Jovem que cumpre medida socioeducativa no DF � convocado pelo Sisu

Os olhos verdes do garoto de 19 anos ficaram t�midos com a situa��o inesperada. As m�os, que se apertavam, uniram-se ao sorriso de orgulho que aparecia no rosto do jovem. Jo�o* foi o �nico interno de institui��es socioeducativas em sistema fechado do Distrito Federal convocado em primeira chamada no Sistema de Sele��o Unificada (Sisu). Ele conseguiu m�dia de 410 pontos no Exame Nacional do Ensino M�dio (Enem) e poder� fazer o curso de tecn�logo em agropecu�ria em uma institui��o p�blica do DF pelo Sisu e ainda poder� ingressar numa faculdade particular de contabilidade com essa nota. “Quando soube da prova pensei: vou tentar, se eu conseguir, vou poder melhorar minha vida”, relembra.

Incentivado pela m�e, pelo irm�o e por professores, que o acompanham h� mais de um ano na Unidade de Interna��o de Planaltina (UIP), o jovem viu na realiza��o da prova a possibilidade de transformar a realidade em que est� inserido. Do lado de fora da unidade, o irm�o dele est� se formando no mesmo curso e tem planos de abrir a pr�pria empresa. Jo�o j� foi convocado ao trabalho e � transforma��o. “Minha fam�lia quer me ver de outro jeito. Vou me formar e sair daqui para ajudar meu irm�o”, garante.

Em todo o DF, seis jovens infratores, incluindo Jo�o, foram aprovados no Enem. Na Unidade de Interna��o do Recanto das Emas (Unire), quatro dos 18 que fizeram a prova conseguiram a aprova��o. Desses, apenas dois poder�o se inscrever no Programa Universidade para Todos (Prouni), al�m de ainda haver a possibilidade de serem convocados na segunda chamada do Sisu. Na Unidade de Interna��o do Plano Piloto (UIPP, antigo Caje), os adolescentes que fizeram o Enem n�o conseguiram m�dia para ingressar na faculdade pelo Sisu, entretanto, um deles foi aprovado no Exame e 26 obtiveram certifica��o de n�vel m�dio em raz�o das notas alcan�adas.

Outros 44 participantes vieram da UIP, destes, apenas Jo�o foi aprovado. Gabriela Rodrigues, chefe da unidade educativa do local, ressalta que, embora a maioria dos adolescentes n�o tenha atingido pontua��o necess�ria para a aprova��o, grande parte deles conseguiu boas m�dias na maior parte das disciplinas. “O resultado n�o foi ruim. Eles conseguiram m�dias entre 380 e 400. Alguns tiraram at� notas maiores, mas, infelizmente, n�o conseguiram o certificado do ensino m�dio”, destaca. Para conseguir a certifica��o, a m�dia em todas as disciplinas da prova deve ser, no m�nimo, 450. Ainda assim, Gabriela enfatiza que a possibilidade de fazer a prova trouxe reconhecimento e valor a jovens como Jo�o. “A aprova��o foi algo maravilhoso. Foi a efetiva��o do direito a educa��o que ele possui. Um modo de inser��o na sociedade que traz muitas esperan�as.”

Exemplo

De segunda a sexta-feira h� aulas na Unidade de Interna��o de Planaltina. Os professores s�o cedidos pela Secretaria de Educa��o do DF (SEDF). “Tudo acontece normalmente. H� cobran�a como em todos os lugares. As condi��es de ensino s�o dif�ceis, muitos se dedicam mais que outros, mas estudar � a maneira que os jovens t�m de ter novas oportunidades”, explica a coordenadora da unidade educativa da UIP C�ntia Matos.

Al�m de ter frequentado as aulas da 3ª s�rie do ensino m�dio no ano passado, Jo�o era estagi�rio da �rea de inform�tica dentro da UIP. Considerado bom aluno, Gabriela garante que ele tem bom comportamento e vontade de mudar de vida. “Sei que ele vai se sair muito bem. Ele se tornou um exemplo para os outros que n�o conseguiram. Uma refer�ncia.”

Os familiares de Jo�o agora correm atr�s da autoriza��o judicial para que ele possa sair diariamente da unidade de interna��o para estagiar e fazer a faculdade. Todos os dias, at� o fim da pena, que se encerra em maio deste ano, ele precisar� retornar � UIP para prosseguir com as medidas socioeducativas. “Eu esperava passar, porque me esforcei”, afirma Jo�o. “Quando estava do lado de fora nunca tinha sonhado em fazer faculdade. Nem queria saber fazer uma, mas agora meu desejo � poder terminar o curso, voltar para casa, trabalhar e ser algu�m.”

*Nome fict�cio em respeito ao Estatuto da Crian�a e do Adolescente (ECA)