
� frente de uma comunidade de 52,4 mil pessoas, entre alunos, professores e estudantes, o que corresponde � popula��o de cidades de porte m�dio em Minas, e diante da necessidade ter que lidar com a pandemia da COVID-19, a reitora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Sandra Goulart Almeida, conduziu o processo de transi��o do ensino presencial para o remoto, mas, no meio do caminho, ainda teve que enfrentar a redu��o de mais de um ter�o do or�amento previsto.
Todo esse processo foi conduzido pela reitora, a quem tamb�m foi exigida capacidade pol�tica para negociar recursos para garantir a continuidade das pesquisas de uma das vacinas em desenvolvimento na UFMG (R$ 30 milh�es) e para a constru��o do Centro Nacional de Vacinas (R$ 80 milh�es). Ela foi reeleita por mais quatro anos e aguarda a nomea��o do governo federal – embora haja uma elei��o, o nome final do reitor � apresentado pelo Minist�rio da Educa��o (MEC).
O Estado de Minas fez entrevista exclusiva com a reitora, que apresentou um balan�o de 2021 e falou das perspectivas de 2022 para volta �s aulas, realiza��o de testes cl�nicos para uma vacina contra a COVID-19 com tecnologia nacional, constru��o do Centro Nacional de Vacinas e a Lei de Cotas, que passar� por uma revis�o, no pr�ximo ano, no Congresso Nacional.
A senhora foi reeleita para mais quatro anos de reitorado. Qual o desafio para a gest�o?
Foi uma grande satisfa��o ser escolhida pela comunidade para estar � frente de nossa universidade por mais quatro anos, a gente ainda aguarda nomea��o do governo federal. Para mim, foi uma grande satisfa��o esse reconhecimento, que mostrou a coes�o institucional e tamb�m que temos feito um trabalho importante para a comunidade no enfrentamento � COVID-19 num momento t�o dif�cil da hist�ria da nossa institui��o, do nosso pa�s e da humanidade como um todo. Para n�s � uma grande satisfa��o.
Qual a��o a senhora destaca no seu reitorado?
A principal a��o � a visibilidade da universidade e o di�logo que tivemos com todos os setores. Tivemos di�logo muito pr�ximo com a Assembleia Legislativa de Minas Gerais, com os governos das cidades onde a universidade est�: Montes Claros, Belo Horizonte, Tiradentes e Diamantina. Tivemos tamb�m aproxima��o com o governo do estado e um di�logo com o governo federal, pensando bastante na institui��o como sendo esse lugar p�blico de intera��o e articula��o. Tamb�m tivemos articula��o com o Congresso Nacional, com empresas, muitas parcerias. Foi um ponto alto e a visibilidade de nossa universidade no campo do ensino, pesquisa e extens�o. Uma de nossas dificuldades � que muitos pensam na universidade como esse lugar onde as pessoas v�o fazer um curso, mas a universidade p�blica, no Brasil, � respons�vel por 90% da pesquisa realizada no pa�s. N�s formamos pessoas, mas tamb�m fazemos pesquisa de ponta, que tem sido imprescind�vel no enfrentamento da pandemia. Fazemos extens�o, aquele trabalho que atende �s comunidades mais necessitadas. Essa visibilidade do conjunto da universidade tamb�m foi uma a��o. Al�m disso, destacaria a qualidade da universidade. Ela � de qualidade, refer�ncia e � tamb�m inclusiva. A universidade tem que ser as duas coisas: universidade com apenas qualidade, sem inclus�o, � uma universidade que atende aos prop�sitos de uma elite restrita. Uma universidade com inclus�o e sem a qualidade necess�ria, voc� n�o est� dando a inclus�o necess�ria para as pessoas. A universidade no Brasil tem que ser de qualidade e refer�ncia e tamb�m inclusiva.
O ano de 2021 foi muito dif�cil para o Brasil e para as universidades em especial. Qual o balan�o do ensino? Como foi o ano que se encerra?
Vamos terminar em 25 de fevereiro, o que corresponde ao segundo semestre de 2021. Foi um ano muito dif�cil para todos, como foi o de 2020. Mar�o e abril de 2021 tivemos a grande onda (da COVID-19), com impacto enorme, est�vamos voltando para o presencial e tivemos que regredir, voltar de forma remota. Foi um ano muito dif�cil tanto no que diz respeito aos cortes or�ament�rios, que tivemos, como tamb�m termos aula remota. T�nhamos feito a migra��o no ano passado e a gente teve que continuar uma parte de nossas aulas remotas. Procuramos voltar aos poucos. Conseguimos em outubro retomar v�rias atividades presenciais, temos 700 disciplinas oferecidas de forma presencial tentando retomar aos poucos. O semestre termina em 25 de fevereiro e a gente espera retomar em mar�o o primeiro semestre de 2022 de forma totalmente presencial.
S�o 700 disciplinas num total de quantas?
N�o tenho esse levantamento de quantas s�o essas disciplinas no geral, mas posso dizer o recorte espec�fico que essas disciplinas t�m. Desde agosto do ano passado, as disciplinas de est�gio da sa�de j� foram retomadas e retomamos agora v�rias atividades pr�ticas, laborat�rios. Cursos que t�m laborat�rios j� retomaram; os que n�o t�m como ser feitos em aulas remotas, retomaram a partir de outubro de 2021, e algumas v�o retomar a partir de janeiro e fevereiro. Estamos progressivamente aumentando o n�mero de disciplinas ofertadas no modo presencial, esperando que 26 de mar�o volte a ser presencial.
Qual foi o principal desafio do ensino remoto em 2021?
Foram v�rios os desafios, desde a inclus�o digital, que para n�s � uma quest�o delicada, n�s temos que atender. Mais de 50% dos nossos estudantes v�m de classes econ�micas mais baixas, que n�o tinham n�o s� o acesso � internet, como descobrimos que n�o tinham nem os equipamentos necess�rios para ter aulas remotas. N�o se pode fazer por meio de celular, tem que ser por meio de um computador. Esse foi um grande desafio que conseguimos ultrapassar. Fizemos uma chamada ampla, demos apoio aos estudantes para aquisi��o de dados e empr�stimos de computadores. Outro desafio � migrar do presencial para o remoto. Isso requereu de nossa comunidade muito esfor�o, requereu que fiz�ssemos um programa que se chama “Integra��o docente”, que pudesse ajudar os professores neste processo de mudan�a, justamente por ser uma outra abordagem, as estrat�gias de ensino aprendizagem s�o outras. Terceiro grande desafio foram os cortes or�ament�rios que nos impactaram muito. Claro que houve redu��o em alguns gastos, mas n�o o suficiente para compensar a perda do or�amento que tivemos nos �ltimos anos. A grande preocupa��o � em termos de cortes que tivemos de bolsas de apoio para ci�ncia, educa��o e tecnologia. Isso tem nos preocupado muito.
Existem rankings que fazem avalia��o das universidades. No ranking do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais An�sio Teixeira (Inep), autarquia federal ligada ao Minist�rio da Educa��o, a UFMG aparece em primeiro lugar. Em v�rios outros est� entre as melhores universidades do Brasil…
Apesar de todas dificuldades, 2021 foi um ano de muito reconhecimento do papel da UFMG, que vem se destacando h� bastante tempo em rankings internacionais e nacionais. Gosto de dizer que a UFMG n�o trabalha para os rankings, mas que � muito bom ver que o trabalho que estamos fazendo de autoavalia��o, de melhoria, � reconhecido pelos rankings tamb�m. Ent�o, come�a desde o Inep, que � o oficial do governo federal, a gente sempre foi classificada como a melhor federal no ensino. Este ano conseguimos ficar como a melhor federal na avalia��o do Inep. N�s tamb�m conseguimos posi��o em v�rios rankings: Times Higher Education, que � o mais famoso, fomos tamb�m reconhecida como a melhor federal, a quinta melhor da Am�rica Latina. Recebemos v�rios pr�mios de universidade empreendedora. Recebemos v�rios pr�mios dos poderes p�blicos, fui condecorada pela Assembleia Legislativa com o Grande M�rito, � a UFMG. Isso foi muito bom para a nossa institui��o. Foi um ano de reconhecimento. � interessante observar, h� um estudo realizado por um centro de estudos estrat�gicos que mostrou a confian�a da popula��o brasileira nas universidades. Ent�o, a pergunta feita foi ‘quem � que voc� procura quando quer saber sobre a COVID-19?’. Cerca de 80% informaram que confiam nas universidades. Ent�o, foi muito bom ouvir isso da popula��o.
Em 2022, qual o desafio? O que podemos adiantar para os estudantes?
O maior desafio sempre � o desafio or�ament�rio. � a nossa luta constante, espero que haja recomposi��o pelo menos a 2019. Outro desafio � o retorno presencial, depois de quase dois anos, de toda a comunidade. Temos uma parte que j� est� voltando, mas voltar como comunidade vai ser em 2022. Foi dif�cil entrar no remoto, vai ser dif�cil se acostumar � vida presencial novamente. Vai ser diferente do que era. N�o vamos voltar ao que era antes. Aprendemos durante esse per�odo, estrat�gia de ensino e aprendizagem. Isso poder� nos ajudar na condu��o das nossas aulas, aprendemos muitas coisas que n�o faz�amos antes, reuni�es que podem ser feitas no modo remoto. Ser� um per�odo de muita adapta��o na nossa comunidade, dos nossos estudantes tamb�m. Vamos fazer como sempre fizemos, com muita responsabilidade e cuidado com nossa comunidade, sabendo dos desafios que temos pela frente. Uma coisa � certa: o presencial � imprescind�vel para a qualidade do ensino, imprescind�vel para formar v�nculos com nossa comunidade, imprescind�vel para a sa�de mental de nossa comunidade. � imprescind�vel para o papel que para n�s � muito importante: a inclus�o e perman�ncia dos nossos estudantes. Mais de 50% de nossos estudantes v�m de classes que precisam de apoio e deix�-los sem estar presente na universidade, sem o apoio devido, tem sido um impacto muito importante. � necess�rio o nosso retorno. Necess�rio que estejamos juntos e possamos incorporar o que foi aprendido nesse per�odo.
Em mar�o de 2022, toda a universidade volta ao presencial…
Pretendemos voltar completamente � forma presencial em 26 de mar�o. Temos situa��es at�picas que teremos de estudar caso a caso. Uma turma de 100 alunos: como colocar turma de 100 alunos com distanciamento de um metro. Quest�es que vamos ter que adaptar, mas vai ser exce��o mais do que a regra. A ideia � que possamos voltar integralmente ao presencial.
A Lei das Cotas passar� por uma revis�o em 2022. Como a senhora avalia a import�ncia das cotas para a universidade p�blica e qual a sua posi��o em rela��o � continuidade dessa pol�tica de a��o afirmativa?
A Lei das Cotas teve papel muito importante para as universidades p�blicas, na democratiza��o do acesso das comunidades que n�o tiveram oportunidade de ter esse acesso historicamente. Teve papel muito importante. Temos estudo que mostra que alunos cotistas evadem menos, ou seja, saem menos do curso, e t�m seu rendimento equiparado ao de pessoas que entram por ampla concorr�ncia. Isso � excelente. Mostra o papel da universidade na inclus�o. Claro que n�o para na inclus�o, temos que pensar na perman�ncia, para que as pessoas fiquem na universidade e concluam os cursos, esse � o desafio. No ano de 2022 haver� a revis�o das cotas. N�s somos favor�veis na UFMG. As cotas tiveram impacto muito bom em termos de inclus�o social e tamb�m em diminuir essas desigualdades. Um estudo mostra que o Brasil, entre os pa�ses avaliados, foi aquele que o curso superior deu maior mobilidade social. Isso � um fato important�ssimo. � importante que mantenhamos essa pol�tica para que a gente possa fazer esse papel de inclus�o por meio da educa��o superior p�blica
Como foi administrar a universidade com um corte de 36,5% no or�amento previsto?
Este ano, tivemos cortes de R$ 50 milh�es. Tivemos 26% de cortes no nosso or�amento comparado com o ano passado. Foi muito dif�cil lidar com esse corte. Tivemos que privilegiar as a��es de ensino, gradua��o e p�s-gradua��o, pesquisa e extens�o. A gente teve que cortar onde podia, justamente na parte de infraestrutura, obras. Foi um impacto grande nesse or�amento, e a expectativa � termos uma recomposi��o do nosso or�amento para que volte aos patamares de 2019. Essa � a nossa demanda, que est� no Congresso. Aguardando com muita expectativa essa aprova��o.
Qual o valor do or�amento de 2022?
Seria a recomposi��o do que a gente tinha em 2019, R$ 220 milh�es. Houve um corte nos �ltimos anos. A recomposi��o pode ser vista como algo positivo, mas a universidade cresceu neste tempo… Esse recurso � suficiente para a demanda da universidade em 2022? N�s fizemos essa reflex�o pensando muito que estamos em um momento de crise. � claro que a gente precisa de recomposi��o mais ampla, estamos pedindo em rela��o a 2019 porque a gente sabe do momento dif�cil. Mas houve, ao longo dos anos, um corte muito forte no or�amento e aumento dos gastos da universidade. O ideal � que n�s tiv�ssemos recomposi��o al�m disso. Estamos pedindo recomposi��o para 2019, espero que a gente ganhe isso, e recomposi��o dos setores de ci�ncia e tecnologia, com o Minist�rio de Ci�ncia e Tecnologia e inst�ncias do MEC, como a Capes. Quando h� cortes na Capes e no CNPq, isso impacta diretamente na nossa universidade, com menos bolsa, menos recursos para pesquisa, isso impacta tudo. N�o � apenas o corte da universidade, s�o tamb�m esses cortes indiretos que v�m das ag�ncias de fomento.
Qual foi o corte nas ag�ncias de fomento?
Houve um corte substancial, e mesmo para o ano que vem, a informa��o que a gente tem � de que a Capes est� com R$ 800 milh�es a menos para pagar as bolsas. Ent�o, o corte foi substancial nas duas ag�ncias nos dois �ltimos anos, isso precisa ser recomposto se a gente quer enfrentar a pandemia, se a gente quer tamb�m pensar no futuro do pa�s, que precisa investir em educa��o, ci�ncia e tecnologia.
Crise leva � fuga de c�rebros. H� reflexo na UFMG?
Enorme. H� uma grande preocupa��o nossa. Todo dia eu tenho assinado algum tipo de pedido de afastamento para cuidar de assuntos pessoais ou simplesmente exonera��o. Como n�o h� recursos para pesquisa no Brasil, os c�rebros que a gente tem est�o sendo requisitados no exterior. Nossos pesquisadores s�o altamente qualificados, ent�o a qualquer lugar do mundo que eles v�o, ser�o muito bem-vindos. Ali�s, � grupo que tem muita inser��o internacional, ent�o as pessoas est�o preferindo sair do pa�s por causa da falta de condi��o de manter a pesquisa, de manter efetivamente os dados da ci�ncia que eles precisam neste momento.
Qual o impacto dessa fuga para a UFMG?
O impacto a longo prazo � o que mais me preocupa. S�o c�rebros gestados, pessoas que tiveram a forma��o feita pelo pa�s e est�o indo pra fora. Se, num primeiro momento, n�o consegue ver impacto t�o grande, no futuro isso ser� essencial, vai ditar de fato a capacidade do pa�s de produzir ci�ncia de qua- lidade. Se n�s n�o temos as mentes para fazer isso, se estamos exportando pessoas, isso quer dizer que n�o seremos capazes de pensar como na��o, num desenvolvimento social e econ�mico que v�o faltar pessoas para nos ajudar nesse pensamento. A curto prazo, � impactante. A m�dio prazo, � preocupante. A longo prazo, � desastroso para o pa�s.
Em 2021, tivemos o an�ncio do Centro Nacional de Vacinas, inclusive com visita do ministro aqui, parceria com o governo do estado, Prefeitura de Belo Horizonte, mas logo em seguida foram anunciados cortes no Minist�rio de Ci�ncia e Tecnologia. Em que situa��o est� o Centro Nacional de Vacinas?
Esse foi um caso que conseguimos resolver a contento. Estamos muito satisfeitos com isso. H� duas semanas, assinamos o acordo de coopera��o dessa parceria com o Minist�rio de Ci�ncia e Tecnologia e tamb�m com o governo de Minas. Ent�o, recebemos parcela dessa verba para come�ar o Centro Nacional de Vacinas. Claro que nossa preocupa��o � com a manuten��o desse centro para o futuro. Isso vai precisar de investimento em ci�ncia e tecnologia, � importante que a gente possa recompor o or�amento n�o apenas das universidades, como estamos demandando, mas tamb�m do CNPq e da Capes. Ent�o, � um sistema de pesquisa que temos no pa�s que � muito robusto, de pesquisa de p�s-gradua��o, que j� foi considerado um dos melhores do mundo e que nos tem colocado na vanguarda dessas posi��es. Isso � importante que a gente continue sendo.
Qual o valor da parcela assinada h� duas semanas?
O centro ser� constru�do com aporte do governo de Minas e do Minist�rio da Ci�ncia e Tecnologia. A gente espera que seja garantido nessas inst�ncias. A gente vai receber R$ 50 milh�es do Minist�rio de Ci�ncia e Tecnologia e R$ 30 milh�es do governo de Minas.
E a vacina da COVID-19 pelo CTVacinas? Foram feitos os testes com primatas? Quando teremos os testes cl�nicos?
Essa vacina est� indo muito bem. A gente entregou o resto dos documentos que a Anvisa tinha pedido pra gente verificar. Em breve, devemos come�ar os testes cl�nicos. Queria destacar a import�ncia dessa vacina brasileira. Estava lendo ontem um artigo sobre isso. Muitas pessoas dizem ‘tem vacina suficiente’. Sim, mas a gente precisa melhorar as vacinas que n�s temos. Temos as vacinas da primeira gera��o. As vacinas t�m que ser melhores, pois t�m que atingir as variantes que est�o surgindo. Elas t�m que ter prazo maior de efetividade, no momento s�o seis meses, precisa ampliar isso. Terceiro: elas precisam ser mais acess�veis e mais baratas, principalmente no contexto do Brasil. As vacinas nacionais chegam a ser 70% mais baratas do que as vacinas importadas. Tr�s quest�es s�o importantes para a nova vacina, lembrando que a pandemia vai acabar em algum momento, mas o v�rus vai ser end�mico. Vamos precisar continuar nos vacinando contra esse v�rus.
Quando come�am os testes cl�nicos?
A gente n�o tem a data certinha. Em termos de ci�ncia, temos as datas e temos que tomar muito cuidado. A Anvisa est� sendo muito cautelosa, com toda a raz�o. Tem que aguardar o ok para que a gente possa come�ar esses testes, mas j� temos um grupo estudando como ser�o feitos.
Os testes cl�nicos podem come�ar ainda no primeiro semestre de 2022?
Esperamos que sim. Vai depender se a Anvisa vai querer outro estudo. Eles acompanham muito de perto. Vai depender do que nos derem de retorno. Estamos trabalhando muito nesse sentido, se depender de n�s ser� o mais r�pido poss�vel.
A senhora falou, num dado momento, da necessidade de R$ 30 milh�es para continuar com os testes da vacina. Na �poca, o prefeito Alexandre Kalil ofereceu uma ajuda…
R$ 30 milh�es para a fase I e II da vacina. A ajuda do prefeito Kalil foi imprescind�vel num momento essencial, ela veio num momento em que a gente n�o tinha nenhuma verba, a n�o ser aquelas de pesquisa. Numa �poca em que a gente precisava de R$ 30 milh�es para come�ar as fases I e II. Foi imprescind�vel o apoio da Prefeitura de Belo Horizonte. N�o t�nhamos nenhuma verba e corr�amos o risco de ter de parar com as fases I e II.
Pode-se dizer que a Prefeitura de Belo Horizonte garantiu a continuidade do desenvolvimento da vacina?
Naquele momento, sim. Foi ela que nos deu a possibilidade de fazer os testes da vacina. Isso mostra a import�ncia da coopera��o entre os poderes p�blicos. Uma vacina que teve apoio do governo federal, governo estadual e governo municipal. O contexto da pol�tica tem um reflexo muito grande na quest�o de libera��o de verbas e at� mesmo na quest�o de respeitabilidade para o trabalho do cientista.
Como a senhora lidou com esse cen�rio t�o adverso, com tanta cr�tica � universidade e descren�a na ci�ncia, com o governo federal desincentivando…
A UFMG � uma institui��o do Estado, institui��o p�blica. O papel � esse mesmo, � cooperar com entes p�blicos e atender �s demandas que est�o colocadas pela sociedade. Nesse sentido, a pandemia teve um papel muito importante de mostrar o trabalho que a gente j� fazia. Muita gente me pergunta: “A UFMG se transformou?”. Eu digo, n�o. Ela sempre fez o que fizemos a vida toda. Fizemos isso em 1918, na �poca da gripe espanhola. A nossa Faculdade de Medicina se transformou em um hospital para atender � sociedade. Fizemos isso da maneira que uma institui��o p�blica tem que fazer, dialogando com todo o poder p�blico. N�s fomos atr�s, n�s sa�mos pedindo apoio. O prefeito Kalil foi o primeiro a nos socorrer naquele momento dif�cil, quando a gente estava desenvolvendo a vacina e sab�amos que � um imunizante muito bom, mas n�s tivemos apoio do Minist�rio de Ci�ncia e Tecnologia desde o in�cio para desenvolver esses estudos, tivemos apoio dos deputados estaduais, os deputados federais tamb�m contribu�ram para a vacina, o governo de Minas contribuiu com a vacina e agora est� nos apoiando no Centro Nacional de Vacinas, e o governo federal por meio do Minist�rio da Ci�ncia e da Tecnologia tamb�m tem apoiado Centro Nacional de Vacinas, tem apoiado a UFMG. Isto nos enche de orgulho: fazer toda essa articula��o necess�ria e ao final chegar com proposta t�o importante n�o apenas para nossa cidade e estado, mas tamb�m para nosso pa�s: um Centro Nacional de Vacinas. N�s temos a Fiocruz, o Instituto Butantan, mas a gente tem capacidade para ter algo assim em Minas Gerais, ent�o � importante. A UFMG fez o que se espera dela, uma institui��o p�blica de qualidade, refer�ncia, atendeu e fez essa articula��o com os poderes p�blicos, objetivando o bem-estar do povo mineiro e povo brasileiro.