar despreocupados, porque essa discuss�o vem desde 2014, com o Plano Nacional da Educa��o, no qual se fez necess�rio revisar o curr�culo. Foi quando veio a Base Nacional Comum Curricular (BNCC).”
Para os especialistas, com o curr�culo enxuto e a oportunidade de oferecer apenas algumas mat�rias de real interesse para o aluno, aliando teoria e pr�tica, o Novo Ensino M�dio n�o � menos conteudista, mas, sim, mais assertivo.
“Alguns pais podem considerar um atraso, uma perda ou achar que o modelo antigo era mais acad�mico, mas isso n�o � verdade. � importante ressaltar que, embora possa parecer que o Novo Ensino M�dio � menos denso, ele � muito mais adaptado e customizado, vai preencher as necessidades do aluno e ajud�-lo muito mais na forma��o dele”, ressalta J�lio.
Uma das grandes vantagens apontadas pelos especialistas � que, com o direcionamento da BNCC, os alunos ter�o a oportunidade de compreender o conhecimento de forma integrada, sem a divis�o em caixinhas. “Talvez os pais tenham dificuldade porque a proposta � diferente do modelo de escolas em que viveram, mas est� tudo aqui, continua com conte�do e com conceito”, pontua o doutor. “Nosso adolescente continua tendo acesso � l�ngua portuguesa, matem�tica, hist�ria, filosofia, qu�mica, biologia, todo cabedal de disciplinas, mas com um ‘como’ diferente”, frisa a diretora.
O ‘como’ � um dos carros-chefe da proposta: em vez de mat�rias separadas, os alunos passar�o por grandes �reas de conhecimento — linguagens e suas tecnologias; matem�ticas; ci�ncias da natureza e ci�ncias humanas e sociais aplicadas — e poder�o escolher em quais delas querem se aprofundar.
A forma��o geral b�sica, composta por 1,8 mil horas, engloba as disciplinas tradicionais. “L�ngua portuguesa e matem�tica fazem parte dessa forma��o nos tr�s anos. As demais ser�o estudadas de maneira mais aprofundada ou vistas em grandes projetos junto a outras disciplinas”, detalha J�lio. Assim, pode ser que a escola n�o ofere�a, necessariamente, as disciplinas como mat�rias separadas, mas ocorrer� uma interdisciplinaridade entre os objetos de conhecimento.
Poder de escolha
A segunda parte do curr�culo do novo ensino m�dio � composta pelos itiner�rios formativos, que s�o conjuntos de aulas e atividades, oferecidos pela escola, referentes �s �reas de conhecimento da BNCC. Dessa forma, o aluno ter� mais tempo para se dedicar ao que gosta e ao que pretende fazer no futuro.
“O aluno ter� estudado o b�sico e vai parar e analisar o que quer fazer. Digamos que ele diga que quer ser jornalista, ent�o poder� escolher um itiner�rio com l�ngua portuguesa, hist�ria, arte, entre outros temas”, conta Julio. “Ele n�o precisa, necessariamente, j� saber a profiss�o que quer, mas ter uma �rea de interesse, como humanas ou exatas, � um ponto positivo.”
Cada escola poder� oferecer o itiner�rio formativo que desejar; no entanto, todos s�o aprovados pelo Conselho de Educa��o do estado em que a institui��o se encontra. Os alunos poder�o fazer a mudan�a de itiner�rio quando quiserem. H�, ainda, algumas escolas que planejam oferecer, no 1º ano, de maneira obrigat�ria, itiner�rios diferentes, para que os estudantes vivenciem todos em um mesmo ano e se decidam sobre qual �rea seguir.
Para auxiliar os alunos a serem protagonistas do ensino deles, a proposta prev� o Projeto de Vida. O componente curricular oferece a todos os estudantes atividades, testes vocacionais e atendimento especializado para que eles entendam a �rea de conhecimento que buscam. “� como um GPS, que levar� o estudante a algum lugar. O Projeto de Vida sempre vai passar pelo autoconhecimento, para que esse jovem conhe�a a si mesmo, tenha autocuidado, saiba o que n�o quer fazer e o que quer, e, assim, fazer escolhas, entendendo que as escolhas ter�o impacto”, destrincha Eny.
O Projeto de vida ser� tocado por um tutor, que pode ser um professor da escola ou um pedagogo contratado somente para a atividade. Ele aplicar� testes, entrevistas e auxiliar� o estudante a encontrar o que ele quer. “Quanto mais ele se conhece, melhores escolhas ele � capaz de fazer. N�o apenas sobre os itiner�rios, mas sobre a vida em si. Por isso, o Novo Ensino M�dio � importante.
Ele veio para consolidar e aprofundar conhecimentos necess�rios para a vida adulta”, frisa a diretora.
Pais e respons�veis tamb�m podem auxiliar os filhos na escolha, desde que n�o influenciem, de maneira autorit�ria ou emocional, o desejo do aluno. “Pais devem se destradicionalizar e entender que novos caminhos profissionais s�o v�lidos e at� mesmo desej�veis. O mundo est� mudando”, aconselha J�lio. “A gente abandona um pouco as aulas expositivas e passa a ter o aluno participando de experi�ncias educativas. Passa de uma aprendizagem passiva para uma ativa. Prepara os jovens como seres sociais e os ajuda a encontrar o seu espa�o, sua voz e sua vez dentro e a partir da escola.”
Uma nova forma
O Col�gio Sigma tem se preparado ao longo de 2021 para implementar o Novo Ensino M�dio. Al�m das intensas reuni�es com os docentes, a gest�o da escola apresentou o novo curr�culo para pais e alunos. Para 2022, a escola optou por ofertar 75% da carga hor�ria de forma��o geral b�sica e 25% para os itiner�rios formativos, o que totaliza em 22 aulas das disciplinas tradicionais e oito encontros mais aprofundados sobre a �rea de forma��o escolhida para o aluno.
Os itiner�rios ser�o ofertados pela manh�, na grade curricular normal. No entanto, h� a possibilidade de os alunos ampliarem o conjunto de disciplinas com mat�rias eletivas a serem estudadas no per�odo vespertino. “Se o aluno tiver, por exemplo, fazendo um itiner�rio de matem�tica, poder� tamb�m fazer algumas mat�rias dos itiner�rios de ci�ncias humanas ou da natureza”, detalha o diretor da unidade de �guas Claras, Eli Carlos Guimar�es. O estudante poder�, tamb�m, mudar de itiner�rio semestralmente para testar outros e saber qual �rea quer seguir.
Os itiner�rios n�o ser�o mensurados por notas normais, mas, sim, por men��es acompanhadas de observa��es dos professores sobre o desenvolvimento da habilidade do aluno. “No Sigma, nossa ideia � o aluno participar das oficinas, pr�ticas, discuss�es e leituras que oferecemos. A ideia � que ele desenvolva projetos e apresente trabalhos, se desenvolva como pessoa e, com isso, n�o tem como dar nota”, diz.
Para garantir a efetividade do m�todo, Eli conta que a escola apostar� no Projeto de Vida para que nenhum aluno se encontre desamparado na hora da decis�o. “Temos a convic��o de que a possibilidade de escolha � a melhor novidade, mas ele deve ser orientado para a melhor decis�o”, frisa.
O col�gio tornou o acompanhamento vocacional em uma disciplina curricular, na qual os alunos aprender�o a se conhecer, organizar os estudos, saber do mercado de trabalho, as profiss�es existentes. “No primeiro ano, estaremos muito focados no autoconhecimento, no aluno se entender como pessoas, quais habilidades e fortalezas tem, o que gosta de fazer e o que n�o gosta.”