
J� o tema da Reda��o deste ano foi "Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso � cidadania no Brasil". O Enem 2021 foi marcado por pol�micas envolvendo tentativa de controle sobre o conte�do da prova e crise com os servidores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), respons�vel pelo exame.
O professor de Hist�ria Jo�o Daniel Lima de Almeida, do Descomplica, disse que ficou surpreso com a qualidade da prova, que tinha quest�es "muito progressistas". "Censura passou longe", afirmou, se referindo �s den�ncias de interfer�ncia do governo na prova.
Ele menciona como exemplo a quest�o que tinha um texto de Friedrich Engels, que falava sobre a luta de classes entre o operariado e a classe m�dia.
Para ele, a quest�o que usou a m�sica Admir�vel Gado Novo, de Z� Ramalho, apesar de ter sido escrita durante a ditadura militar, falava sobre uma situa��o que poderia acontecer em qualquer �poca. "Era sobre a passividade do povo, uma met�fora provavelmente dos tempos atuais."
Na quest�o sobre Engels, havia um texto que falava que n�o se podia confiar na classe m�dia porque ela dizia ser a favor da igualdade e n�o era. A resposta certa era para o aluno indicar a luta de classes.
A prova de ingl�s falava da situa��o das mulheres negras nos Estados Unidos, usando trechos do livro da ex-primeira-dama norte-americana Michelle Obama. Al�m disso, outra quest�o discutia g�nero, ao perguntar sobre as mulheres cientistas no s�culo 19 que s� podiam catalogar animais e plantas em viagens com seus maridos.
Duas quest�es tratavam de escravid�o, uma sobre um escravo fugitivo e outra sobre os escravos chamados "tigres", que levavam os fezes dos senhores quando n�o havia esgoto. A resposta correta, segundo o professor do Descomplica, era que esse trabalho reafirmava a hierarquia social.
Uma quest�o de interpreta��o de texto trazia a m�sica Sinh�, de Chico Buarque, que conta a hist�ria de um escravo castigado por ter visto a sinh� nua.
Quest�es sobre tem�tica ind�gena tamb�m apareceram na prova, como a que falava sobre os jesu�tas terem aprendido medicina com ind�genas no Brasil. "N�o � a cara que o governo queria. Claramente, a prova usa o que se tem no Banco Nacional de Itens (BNI) e mant�m o padr�o, estilo e formato dos anos anteriores", diz Gilberto Alvarez, do Cursinho da Poli.
Itens sobre refugiados e minorias tamb�m apareceram, mas sem causar pol�mica. "N�o � que os temas sumiram. Eles apareceram de outra forma, como se tangenciassem (os assuntos)." J� quest�es sobre a Amaz�nia, por exemplo, n�o foram vistos na prova deste domingo.
Para Alvarez, a complexidade da prova foi de m�dia a baixa. "Foi uma prova em que muitas quest�es v�o pela interpreta��o de textos e figuras."
Em rela��o ao tema da Reda��o, parte dos candidatos relatou dificuldades. "Achei um tema at�pico, mas muito importante que precisa ser discutido. � necess�rio conscientizar as pessoas de como s�o consideradas invis�veis diante da falta de registros", disse Rodrigo Conte, de 17 anos, que pretende cursar Engenharia.