
Neste ano, primeiro em que a reserva de vagas foi aplicada na totalidade – 50% das vagas, conforme prev� a Lei das Cotas aprovada em agosto de 2012 –, os cotistas enfrentaram maior concorr�ncia entre eles. “Os cotistas entram na UFMG mais bem preparados que os n�o cotistas de poucos anos atr�s”, afirma o pr�-reitor de Gradua��o, Ricardo Takahashi. Em 2013, a reserva de cotas era de apenas 12,5% do total de vagas.
Das 6.279 vagas, 3.142 foram destinadas �s cotas de escola p�blica, levando em conta reserva para negros e ind�genas. Uma delas foi conquistada pela estudante Talita Barreto, de 20 anos. “Todo ano a nota de corte muda e tivemos muito mais inscri��es para o Enem. Quando vi minha nota fiquei com medo de n�o passar, principalmente em engenharia, que � um curso muito concorrido.” A a��o afirmativa foi fundamental para que a jovem, filha da diarista Helena Barreto, se tornasse a primeira em sua fam�lia a ser aprovada para o ensino superior numa universidade federal. “Era um sonho fazer faculdade. Minha m�e sempre insistiu para que eu e meus irm�os estud�ssemos. As cotas nos possibilitam acesso a algo que � nosso”, afirmou. A jovem tamb�m foi aprovada, por meio das cotas, para m�sica na Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg).

Nesta edi��o, as diferen�as entre notas de corte para cotistas e n�o cotistas variam entre 4,8% (menor diferen�a, observada no curso de biblioteconomia) e 11,4% (maior diferen�a, no curso de hist�ria). A diferen�a m�dia foi de 8,2%. “Por defini��o, as notas de corte dos cotistas devem ser menores que as da ampla concorr�ncia. Do contr�rio, as cotas n�o teriam nenhum efeito”, diz Takahashi. Em 2014, por�m, a nota de corte de cotistas no curso de hist�ria foi maior do que os n�o cotistas. Naquele ano, a diferen�a m�dia foi de 6,9%.
A expectativa do pr�-reitor � que a implanta��o das cotas em sua totalidade possa recuperar a propor��o de estudantes de baixa renda vinculados � UFMG at� 2013. Naquele ano, 49% de estudantes eram provenientes de fam�lias com renda de at� cinco sal�rios-m�nimos. Essa propor��o caiu depois da ado��o do Sisu para 42%, em 2014, e para 46%, em 2015.
DESEMPENHO Com a amplia��o do percentual de vagas destinadas �s cotas, um dos fatores esperado por Takahashi � que o ingresso de estudantes de escolas municipais e estaduais seja ampliado. Nos primeiros anos das cotas, havia um dom�nio de estudantes vindos de escolas federais – essas institui��es ocupam os primeiros lugares no ranking do Exame Nacional do Ensino M�dio (Enem) 2015. “� prov�vel que aumente um pouco a propor��o de estudantes de escolas estaduais e municipais em rela��o aos estudantes egressos de escolas federais de ensino m�dio”, afirmou. Essa previs�o s� poder� ser confirmada depois que os alunos efetivarem a matr�cula.
Os dados da universidade t�m demonstrado que n�o h� diferen�a no desempenho de cotistas e n�o cotistas. “No que diz respeito � qualidade, tudo indica que n�o exista nenhuma raz�o para preocupa��o”, disse Takahashi. O pr�-reitor reitera que o aumento da competi��o pelas vagas na maior universidade p�blica do estado, decorrente do Sisu, tamb�m causou um aumento da competi��o entre os cotistas.

Debutantes da fam�lia
Muitos estudantes que entram pelas cotas s�o os primeiros da fam�lia a ingressar no ensino superior. � o caso da estudante L�via Teodoro, de 24 anos, que foi aprovada em hist�ria, com m�dia geral de 667,92. “Obtive 880 pontos na reda��o e acredito que isso tenha me ajudado bastante.” Ela credita o desempenho ao ativismo na internet, onde publicava textos sobre feminismo negro. A jovem escreve para o blog Na Veia da N�ga e � coordenadora-geral do Clube de Blogueiras Negras de Belo Horizonte.
L�via cursou todo o ensino fundamental e m�dio em escola p�blica. “Tive a oportunidade de conhecer professores que me instigaram muito e fizerem despertar esse lado apaixonado por estudar, entretanto, n�o basta querer para conseguir absorver conhecimento dentro de uma escola p�blica.N�o � nada f�cil se concentrar numa sala com 40 alunos e goteiras em dias de chuva. Este era o retrato de muitos dos meus anos escolares.”
Por um tempo a universidade era algo distante para a jovem, que teve que abandonar temporariamente o ensino m�dio. “Parei de estudar por conta do trabalho, sa�a muito tarde e n�o tinha o m�nimo foco nos estudos, ap�s um dia inteiro de trabalho.” L�via reconhece que, mesmo gostando muito de estudar, o ensino em escola p�blica n�o a colocava em p� de igualdade com alunos que estudaram na rede particular.
SONHO “A UFMG para mim � um sonho, que n�o acreditava conseguir. Fiquei em primeiro lugar das cotas. Sem as cotas n�o teria sequer tentado e, n�o por n�o acreditar na minha capacidade, mas sim por diversos fatores que nos deixam atr�s daqueles que tem toda uma estrutura privilegiada para assegurar que eles cheguem l�”, afirmou.
L�via ser� a primeira a se formar no ensino superior na fam�lia, tanto do lado paterno quanto materno. “Minha av�, com quem moro, � analfabeta, minha m�e n�o terminou o prim�rio. Ambas mulheres fortes e guerreiras, que, como podem imaginar, est�o deslumbradas em me ver entrar em uma universidade p�blica.”
Lista do ProUni
A lista com os nomes dos candidatos pr�-selecionados a bolsas do Programa Universidade para Todos (ProUni) j� est� dispon�vel na internet. O resultado da primeira chamada pode ser acessado na p�gina do programa (siteprouni.mec.gov.br), pelo 0800-616161 e nas institui��es de ensino participantes. O estudante dever� comparecer at� 1º de fevereiro na institui��o para a qual foi pr�-selecionado e comprovar as informa��es prestadas na ficha de inscri��o. A perda do prazo ou n�o comprova��o das informa��es implicar�, automaticamente, reprova��o do candidato. O programa ofertou 203.602 bolsas para 30.931 cursos.
Palavra de especialista
Rodrigo Ednilson
Coordenador-Geral de Educa��o para as Rela��es Etnicorraciais do Minist�rio da Educa��o
Qualidade do ensino preservada
“A an�lise dos dados permite-nos observar um crescimento progressivo das notas de corte de todos os cursos da UFMG nos �ltimos anos, desde 2013. � poss�vel observar tamb�m que as notas de corte de estudantes cotistas �, invariavelmente, mais baixa do que as notas dos estudantes n�o cotistas; diferen�a que varia mais ou menos, dependendo do curso. A leitura deste dado, todavia, n�o deveria ser feita dissociada dos dados, divulgados pela pr�pria UFMG em 2015, que evidenciam que o desempenho de estudantes cotistas, medido por suas notas, mostrou-se igual ou superior �s notas de estudantes n�o cotistas ao longo do curso. Creio que tal ressalva seja de fundamental import�ncia para que n�o retornemos ao discurso de que o ingresso de estudantes cotistas, com notas de ingresso mais baixas, amea�aria a qualidade das institui��es de ensino superior.”