
Foi assim que a nova vedete da intelig�ncia artificial, a plataforma ChatGPT, iniciou um texto de seis par�grafos quando a Folha de S.Paulo lhe enviou a seguinte solicita��o: "Escreva um artigo sobre o uso da intelig�ncia artificial para estudantes aprenderem a escrever reda��o".
O artigo ficou pronto em 50,5 segundos. Ainda no primeiro par�grafo, o rob� prosseguiu afirmando que as ferramentas "podem fornecer aos estudantes feedback instant�neo sobre seus ensaios, ajudando-os a identificar erros e a melhorar sua escrita com o tempo".
Se � realmente "emocionante", isso j� � um ju�zo de valor feito pelo rob� do ChatGPT, mas, de fato, como o texto aponta, essa ferramenta come�a a se disseminar na educa��o, e escolas brasileiras, p�blicas e particulares, passaram a adot�-la.Em S�o Paulo, a intelig�ncia artificial para esse fim dever� ser introduzida nas escolas estaduais ainda neste semestre, de acordo com o secret�rio de Educa��o, Renato Feder. "Teremos um programa que apontar� instantaneamente para o aluno erros gramaticais, ortogr�ficos e de pontua��o, al�m de explicar a regra", afirmou o secret�rio � Folha de S.Paulo. Posteriormente, a reda��o deve ser encaminhada ao professor, e a plataforma sistematiza a sua corre��o fazendo ao docente perguntas como "Qual � a ader�ncia do texto ao tema proposto?", "Trabalha com a argumenta��o?", "Usa racioc�nio l�gico?", "Traz uma conclus�o?".
Segundo Feder, a ferramenta ser� desenvolvida pela Secretaria de Educa��o, da mesma forma que o programa implementado nas escolas paranaenses quando ele foi secret�rio do estado. O Reda��o Paran� foi criado no primeiro ano da pandemia e � utilizado por estudantes do 6º ao 9º ano e do ensino m�dio.
O Governo do Esp�rito Santo tamb�m aderiu a essa tecnologia, a partir de parceria com uma startup, a Letrus.
Essa mesma tecnologia j� foi utilizada em escolas p�blicas da Para�ba, do Par�, de S�o Paulo e de Mato Grosso do Sul, por meio de projetos financiados por institutos sociais, e atualmente est� presente em escolas da Funda��o Bradesco e em institui��es voltadas � classe a de S�o Paulo, como a rede Pueri Domus e as escolas do Grupo Bahema, entre as quais a Escola da Vila e a Escola Viva. A Letrus diz ser utilizada por 180 mil estudantes no pa�s -o custo m�dio programa gira em torno de R$ 100 por aluno por ano.
Professor de l�ngua portuguesa e fundador da empresa, Luis Junqueira admite que, por melhor que seja, uma ferramenta de intelig�ncia artificial n�o consegue substituir o olhar humano.
"Mas facilita o trabalho do professor e pode orient�-lo sobre que dificuldades devem ser observadas", diz ele. "Tamb�m � importante o est�mulo que o estudante tem ao receber um feedback r�pido da sua reda��o. No Brasil, a grande maioria dos estudantes n�o consegue ter os seus textos lidos por professores."
A Letrus defende que a ferramenta precisa ser integrada ao curr�culo escolar, com treinamento dos professores, para que saibam utiliz�-la em aula, al�m de monitorar o desenvolvimento de cada aluno por meio de um hist�rico de dados e estat�sticas.
Plataformas com essa proposta, portanto, segundo ele, diferenciam-se de sites e aplicativos que oferecem corre��o de reda��o instant�nea gratuitamente (h� servi�os pagos, como o de escolher um tema livre). Entre elas j� se tornaram conhecidas de professores brasileiros a Glau e a Grammarly.
Al�m de erros gramaticais e ortogr�ficos, as ferramentas se dizem capazes de analisar, em algum grau, a constru��o de frases e a flu�ncia do texto e, tamb�m, de evitar pl�gios, pesquisando outros textos online ou barrando a possibilidade de copiar e colar.
Mestre em lingu�stica aplicada e professor do Instituto Singularidades, que forma professores e gestores da educa��o, Maur�cio Canuto afirma que essas ferramentas podem ser �teis, "desde que consideradas como complementares e sempre utilizadas com a media��o do docente". "A tecnologia pode apontar um erro de pontua��o, por exemplo, e explicar a regra, mas n�o garante que o aluno entender�."
O professor d� aula de portugu�s na rede municipal de S�o Paulo e sugere essas ferramentas aos seus alunos. Ele diz ser preciso cuidado para que a criatividade n�o seja tolhida. "Essas ferramentas utilizam modelos de textos", diz. "Isso pode ir na contram�o do que a BNCC [Base Nacional Comum Curricular] determina, que o aprendizado busque novas linguagens, intera��es e que evite f�rmulas est�ticas."
Pondera��o semelhante faz Adriano Chan, corretor de reda��o de vestibulares e doutorando da Unesp em lingu�stica cognitiva, que lida com os modelos do pensamento algor�tmico. "Na l�ngua, temos os usos que seguem padr�es e os que n�o seguem, e esses casos n�o s�o identificados por essas ferramentas."
Para Chan, que � propriet�rio de um curso de reda��o em S�o Paulo, essas ferramentas "podem ajudar o professor a ser mais eficaz", desde que utilizadas com cautela. "Essas plataformas trabalham com modelos de texto. Procuram as palavras no primeiro par�grafo e avaliam como se relacionam com o restante da escrita. Isso n�o funciona para alunos mais criativos, para reda��es mais sofisticadas."
A pondera��o entre aspectos positivos e negativos, ali�s, n�o est� presente no texto do ChatGPT feito a pedido da Folha de S.Paulo, que s� apontou vantagens do uso da intelig�ncia artificial. A conclus�o do rob� � que o uso "emocionante" da ferramenta pode transformar alunos em "escritores competentes".