
O jovem Henrique Bastos de Castro Soares nunca foi do tipo “caxias”, desses que vivem agarrados aos livros, perdem noites de sono para resolver um problema de matem�tica ou sacrificam o fim de semana para dar conta dos exerc�cios de portugu�s. “Jamais fui escravo dos estudos”, brinca o belo-horizontino de 19 anos, que, para surpresa dele mesmo, tirou nota mil na prova de reda��o do Exame Nacional do Ensino M�dio (Enem), cujo tema foi “A persist�ncia da viol�ncia contra a mulher na sociedade brasileira”. Morador do Bairro Padre Eust�quio, na Regi�o Noroeste da capital, Henrique comemorou ontem o resultado ao lado de amigos do pr�dio onde mora, e revela o segredo do sucesso: durante todo o ano passado, frequentou assiduamente um curso espec�fico de reda��o. “Foi o essencial”, garante.
No in�cio da tarde, os amigos o carregaram no colo e, numa brincadeira t�pica de adolescentes, jogaram dois ovos na cabe�a do rapaz. Ele ficou meio sem jeito e acabou entrando na farra. Depois, compenetrado, reiterou o objetivo inabal�vel de estudar medicina e se tornar cardiologista, embora ressaltando que a boa nota na reda��o ainda n�o significa sinal verde para a universidade. “Preciso esperar o resultado final para saber”, observou o jovem inclu�do no seleto grupo dos 104 candidatos brasileiros com nota mil, num universo de 5,8 milh�es de pessoas.
Exibindo um sorriso franco que faz os olhos verdes brilharem, Henrique confessa as limita��es em l�ngua portuguesa, especialmente reda��o, e reconhece que os textos escritos por ele n�o tinham nexo. “N�o havia conjun��o entre as frases, era tudo muito solto, ruim mesmo”, assume. Diante da necessidade urgente de melhorar nesse quesito, o filho �nico conversou com os pais, um comerciante e uma funcion�ria p�blica, e se matriculou no curso da professora de portugu�s C�ntia Chagas.
Ciente da completa falta de voca��o para os textos, Henrique decidiu que investiria na t�cnica para superar as dificuldades. “Gra�as � professora C�ntia, fui conseguindo superar as limita��es”, explica o estudante, que, depois de concluir o ensino m�dio em 2013, fez cursinho pr�-vestibular em 2014 e 2015, conjugando o �ltimo com o de reda��o. “Nos dois �ltimos anos, estudei muito, mas n�o deixei de jogar bola uma vez por semana”.
Na “salinha”, como ela chama o espa�o do curso de reda��o, ele relata algumas qualidades, como poucos estudantes. “O mais importante � aprender com os pr�prios erros e saber organizar as ideias. Se eu escrevia um texto, a professora, com calma e paci�ncia, corrigia ali do meu lado, orientava, e em seguida eu escrevia outra reda��o com o mesmo tema, em vez de simplesmente abandon�-lo e passar para outro. Aprendi a fundamentar os textos, a apresentar argumentos, o que foi fundamental”, diz Henrique.
A quest�o da mulher na atualidade j� havia sido discutida na “salinha” e virou tema de uma reda��o, por sugest�o de uma das alunas. Ao come�ar a reda��o do Enem, o jovem conta que come�ou a escrever sobre a situa��o da mulher ao longo dos anos, e, ao se dar conta da confus�o, apagou os escritos e come�ou do zero. “Aprendi a usar o ali�s, o al�m e outras palavras. Ali�s, como eu refazia os textos no curso de reda��o, n�o foi complicado recome�ar”, afirma.
Comemora��o Os amigos v�o chegando de novo para o abra�o e Henrique recebe os elogios. “Legal, vou aprender com ele”, avisa Matheus Nascimento, de 16, enquanto que, para Carolyna Loures, de 14, o resultado surpreendeu. Luiza Vasconcelos, de 15, emendou “muito bom” com “fofinho”, e Thiago Silva, de 17, que tamb�m fez a prova, considerou “muito dif�cil” tirar nota mil em reda��o.
Depois da conquista, � hora de divertir como qualquer jovem de 19 anos. Sem namorada, Henrique diz que est� aproveitando “um tiquinho”, j� passou uns dias em Cabo Frio (RJ) e viajar� de novo. “Sem o apoio dos meus pais, seria muito dif�cil tudo isso.” As aulas de portugu�s tornaram o jovem mais cr�tico e mais atento ao notici�rio. “Antes assistia a um telejornal e me dava por satisfeito. Agora vejo v�rios. E estou tentando ler livros, pois nunca fui de ler romances e outros tipos”, diz o garot�o, que, se n�o conseguir ingressar agora na universidade, vai fazer de novo o curso de reda��o.
Enquanto isso...
Medicina lidera nota de corte
Levantamento do Estado de Minas mostra quais s�o as notas de corte dos cursos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). As notas consideram os candidatos que concorrem na modalidade concorr�ncia ampla, ou seja sem levar em conta as notas para 50% dos cursos reservados a diferentes tipos de cotas.
At� ontem, pois a nota indicada pelo Sistema de Sele��o Unificada (Sisu) ainda n�o � definitiva, a maior nota exigida � para quem quer estudar medicina, seguido por engenharia aeroespacial e engenharia qu�mica. Os tr�s que exigem as notas mais baixas s�o biblioteconomia, arquivologia e aquacultura. O prazo para quem fez o Exame Nacional do Ensino M�dio se inscrever no Sisu termina �s 23h59 de hoje.