
Uma pesquisa sobre neologismos e vocabul�rios incorporados � m�dia impressa brasileira durante a pandemia rendeu � professora mineira Mar�lia Mendes, 48 anos, convite do comit� cient�fico da Organiza��o Americana de Professores de Portugu�s (AOTP, sigla em ingl�s) para apresentar um workshop no XI Encontro Mundial sobre o ensino de portugu�s (EMEP) na universidade de Harvard, nos Estados Unidos, uma das mais prestigiadas do mundo. A professora fez uma an�lise das principais not�cias nacionais e internacionais veiculadas no Correio Braziliense e Estado de Minas.
A palestra est� prevista para o m�s de agosto, durante os dias 5 e 6. "Fiquei muito feliz porque isso � fruto do meu trabalho e dedica��o. Sempre tive vontade de melhorar e ampliar meus conhecimentos na �rea da lingu�stica", revela a professora de portugu�s, que ter� parte da viagem patrocinada pela AOTP.
O prop�sito do evento � desenvolver programas e curr�culos de ensino do portugu�s que contemplem os processos de forma��es neol�gicas, o que Mar�lia considera bastante produtivo, tanto na m�dia impressa quanto na eletr�nica, no per�odo da pandemia. "Tudo isso por meio de uma abordagem did�tico-pedag�gica", diz.
Ela ressalta em seu trabalho o papel dos jornais no enriquecimento da l�ngua, uma vez que transporta as palavras do �mbito das especialidades para o l�xico geral da l�ngua. Mar�lia afirma que n�o � dif�cil seduzir os alunos a trabalhar com os g�neros textuais de um jornal e aponta a extens�o dos textos como um dos aspectos para atra�-los.
O trabalho re�ne mais 120 novas palavras, derivadas ou formadas de outras existentes, na mesma l�ngua ou n�o. Inicialmente, o projeto de pesquisa foi direcionado a an�lise em jornais populares. Por�m, segundo a professora, existiu uma certa resist�ncia por parte da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) ao aceitar o trabalho quando a an�lise era feita com jornais de m�dia impressa populares. Por isso, precisou alterar as fontes de refer�ncia.
Segundo Mar�lia, a escolha pelo neologismos surgiu com a observa��o da exist�ncia de um dinamismo no portugu�s falado no Brasil, al�m fato de haver poucas pesquisas acad�micas na �rea. Ela conta que, inicialmente, a ideia era registrar as palavras manualmente, escrevendo-as em um caderno. Por�m, com o avan�o da pesquisa, atentou para a necessidade de utilizar plataformas digitais. Adotou, ent�o, softwares destinados � sele��o de palavras. “Queria empregar sensibilidade ao projeto mas, com o tempo, percebi que seria invi�vel continuar listando as palavras � m�o”, revela.
De acordo com ela, existem lacunas no processo de aprendizado tanto para os professores quanto para os alunos, desde o isolamento, at� a implanta��o do ensino h�brido por todo o pa�s. Mar�lia tamb�m pontua a relev�ncia dos ve�culos de comunica��o, em especial os jornais citados, na contribui��o para o desenvolvimento de cronogramas no ensino do portugu�s no pa�s.
“As pessoas n�o t�m no��o da import�ncia do projeto”, afirma a docente, completando que sua pesquisa � fundamental para tra�ar novas alternativas para o ensino do portugu�s, tanto para estudantes brasileiros quanto para os estrangeiros.
Ela observa que devem ser estruturadas formas para conter o preju�zo no aprendizado dos jovens brasileiros, visto que boa parcela dos alunos perdeu a oportunidade de desenvolver habilidades voltadas para a escrita.
A professora ainda pretende organizar um gloss�rio visando o favorecimento do estudo da palavra e da significa��o lingu�stica, sob a �tica da Sem�ntica de Contextos e Cen�rios (SCC) – parte integrante de seu workshop em Harvard.
Mar�lia atua h� mais de 18 anos na educa��o b�sica e leciona, atualmente, as disciplinas de lingu�stica no ensino superior e reda��o para o Enem no ensino m�dio, em Belo Horizonte. “Temos muitos desafios pela frente. Estamos s� no come�o, mas confiantes no processo”, diz.
Veja algumas das palavras surgidas na pandemia
- Covidiotas (aqueles que furam a quarentena e outras medidas de seguran�a e sem reservas. Ou tossem, espirram e cospem para o ch�o, sem complexos)
- Home office (trabalho remoto)
- Cloroquineers (quem acredita na cloroquina)
- Covid�s (conjunto de termos e express�es oriundos da pandemia do covid-19)
- Cloroquinista (defensores da cloroquina)
- Desconfinado (infectado que saiu do per�odo de confinamento)
- Covidiota (covid+idiota)
- Zumping (zoom dumping)
- Alquingel (g�ria para �lcool em gel)
- Confinast� (confinamento namast�)
- Carentena (carente quarentena
- Coronaro (Coronavirus Bolsonaro)
- Covidar (Covid Convidar e/ou Conversar)
- Coronabonds (Coronav�rus Bonds): Usado nos c�rculos econ�micos e pol�ticos, inicialmente designado por eurobonds
Covidiv�rcios (Covid Div�rcios): Inspirado no boom de separa��es ap�s as vicissitudes do confinamento conjugal
- Covid�rios (espa�os onde se centraliza a assist�ncia doentes suspeitos ou portadores
- Quarenteners (quem respeita o isolamento social)
- Coronga (derivado de mocoronga)
- Rom�fice (forma aportuguesada de home office)
- Mascra (g�ria de m�scara)
*Estagi�ria sob a supervis�o de J�der Rezende