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Estado de Minas

Falta de estrutura nas escolas afasta o sonho de cursar uma universidade federal


postado em 20/01/2014 06:00 / atualizado em 20/01/2014 07:07

Daniela Garcia

Bras�lia – Criado para democratizar as oportunidades de acesso �s vagas em universidades p�blicas federais, o Exame Nacional do Ensino M�dio (Enem) ainda � uma realidade mais presente na vida dos estudantes das escolas privadas do que aqueles que concluem o ensino m�dio em uma institui��o p�blica. Levantamento feito pelo Instituto �quila, a pedido do Estado de Minas, sobre os dados do Censo Escolar e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), mostra que, enquanto 10% de alunos concluintes do ensino m�dio de escolas particulares deixaram de fazer a prova em 2012, o �ndice chega a 42% na rede p�blica.

Amanda Pereira dos Santos, de 18 anos, � uma entre esses estudantes que deixaram de fazer a prova em 2013, quando estava cursando o 3º ano do ensino m�dio em uma escola p�blica. Ela teve a chance de fazer a prova com a inscri��o gratuita, mas o teste pareceu imposs�vel para a garota, que deseja cursar enfermagem. “N�o fiz a inscri��o, porque acho que nunca iria passar para uma universidade p�blica”, afirma.

A falta de confian�a de Amanda n�o tem a ver com baixa autoestima ou a falta de incentivo em casa, afirma a doutora em educa��o pela Universidade de S�o Paulo (USP) Paula Nascimento da Silva. “Essa autoexclus�o do Enem est� muito mais ligada � quest�o de estrutura da escola, que faz com que eles se sintam incapazes de fazer a prova.” Ao longo dos �ltimos quatro anos, os alunos concluintes do ensino m�dio v�m aumentando a ades�o ao Enem, segundo dados do Inep, o que n�o garante a universalidade sonhada pelo Minist�rio da Educa��o (MEC).

Paula � autora de uma tese de doutorado, defendida em 2013, que discute as barreiras ideol�gicas que atrapalham o acesso de alunos de ensino p�blico �s universidades estaduais e federais. Por seis meses, em 2010, ela acompanhou de perto o cotidiano de alunos do 3º ano de uma escola estadual paulista. A institui��o escolhida como objeto de trabalho contava com uma boa m�dia no Enem. “O poder p�blico tem desenvolvido diversas pol�ticas na tentativa de aumentar o n�mero de estudantes das universidades federais vindos das escolas p�blicas, tal como a isen��o de taxas de vestibulares, os sistemas de cotas, de b�nus, entre outros. Entretanto, verifica-se que essas iniciativas n�o resultaram em uma mudan�a no perfil de alunos que buscam a universidade p�blica: permanece uma maioria de estudantes autodeclarados brancos, com renda familiar acima da m�dia e egressos das escolas privadas”, diz.

Segundo a pesquisadora, o senso comum de que, no Brasil, as escolas privadas s�o melhores do que as escolas p�blicas afastaria os alunos mais pobres da competi��o. “A autoestima � uma valoriza��o que o sujeito faz do que ele �, constru�da nas rela��es que mant�m com o mundo. Jovens que vivenciam situa��es de n�o aprendizagem no contexto escolar precisam de condi��es de vida e de forma��o que permitam n�o se sentirem inferiores”, analisa.

Inseguran�a

A pesquisa de Paula Nascimento detectou, por exemplo, que a falta de confian�a dos jovens estava ligada � aus�ncia di�ria de professores na sala de aula. “Eles ficaram seis meses sem ter aula de portugu�s”, lembra Paula. Para ela, mesmo com a contrata��o de substitutos, jovens de escolas p�blicas, no geral, vivem um “cotidiano inst�vel” com os mestres, o que n�o ocorre nas escolas privadas. � o que relata o rec�m-formado no ensino m�dio Alef Ara�jo, de 19. “No 1º ano, a gente ficou sem professor de f�sica o ano todo”, afirma. Ele diz ter consci�ncia de que n�o aprendeu o conte�do suficiente e abriu m�o da inscri��o gratuita do Enem em 2013.

Paula Nascimento tamb�m constatou uma baixa aplica��o de provas na rotina dos alunos. “No geral, os alunos da escola p�blica s� enfrentam um exame importante em poucas situa��es, o que pode acentuar o medo em rela��o ao vestibular”, pontua. Aluna do 3º ano, Tain� Benjamim, de 18, confirma a tese. Ela explica que, no ano passado, a escola teve de se adaptar ao novo sistema de avalia��o semestral, em vez de aplicar exames a cada dois meses. “Fiz a primeira prova s� em julho”, lembra ela, que tamb�m n�o participou do Enem.

A explica��o para a lenta prepara��o dos vestibulandos tem uma raz�o matem�tica. Segundo a doutora, um professor da rede p�blica de S�o Paulo, que cumpre 40 horas semanais, chega a assessorar cerca de 1.000 alunos. “Como os professores podem dar conta de corrigir tantos exames e ainda exigir que os alunos respondam a quest�es dissertativas?”, destaca.

Procurada pela reportagem, a assessoria de comunica��o do Minist�rio da Educa��o informou que o secret�rio de Educa��o B�sica, Romeu Weliton Caputo, estava em viagem e s� ele estava autorizado a dar entrevistas. Sobre os dados, a pasta informou que “cerca de 90% dos concluintes dessa etapa de ensino estavam inscritos na �ltima edi��o do Enem ”, sem especificar quantos eram da rede p�blica e da privada.

Paternalismo prejudicial

A pesquisa da USP tamb�m aponta que a participa��o em atividades como palestras ou feira de ci�ncias vira uma “moeda de troca” por notas. Na turma de 3º ano da estudante Thays Lyege Santos, de 18 anos, quem fazia parte de ensaios da festa junina ganhava tr�s pontos em todas as mat�rias. A jovem conta que o bom comportamento na sala de aula tamb�m podia valer um acr�scimo. “A escola parecia utilizar desses artif�cios para retirar o peso ‘traum�tico’ revelando certo paternalismo em rela��o aos alunos, isentado-os de responsabilidade de seus atos”, destaca a tese de Paula Nascimento.

A especialista em educa��o tamb�m percebeu que o desinteresse pelo Enem se d� pela ideia de que, na universidade p�blica, s� entra quem estudou em escola privada, o que os leva a fazer as provas sem comprometimento com os resultados. Thays participou dos dois dias de exames, conferiu as notas, mas se esqueceu de fazer a matr�cula no Sistema de Sele��o Unificada (Sisu), que oferece vagas em institui��es p�blicas de ensino superior com reserva para estudantes do ensino p�blico e pelo sistema de cotas.

Proposta de exame em tr�s etapas
A C�mara analisa o projeto de lei que prev� a realiza��o do Exame Nacional do Ensino M�dio em tr�s etapas, uma avalia��o ao final de cada ano do antigo 2º grau. Pelo texto, do deputado Izalci (PSDB-DF), as duas primeiras provas dever�o aferir o conte�do apreendido pelo aluno. J� o �ltimo teste ser� de aptid�o vocacional. As informa��es s�o da Ag�ncia C�mara Not�cias. De acordo com Izalci, a avalia��o seriada permitir� que o desempenho do estudante seja gradativamente testado e as oportunidades de progresso decorrentes do exame, aproveitadas de maneira efetiva ainda ao longo do processo de escolariza��o.

A proposta, que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educa��o Nacional, tamb�m prev� que o ensino m�dio ter�, pelo menos, 3 mil horas de aulas, ao longo de, no m�nimo, tr�s anos. Segundo Izalci, dessa forma, ser� poss�vel tornar como regra geral a jornada escolar di�ria de cinco horas. Essa dura��o, na opini�o do deputado, "� indispens�vel para o desenvolvimento adequado das propostas pedag�gicas dessa etapa escolar".

O texto ainda muda a maneira como as escolas dever�o ofertar sociologia e filosofia, que hoje s�o disciplinas obrigat�rias ao longo dos tr�s anos do ensino m�dio. Pelo projeto, seus conte�dos poder�o ser dilu�dos em outras mat�rias do curr�culo. A proposta, que tramita em car�ter conclusivo, ser� analisada pela comiss�o de Educa��o; e pela comiss�o de Constitui��o e Justi�a e de Cidadania.


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