Patricia Giudice

Se estudar em Ouro Preto, na Regi�o Central de Minas Gerais, j� foi sin�nimo de badala��o, consumo de �lcool e muita liberdade, alguns alunos mostraram que na cidade universit�ria tamb�m h� muito trabalho. Na semana da tradicional Festa do Doze de Outubro, alunos rec�m-formados em direito receberam uma not�cia que caiu como uma responsabilidade para os demais colegas que ainda est�o por l�. A turma que concluiu a gradua��o no fim do ano passado conquistou a nota m�xima no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) e teve a melhor pontua��o em Minas na classifica��o geral que considera todos os cursos avaliados, segundo o Minist�rio da Educa��o (MEC). Diferente da nota 5 do ano passado, no Enade 2009 o direito da Ufop teve nota 4 no conceito e 3,91 na prova.
O segredo, al�m de muita dedica��o, � atribu�do a uma renova��o do corpo docente, h� cerca de quatro anos, e � jun��o das turmas em um �nico pr�dio, constru�do recentemente. “� um conjunto de fatores estruturais e humanos, mas acredito mais no investimento humano”, disse o presidente do Colegiado de Curso, professor Bruno Camilloto Arantes. A partir do programa Reestrutura��o e Expans�o das Universidades Federais (Reuni), a Ufop fez um concurso p�blico e parte do corpo docente foi substitu�do.
Mesmo com mais tempo de carreira, os decanos, vendo uma turma de professores mais novos chegar e decidir movimentar o curso, resolveram tamb�m se especializar mais. Um deles, por exemplo, est� fazendo doutorado em busca desse incremento no curr�culo e na carreira.
DESEMPENHO A trajet�ria do curso, hoje com 500 alunos, mostra uma constante busca pela adequa��o, principalmente f�sica. O registro para in�cio do direito da Ufop foi feito h� exatos 20 anos e em fevereiro de 1994 os primeiros 40 alunos come�aram a estudar. A turma foi montada numa escola p�blica de Mariana, cidade hist�rica vizinha. Logo depois seguiu para o c�mpus do Instituto de Ci�ncias Humanas e Sociais (ICHS), ainda em Mariana. Tamb�m ocupou um pr�dio da prefeitura e s� em 1997 migrou para Ouro Preto, onde usou salas da Faculdade de Minas. Tr�s anos depois, foi para um puxadinho constru�do no Morro do Cruzeiro, onde est�o v�rios cursos da universidade.
Era apenas uma sala e os alunos ainda estavam descentralizados. O anexo aumentou e abrigou o curso at� 2008, quando finalmente ele ganhou um pr�dio constru�do para ele. H� cerca de um ano, novas salas ainda foram constru�das e a expectativa agora � que seja feito um audit�rio e uma sala para a biblioteca, para que ela seja desmembrada da Faculdade de Minas, onde ainda est�o os livros jur�dicos. Para Bruno Camilloto, essa estrutura f�sica tamb�m faz diferen�a no desempenho dos alunos. Al�m disso, cita que houve um incremento na pesquisa e extens�o, com mais livros para a biblioteca, entre outros fatores.
PROVA Por causa da greve do ano passado, o ano letivo de 2012 ficou fora do calend�rio previsto, o que afetou a escolha dos estudantes que iriam fazer o Enade. O MEC faz um sorteio e entrega para a universidade os nomes de quem vai fazer a prova. Alguns s�o ingressantes e cobrados de conhecimentos gerais. A maioria s�o formandos, que respondem �s quest�es sobre a sua gradua��o e tamb�m do geral. Dos 97 selecionados inicialmente pelo MEC, alguns foram dispensados pelo pr�prio minist�rio e 50 foram avaliados. Segundo ele, o resultado � uma prova de que h� nitidamente um amadurecimento por parte desses alunos ao longo do curso. Se no in�cio morar longe dos pais, uma realidade para a maioria, � sin�nimo de festas, no decorrer da gradua��o a realidade muda e os alunos ficam mais dedicados.

Diploma de direito mais valorizado
Na sala de aula do segundo per�odo do curso de direito da Ufop, alunos novos, rec�m-chegados � cidade, j� batalharam vaga, usaram placas de calouros e, enfim, conquistaram seus espa�os. Nada de meninos de terno ou meninas de salto alto como se v� nos tribunais. S�o jovens de t�nis, alguns ainda com espinhas no rosto, resqu�cio da adolesc�ncia, que agora carregam os livros jur�dicos com mais for�a. Pesou a responsabilidade em manter a nota obtida no Enade 2012 pela turma que se formou. Vieram de fora para estudar numa institui��o p�blica de ensino superior e morar em rep�blicas cheias de festas e tenta��es da juventude, mas j� viram que nem tudo � badala��o e que precisar�o dispor de dedica��o extra nos estudos.
Liz do Carmo Magesti tem 18 anos. Saiu de Ub�, na Zona da Mata, onde morava com os pais, para cursar direito na Ufop. O deslumbramento com a nova condi��o, a de universit�ria em Ouro Preto, passou. Ainda no primeiro semestre, quando caloura, viu o quanto o curso demandava dedica��o e entendeu o recado vindo da universidade. Agora, o objetivo � manter a qualidade do curso mostrada no Enade. “N�o foi � toa que meus pais me delegaram essa autonomia de morar sozinha t�o nova. Ingressei numa universidade p�blica e agora terei um diploma de qualidade”, disse.
SEM MEDO O colega de sala Lucas Ramos de Oliveira, de 19, saiu de BH para ir morar na cidade hist�rica. Sua rea��o quando soube da nota do Enade n�o foi de medo de manter a nota, mas orgulho da conquista. “Nos sentimos seguros pela escolha. Acho que � um incentivo para continuar mantendo o n�vel alto”, afirmou. J� Maria Alice de Figueiredo, de 18, natural de Itabira, na Regi�o Central, acha que a nota foi um reflexo de que o curso demanda estudo. “Entrar num curso superior, por mais que voc� pesquise, � um tiro no escuro. A nota mostrou o n�vel do curso que estamos fazendo.”
Gabriela de Morais, de 24, est� na reta final, no s�timo per�odo – o curso de direito tem 10 per�odos – com previs�o de formatura em 2015. Tem chances de ser escolhida pelo MEC para fazer o pr�ximo Enade que vai avaliar as ci�ncias humanas novamente. “D� um medo, a gente quer manter o n�vel alto. � uma responsabilidade muito grande e reflete um trabalho em equipe”, disse.