
Como compara��o, no mesmo per�odo, as matr�culas em todo o ensino superior brasileiro apresentaram um aumento de 41%, somando cursos presenciais e a dist�ncia. Se consideradas as matr�culas no ensino superior presencial, houve uma queda nesse mesmo per�odo no pa�s, em torno de 3%.
Na Fuvest, o vestibular mais concorrido do pa�s, que seleciona candidatos para a USP, a carreira em psicologia tornou-se a segunda mais disputada, perdendo apenas para medicina. A concorr�ncia deste ano para o curso de psicologia do campus de S�o Paulo foi de 70,6 candidatos por vaga.
A carreira de medicina teve uma rela��o candidato/vaga de 118 na capital; a do campus Ribeir�o Preto foi de 95,9, e a de Bauru, 78,3. Em Ribeir�o, a USP tamb�m oferece gradua��o em psicologia, e a disputa � alta, com 44,8 candidatos por vaga.
Para se ter uma ideia do crescimento nos �ltimos anos, em 2010, a concorr�ncia por psicologia na USP era de 25,7 candidatos por vaga em S�o Paulo e de 16,4 em Ribeir�o."� uma procura surpreendente, bem diferente da minha gera��o", afirma � Folha Ana Maria Loffredo, diretora do Instituto de Psicologia da USP, onde se graduou em 1971 e fez o doutorado em 1992. "O curso de psicologia passou a ocupar um espa�o de proemin�ncia, adquiriu uma notoriedade que n�o tinha antes", avalia.
Ela conta que os concursos para professores na psicologia da USP tamb�m passaram a ter uma disputa acirrada, entre 25 e 30 candidatos por uma vaga. Para a docente, a explos�o dessa carreira tem a ver "com uma demanda muito aguda e diversificada dos sofrimentos ps�quicos da sociedade contempor�nea".
"Diante de todas as quest�es ligadas � sa�de mental, a forma��o em psicologia passou a ocupar um lugar simb�lico que outros profissionais da sa�de n�o conseguem preencher", afirma.
Na Unesp, a concorr�ncia tamb�m � alta. Dentre as op��es em psicologia, a mais concorrida � a do curso integral de Bauru, com 49,2 candidatos por vaga em 2023 (h� tamb�m psicologia no campus de Assis). A concorr�ncia tem sido desse patamar para cima nos �ltimos anos, e em 2020 chegou a 60,5 candidatos por vaga.
Fl�via da Silva Ferreira Asbahr, coordenadora do curso de psicologia da Unesp Bauru, diz que a alta procura por psicologia, tanto nas universidades p�blicas quanto nas particulares, tem sido comentada no meio acad�mico. Segundo a docente, essa expans�o se reflete em uma diversifica��o dos campos de atua��o profissional.
"Na d�cada de 1990, quando eu fiz a gradua��o, s� se pensava no atendimento em cl�nica", lembra. "Hoje os profissionais est�o abertos a novas possibilidades, por exemplo, a psicologia escolar, do esporte, do atendimento a emerg�ncias, como trag�dias ambientais ou a pr�pria pandemia", explica ela, que se graduou na Unesp em 1999 e fez mestrado e doutorado na USP.
Asbahr aponta um enriquecimento do debate sobre a carreira nas universidades trazido pelas cotas para estudantes de escola p�blica e pretos, pardos e ind�genas. "Essa maior diversidade de alunos trouxe uma viv�ncia das desigualdades sociais do pa�s que tem pautado as discuss�es sobre a profiss�o", afirma.
"Isso fortaleceu uma reflex�o sobre como a psicologia pode atuar em temas como o racismo, o machismo e as quest�es de g�nero. Discute-se muito a inser��o da psicologia em pol�ticas p�blicas, para que o atendimento psicol�gico seja acess�vel."
A forma como a sa�de mental passou a ser vista pela sociedade tamb�m explica a alta demanda pela carreira de psic�logo, na avalia��o de Andr�ia Schmidt, presidente da Sociedade Brasileira de Psicologia e professora do curso de psicologia na USP de Ribeir�o Preto.
"Antes, os problemas de sa�de mental eram tidos como quest�es individuais, uma fraqueza ou at� falta de vontade das pessoas", afirma. "Agora existe uma outra compreens�o, a de que a sa�de mental � uma quest�o social tamb�m e � fundamental para que se viva bem."
Schmidt pondera que a alta da procura pela gradua��o em psicologia tamb�m � um desafio para os novos profissionais. "O Brasil tem atualmente mais de 430 mil psic�logos, � um n�mero assustador, que torna a carreira muito concorrida", diz.
"Os profissionais devem ampliar o raio de a��o, investindo em campos menos explorados", sugere. Como exemplo, ela cita o aumento da expectativa de vida e o fato de ser comum hoje um idoso ser cuidado por algu�m da fam�lia. "� uma sobrecarga n�o s� f�sica, como emocional. Cuidar desse cuidador � uma necessidade", defende.
A pr�pria tens�o pol�tica do pa�s, com familiares rompendo rela��es por diferen�as ideol�gicas, � tamb�m uma nova possibilidade de atua��o. "Pode-se formar grupos de apoio, inclusive online, com parcerias com o terceiro setor, por exemplo. Os profissionais t�m que estar dispostos a sair das cl�nicas."
Gabriela Coelho, 18, � uma das aprovadas deste ano para a psicologia da USP e diz estar "muito feliz com o fato de a psicologia agora ser valorizada e estar se abrindo a diferentes �reas". Sua primeira tentativa de passar na universidade foi em 2021, quando se formou na Escola M�bile, em S�o Paulo. N�o conseguiu a vaga por pouco e, no ano passado, fez cursinho Poliedro e contratou quatro professores particulares.
Ansiosa para come�ar o curso, ela diz que tem interesse pelo mundo corporativo. "As empresas perceberam que faz toda a diferen�a ter apoio psicol�gico para os funcion�rios. A profiss�o est� sendo reconhecida, depois de sofrer tanto preconceito", comemora.